A delação da JBS foi realmente uma grande bomba, que trouxe como consequências a repulsa e a falta de condições de governabilidade de Temer
Há poucos dias comemorou-se o primeiro aniversário do governo Temer. Na ocasião, dois elementos caracterizavam a conjuntura econômica.
Há poucos dias comemorou-se o primeiro aniversário do governo Temer. Na ocasião, dois elementos caracterizavam a conjuntura econômica.
De um lado, o cenário internacional, embora difícil, parecia ser relativamente neutro em relação ao Brasil, isto é, se não empurrava o crescimento, também não o atrapalhava, e isso continua até hoje.
Por outro lado, caminhávamos para um quase consenso de que havia uma recuperação da atividade econômica, na direção de uma expansão de 1% do PIB. Ao mesmo tempo, admitia-se também ser grande a possibilidade de terminar a agenda de reformas em 2017, com a trabalhista e a previdenciária.
Neste momento, o inesperado atacou. A delação da JBS foi realmente uma grande bomba, que trouxe duas consequências. Uma delas é a universal repulsa, à qual me associo, ao perdão integral dado aos Batistas para que desfrutem de um vidão nos EUA, com iate, avião e muito dinheiro. A propósito, reafirmo o que escrevi há um mês neste espaço: daqui a dois anos os campeões nacionais não significarão nada.
A outra consequência é que Temer não tem mais condição de governabilidade e deve sair de uma forma ou de outra (via TSE ou renúncia). Imagino que o evento ocorrerá num prazo relativamente curto, possivelmente, de três a cinco semanas a contar desta data.
Parece seguro dizer que a Constituição será seguida e que, portanto, a eleição do substituto será feita, em 30 dias, pelo Congresso. A chamada para “diretas já” é boa apenas para tumultos e passeatas, e não deverá ter efeito prático nenhum.
No meio dessa neblina, vamos pagar um preço relevante em termos de redução do crescimento em 2017 e, provavelmente, em 2018. Não será difícil uma estagnação no atual exercício.
Entretanto, acho importante colocar que os avanços dos últimos tempos deverão prevalecer. Se o prazo para a solução do impasse político for o que imagino, não tenho dúvida de que a inflação do ano vai se manter baixa, inferior a 4%, o que permitirá uma importante redução dos juros, ainda que algo menor do que se esperava. A sociedade brasileira, nitidamente, incorporou a ideia de que inflação alta é um veneno que não pode voltar ao cenário. Ao mesmo tempo, o setor externo continuará muito robusto, considerando o desempenho das exportações, o tamanho do saldo comercial, a redução do déficit em conta-corrente e a entrada de capital externo. A abundância de dólares continuará ocorrendo e, como os mercados estão sinalizando, qualquer indício de avanço no cenário político trará o dólar de volta à faixa dos R$ 3,15. Na mesma direção, remanesce a percepção, amplamente majoritária, da necessidade de reforma fiscal, ainda que o cronograma da Previdência vá se atrasar.
Finalmente, os avanços na exigência de melhor governança pública e privada entraram no sistema de valores para ficar. Nada mais emblemático a esse respeito do que o aviso dado pelos supermercados que, dependendo do andamento do processo, não comprarão mais carne da JBS.
Com base nas observações anteriores, vemos dois possíveis cenários adiante que denominamos de recuperação postergada e de paralisia (ou “sarneyzação”). No primeiro, o novo presidente escolhido pelo Congresso adotaria a mesma agenda que vem sendo posta em prática e manteria a atual equipe econômica. Resta dúvida se a reforma da Previdência seria a mesma que está hoje em pauta ou se seria um pouco mais diluída. De qualquer forma, o movimento em direção ao ajuste continuaria, mas temos de lembrar que a PEC do Teto de Gastos é que será mais efetiva para determinar no ano que vem o superávit primário do governo. O cenário alternativo, naturalmente, decorreria de maiores dificuldades na eleição do novo presidente, que teria como missão básica levar o País até as próximas eleições. Nesse caso, não é fora de propósito imaginar que voltaríamos à recessão.
