Ao colocar o Brasil em perspectiva negativa na última sexta-feira, 26, a Moody's indica como aumentam as incertezas sobre a capacidade do governo de gerir a economia
Nesta sexta-feira, uma das três mais importantes agências de análise de risco, a Moody’s, colocou em perspectiva negativa a avaliação dos títulos de dívida do Brasil.
Trata-se de um aviso prévio. Se não houver solução imediata para a crise política, aumentam as incertezas sobre a capacidade do governo de perseguir o equilíbrio das contas públicas e, com isso, cresce o risco de calote. Não significa que o Brasil vá dar calote. Significa, apenas, que a qualidade dos títulos está azedando. A consequência imediata é o aumento dos juros.
O instrumento financeiro que mede melhor esse risco é o Credit Default Swap (CDS), contrato que funciona como seguro contra problemas de pagamento de um título de dívida. O CDS do Brasil saltou de 2,0 pontos porcentuais ao ano acima dos juros registrados imediatamente antes da crise para a casa dos 2,4.
Por trás dessa alta e da decisão da Moody’s está o pressuposto de que a crise tende a adiar as reformas e, com isso, a solução para a deterioração das contas públicas fica mais incerta. Como o rombo aumenta, a dívida cresce.
O aumento dos juros dos títulos do Brasil que atinge também os títulos privados é simples consequência da lei da oferta e da procura. Se há menos interessados em ficar com títulos mais bichados, cai o valor desses ativos no mercado.
Há pouco tempo, uma das discussões mais acirradas que aconteciam no setor das finanças girava em torno do corte dos juros básicos (Selic) que o Banco Central (BC) aplicaria na reunião do Copom, marcada para esta quarta-feira. As apostas se concentravam entre a tesourada de 1,0 ponto porcentual e a de 1,25 ponto. A crise mudou as coisas, as incertezas aumentaram e agora há mais esse primeiro passo para novo rebaixamento do rating do Brasil, que provavelmente será seguido pelas outras agências, Fitch e Standard & Poor’s.
Nos últimos dias, a equipe econômica se esforçava para demonstrar que continuaria dando conta da agenda, qualquer que fosse o desfecho da crise política. É esforço compreensível, pois eles estão lá também para não deixar a peteca cair. Mas quem tem alguma quilometragem rodada em administração macroeconômica sabe que, em tempos bicudos, essa mercadoria não tem entrega garantida, ao menos nas condições prometidas.
Outra notícia ruim foi a demissão da presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques. Ela era parte do grupo de notáveis no comando de postos-chave da economia, como o próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles; o presidente do BC, Ilan Goldfajn; e o presidente da Petrobrás, Pedro Parente.
Os empresários pressionavam Temer por mais flexibilidade na concessão de créditos pelo BNDES. Também os setores encarregados de relançar o Programa de Parcerias de Investimento pediam mais lubrificantes nos financiamentos. Maria Silvia já não tinha apoio firme do presidente. Agora ele enfrenta um treme-treme e seu apoio não significa muito.
Esses fatos estão dizendo que ficou bem mais difícil administrar a economia. E essa é mais uma fonte de pressão para que Temer renuncie.
31 de maio de 2017
Celso Ming, Estadão
Nesta sexta-feira, uma das três mais importantes agências de análise de risco, a Moody’s, colocou em perspectiva negativa a avaliação dos títulos de dívida do Brasil.
Trata-se de um aviso prévio. Se não houver solução imediata para a crise política, aumentam as incertezas sobre a capacidade do governo de perseguir o equilíbrio das contas públicas e, com isso, cresce o risco de calote. Não significa que o Brasil vá dar calote. Significa, apenas, que a qualidade dos títulos está azedando. A consequência imediata é o aumento dos juros.
O instrumento financeiro que mede melhor esse risco é o Credit Default Swap (CDS), contrato que funciona como seguro contra problemas de pagamento de um título de dívida. O CDS do Brasil saltou de 2,0 pontos porcentuais ao ano acima dos juros registrados imediatamente antes da crise para a casa dos 2,4.
Por trás dessa alta e da decisão da Moody’s está o pressuposto de que a crise tende a adiar as reformas e, com isso, a solução para a deterioração das contas públicas fica mais incerta. Como o rombo aumenta, a dívida cresce.
O aumento dos juros dos títulos do Brasil que atinge também os títulos privados é simples consequência da lei da oferta e da procura. Se há menos interessados em ficar com títulos mais bichados, cai o valor desses ativos no mercado.
Há pouco tempo, uma das discussões mais acirradas que aconteciam no setor das finanças girava em torno do corte dos juros básicos (Selic) que o Banco Central (BC) aplicaria na reunião do Copom, marcada para esta quarta-feira. As apostas se concentravam entre a tesourada de 1,0 ponto porcentual e a de 1,25 ponto. A crise mudou as coisas, as incertezas aumentaram e agora há mais esse primeiro passo para novo rebaixamento do rating do Brasil, que provavelmente será seguido pelas outras agências, Fitch e Standard & Poor’s.
Nos últimos dias, a equipe econômica se esforçava para demonstrar que continuaria dando conta da agenda, qualquer que fosse o desfecho da crise política. É esforço compreensível, pois eles estão lá também para não deixar a peteca cair. Mas quem tem alguma quilometragem rodada em administração macroeconômica sabe que, em tempos bicudos, essa mercadoria não tem entrega garantida, ao menos nas condições prometidas.
Outra notícia ruim foi a demissão da presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques. Ela era parte do grupo de notáveis no comando de postos-chave da economia, como o próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles; o presidente do BC, Ilan Goldfajn; e o presidente da Petrobrás, Pedro Parente.
Os empresários pressionavam Temer por mais flexibilidade na concessão de créditos pelo BNDES. Também os setores encarregados de relançar o Programa de Parcerias de Investimento pediam mais lubrificantes nos financiamentos. Maria Silvia já não tinha apoio firme do presidente. Agora ele enfrenta um treme-treme e seu apoio não significa muito.
Esses fatos estão dizendo que ficou bem mais difícil administrar a economia. E essa é mais uma fonte de pressão para que Temer renuncie.
31 de maio de 2017
Celso Ming, Estadão
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