Uma das maiores idiotices que caracterizam o debate político é o radicalismo ideológico. Ao invés de olhar para o futuro, quase sempre as pessoas preferem continuar mergulhadas no passado, debatendo capitalismo e comunismo como se estivéssemos nos tempos de Adam Smith, Émile Durkheim, Max Weber, Karl Marx e Friedrich Engels, pensadores geniais que estabeleceram as bases em que até hoje se apoia a Ciência Social. É claro que quase tudo o que eles conceberam está superado, é preciso analisar a política e a economia sob as luzes da modernidade, mas não é isso que acontece – o debate político continua dominado por dogmas antigos e absurdos.
É óbvio que a Teoria da Mão Invisível do Mercado, desenvolvida pelo gigantesco Adam Simith precisa ser adaptada, porque todos sabem que o livre mercado apresenta graves distorções e tem de ser submetido a fiscalização e controle pelo Estado. Da mesma forma, a evolução do capitalismo fez com que muitas teses de Marx e Engels se tornassem claramente obsoletas.
NOS ANOS FHC – Sem sectarismo, é preciso que sejam discutidas novas soluções e a busca de uma Terceira Via. No caso do Brasil, por exemplo, devemos repensar a política econômica implantada no governo FHC, que transformou o país em uma espécie de cobaia do rentismo financeiro previsto por Marx e Engels. A palavra rentista, inclusive, é um neologismo criado por Marx.
Até meados da década de 1990, a dívida pública era mais externa do que interna. A pretexto de reduzir o endividamento, FHC vendeu estatais e começou a ampliar a dívida interna. Foi um idiotice, porque os juros internos são muito mais elevados do que os externos e ficou muito mais caro rolar a divida, causando o efeito bola de neve.
A dívida pública cresceu a um ritmo de 24,8% ao ano no primeiro mandato de FHC, subindo de R$ 43,5 bilhões para R$ 188,4 bilhões, em 1998. Em novembro de 1997 a taxa de juros (Selic) atingiu o nível recorde de 45,67% ao ano. E nem mesmo a política de superávit primário, iniciada em 1997, foi capaz de conter o crescimento da relação dívida/PIB, que manteve sua trajetória de ascensão e 20 anos depois chega agora a mais de 80% do PIB.
FERNANDES ATERRORIZA – Criador dos bancos Pactual e Garantia, o financista Luiz Cezar Fernandes, sócio da corretora de investimentos Grt Partners, alarmou o mercado financeiro com um texto de visões apocalípticas sobre o descontrole da dívida pública, que segundo ele, atingirá 100% do (PIB) já na início do próximo governo, em 2019. Diz Fernandes que a situação ficará insustentável, gerando completa ingovernabilidade, e o próximo governo se sentirá seduzido, inevitavelmente, por dar um calote na dívida pública.
O artigo é apocalíptico, porque o Brasil não está tão ruim assim. Outros países estão em situação pior e vão tocando o bonde. O Japão bateu recorde em 2016, com dívida pública de 250,4% do PIB, a Dinamarca chegou a 117% e a Itália a 108% do PIB. Os EUA já devem 102% do PIB, mas emitem dólar, a moeda universal, que agora está sendo contestada pela China e pela Rússia, para pôr fim à exploração financeira do mundo pelos norte-americanos.
E o Brasil tem reservas equivalentes a um terço da dívida. Não vai quebrar assim tão facilmente, como prevê o equivocado e tenebroso Luiz Cezar Fernandes.
SEM DISCUSSÃO – Conduzida por um banqueiro internacional, a política econômica brasileira se caracteriza pela omissão. O ministro Henrique Meirelles não aceita discutir a questão da dívida e se comporta como se estivéssemos no melhor dos mundos, ao estilo do professor Pangloss.
Legislativo e Judiciário se recusam a cortar custos. Somente o Executivo finge fazê-lo, reduz os orçamentos dos ministérios e depois aumenta de novo. Em meio a essa farsa, o número de servidores federais está crescendo, ao invés de diminuir. E as mordomias e os penduricalhos foram todos mantidos, inclusive o insustentável cartão corporativo.
Meirelles alega que a questão da dívida será resolvida daqui a 20 anos. Mas o economista John Maynard Keynes ensinava que a longo prazo todos estaremos mortos. Keynes, aliás, jamais permitiria o enfraquecimento do Estado. Sua tese é de que não há país forte com Estado fraco.
27 de agosto de 2017
Carlos Newton
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