Acredito que a percepção dos custos envolvidos na paralisia política deve levar o Congresso a privilegiar a primeira alternativa. Certamente, isso ocorrerá se prevalecer um dos nomes mais citados como possíveis candidatos, pois todos eles são, certamente, reformistas.
Nesse caso, o inesperado nos terá custado muito, mas ainda será um preço que se pode pagar.
31 de maio de 2017
José Roberto Mendonça de Barros, Estadão
Neste momento, o inesperado atacou. A delação da JBS foi realmente uma grande bomba, que trouxe duas consequências. Uma delas é a universal repulsa, à qual me associo, ao perdão integral dado aos Batistas para que desfrutem de um vidão nos EUA, com iate, avião e muito dinheiro. A propósito, reafirmo o que escrevi há um mês neste espaço: daqui a dois anos os campeões nacionais não significarão nada.
A outra consequência é que Temer não tem mais condição de governabilidade e deve sair de uma forma ou de outra (via TSE ou renúncia). Imagino que o evento ocorrerá num prazo relativamente curto, possivelmente, de três a cinco semanas a contar desta data.
Parece seguro dizer que a Constituição será seguida e que, portanto, a eleição do substituto será feita, em 30 dias, pelo Congresso. A chamada para “diretas já” é boa apenas para tumultos e passeatas, e não deverá ter efeito prático nenhum.
No meio dessa neblina, vamos pagar um preço relevante em termos de redução do crescimento em 2017 e, provavelmente, em 2018. Não será difícil uma estagnação no atual exercício.
Entretanto, acho importante colocar que os avanços dos últimos tempos deverão prevalecer. Se o prazo para a solução do impasse político for o que imagino, não tenho dúvida de que a inflação do ano vai se manter baixa, inferior a 4%, o que permitirá uma importante redução dos juros, ainda que algo menor do que se esperava. A sociedade brasileira, nitidamente, incorporou a ideia de que inflação alta é um veneno que não pode voltar ao cenário. Ao mesmo tempo, o setor externo continuará muito robusto, considerando o desempenho das exportações, o tamanho do saldo comercial, a redução do déficit em conta-corrente e a entrada de capital externo. A abundância de dólares continuará ocorrendo e, como os mercados estão sinalizando, qualquer indício de avanço no cenário político trará o dólar de volta à faixa dos R$ 3,15. Na mesma direção, remanesce a percepção, amplamente majoritária, da necessidade de reforma fiscal, ainda que o cronograma da Previdência vá se atrasar.
Finalmente, os avanços na exigência de melhor governança pública e privada entraram no sistema de valores para ficar. Nada mais emblemático a esse respeito do que o aviso dado pelos supermercados que, dependendo do andamento do processo, não comprarão mais carne da JBS.
Com base nas observações anteriores, vemos dois possíveis cenários adiante que denominamos de recuperação postergada e de paralisia (ou “sarneyzação”). No primeiro, o novo presidente escolhido pelo Congresso adotaria a mesma agenda que vem sendo posta em prática e manteria a atual equipe econômica. Resta dúvida se a reforma da Previdência seria a mesma que está hoje em pauta ou se seria um pouco mais diluída. De qualquer forma, o movimento em direção ao ajuste continuaria, mas temos de lembrar que a PEC do Teto de Gastos é que será mais efetiva para determinar no ano que vem o superávit primário do governo. O cenário alternativo, naturalmente, decorreria de maiores dificuldades na eleição do novo presidente, que teria como missão básica levar o País até as próximas eleições. Nesse caso, não é fora de propósito imaginar que voltaríamos à recessão.
Acredito que a percepção dos custos envolvidos na paralisia política deve levar o Congresso a privilegiar a primeira alternativa. Certamente, isso ocorrerá se prevalecer um dos nomes mais citados como possíveis candidatos, pois todos eles são, certamente, reformistas.
Nesse caso, o inesperado nos terá custado muito, mas ainda será um preço que se pode pagar.
31 de maio de 2017
José Roberto Mendonça de Barros, Estadão
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