Enquanto investigadores que trabalham na Operação Bullish alegam que houve crime nas operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o frigorífico JBS – e que eles foram omitidos na delação premiada dos executivos da holding controladora do grupo -, as comissões de apuração interna (CAI) em curso na instituição de fomento mostrarão que ela não é “caixa-preta”. A conclusão foi adiantada por Ricardo Baldin, ex-diretor das Áreas de Controladoria, Gestão de Riscos e Tecnologia da Informação do BNDES.
As apurações internas poderão oferecer subsídios para que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal aprofundem as investigações, disse o ex-diretor ao Estadão. Mesmo assim, não surgiu nada que aponte claramente irregularidades envolvendo o corpo técnico do BNDES. Baldin, terceiro diretor do BNDES a pedir demissão após a saída de Maria Silvia Bastos Marques, informou que a CAI sobre a Odebrecht está mais adiantada do que a sobre a JBS. O executivo acredita ser possível terminar os trabalhos em uma ou duas semanas. Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
Os relatórios das comissões internas sobre Odebrecht e JBS estão para sair?Apesar de não estar (mais) na diretoria, vou assinar (os relatórios) junto. Foi um acordo que eu fiz. (O relatório sobre JBS) está bem adiantado, está bem trabalhado. O pessoal é bastante competente. Está dependendo de uma última revisão minha, que deve acontecer assim que eu estiver no ar (Baldin tirará licença médica esta semana).
Os relatórios trarão revelações novas?Eles não têm nenhuma conclusão bombástica, até porque não temos como ter uma conclusão bombástica. Eles encaminham muita coisa para que a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público (MP) aprofundem determinados assuntos. Dentro disso, eventualmente, pode até ter alguma coisa um pouco diferente daquilo que tem sido anunciado, mas, novamente, é tudo ligado, eventualmente, à (antiga) diretoria, não ao pessoal do corpo técnico.
Podem ajudar investigações já em curso?Não sei se você teve oportunidade de ler o inquérito (da Operação Bullish). Ele quase coloca o dedo na cabeça de duas pessoas, é um absurdo, sem nenhuma prova. Aquilo é um abuso, um exagero. O inquérito usa basicamente informações do Tribunal de Contas da União (TCU). É um absurdo o que fazem essas autoridades constituídas com relação a todo esse processo.
As apurações internas não apontam indícios de desvios?Não. Há muitos elementos que foram levantados que, com técnicas e ferramentas mais apuradas, a polícia terá condições de esclarecer muito mais do que a gente conseguiu. Por mais competência que o pessoal (das comissões de apuração) tenha, não tem ferramenta. Não dá para colocar o dedo e dizer: “foi ele”. Não tem a mínima condição. Se tiver alguém (suspeito), é alguém que foi indicado como diretor, não uma pessoa de dentro do banco ou de carreira. O BNDES pode ter um monte de outros problemas, mas esse não tem.
Então os relatórios não trarão nenhuma grande revelação?Nada e nem poderíamos esperar isso. É uma apuração interna, limitada ao ambiente interno, à documentação interna. Você não consegue ir numa empresa e ver a movimentação bancária dela ou dos sócios. Isso talvez pudesse dar outro entendimento. O BNDES também, por sugestão da comissão interna, contratou consultores externos, para fazer essa investigação, pelo menos a da JBS, de uma forma independente. Isso é que vai chancelar de fato que, lá dentro, não teria absolutamente nada.
Vai prevalecer a posição dos funcionários, de que o corpo técnico não está envolvido irregularidades?Digo com toda a sinceridade. O BNDES tem uma corporação muito fechada. Dentro disso, eles têm seus defeitos, mas esse (corrupção) eles não têm. Trabalharam muito em prol daquilo que é certo, objetivo, nos mandos da Constituição, com uma estratégia de governo. Quando o TCU fala, o MP fala, eles exageram um pouco, porque, na verdade, eles não têm prova. Não existe prova objetiva em lugar nenhum. Eles têm indícios e não é o suficiente para chegar e dizer que uma pessoa fez coisa errada, que houve improbidade administrativa. Essas coisas, de fato, no BNDES, não vão existir, não vão ser constatadas.
Pode ter havido tráfico de influência na cúpula sem participação do corpo técnico?O BNDES nunca foi muito bem estruturado, em termos de processo e sistema. Agora, quando a (ex-presidente) Maria Silvia (Bastos Marques) entrou, a gente fez todo um levantamento e definiu prioridades. Muitas das coisas que a gente deixou de fazer, ou não fez com tanta força, foi muito mais porque a gente estava querendo primeiro arrumar dentro de casa, para poder sair na rua e dizer que agora a gente tem uma lógica que funciona.
Qual a conclusão final após as investigações?Não tem caixa-preta. Isso que é importante. Ninguém ficou escondendo absolutamente nada. Seguiram aquilo que era norma, aquilo que era regra, aquilo que era estratégia de governo.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A oportuna entrevista feita por Vinicius Neder confirma o que já se esperava. As irregularidades em operações do BNDES às empreiteiras e aos “campeões nacionais”, como Joesley e Eike Batista, foram cometidas pela presidência do banco e algumas diretorias. O corpo técnico do BNDES não participou diretamente da pilantragem, mas pecou por omissão, sem denunciar descumprimento das regras, como ocorreu no caso do Porto de Mariel, em Cuba, uma operação sem garantia, cujo avalista foi o governo brasileiro, vejam que disparate. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A oportuna entrevista feita por Vinicius Neder confirma o que já se esperava. As irregularidades em operações do BNDES às empreiteiras e aos “campeões nacionais”, como Joesley e Eike Batista, foram cometidas pela presidência do banco e algumas diretorias. O corpo técnico do BNDES não participou diretamente da pilantragem, mas pecou por omissão, sem denunciar descumprimento das regras, como ocorreu no caso do Porto de Mariel, em Cuba, uma operação sem garantia, cujo avalista foi o governo brasileiro, vejam que disparate. (C.N.)
18 de agosto de 2017
Vinicius Neder
Estadão
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