Temer tenta surfar na economia. O presidente Michel Temer está apostando nos efeitos da semana econômica. Duas notícias favoráveis devem ser divulgadas. Os juros vão cair mais uma vez na quarta-feira. E na quinta será divulgado o PIB do primeiro trimestre e ele será positivo, podendo chegar até a 1%. Com isso, o ambiente será propício para o discurso de deixar tudo como está para manter a recuperação.
Antes da divulgação da delação de Joesley Batista o debate no mercado financeiro era se os juros cairiam 1% ou 1,25%. Depois disso, a aposta na queda maior foi deixada de lado. Contudo, segundo os economistas é bem possível manter o ciclo de corte nas taxas porque a inflação está baixa e a recuperação ainda é incerta. O IPCA-15 mostrou a inflação acumulada em 12 meses em 3,77%. O IPCA, que sairá na semana do julgamento no TSE, deve confirmar a taxa menor do que 4%. O crescimento do ano ficou incerto, mas o primeiro trimestre será o de maior taxa no ano. Como a produção agrícola foi ainda mais forte do que o previsto, o PIB trimestral será alto. Os outros trimestres terão resultado pior do que o primeiro, porque não haverá o efeito da agricultura. Mas, no curto prazo, o número que vai sair pode chegar ou até superar o 1% no primeiro trimestre.
O noticiário econômico favorável ajudará o presidente Temer? Para ele, pode parecer uma tábua de salvação, até porque ele tem jogado na esperança de adiar sua saída do governo para enfraquecer os efeitos do escândalo da conversa no Jaburu. Há outras boas notícias para vir. A inflação de junho deve ficar em zero ou negativa, segundo o professor Luiz Roberto Cunha, porque houve redução do preço da gasolina e porque haverá queda de preço de energia com o fim da bandeira vermelha. Uma inflação baixinha levará a mais quedas da taxa de juros, mesmo com a incerteza na política.
A economia pode ser uma ajuda ao presidente Temer no seu pior momento político. É bem verdade que uma das notícias da semana será a taxa de desemprego de abril. Ninguém espera uma queda, portanto os números altos de desemprego vão de novo ocupar o noticiário, mostrando que a economia não mudou no principal, não aumentou a oferta de emprego.
Mesmo havendo alguns bons indicadores econômicos, isso não será suficiente para reverter a situação crítica em que está o presidente, porque a origem da fragilidade de Temer é política. Parte do seu tempo é dedicado hoje a se defender. Ele é um presidente sub judice.
O cálculo feito cientista político Ricardo Sennes, da consultoria Prospectiva, é que Temer precisa de dois terços do Congresso para aprovar emendas constitucionais, mas basta um terço para impedir o impeachment. É verdade, mas antes de um processo de impeachment ele enfrentará, em dez dias, o julgamento da ação no TSE. Por isso a demora do julgamento passou a ser estratégico para ele, porque, se for condenado, ainda que recorra, se enfraquecerá ainda mais.
Parte da base política do presidente está inteiramente mergulhada em articulações para o pós-Temer. Está sendo negociado um pacto de manutenção das reformas e de sustentação da governabilidade de quem for escolhido pelo voto indireto. Uma fonte do PMDB conta que até o PT foi consultado, mas a exigência que fez desmonta a pedra mais importante da articulação. O partido quer o abandono do projeto de reformas.
A economia está no foco. De um lado, Temer acredita que pode ter uma sobrevida se conseguir bons indicadores econômicos e os terá a curto prazo. De outro, as articulações para seu possível substituto parte da ideia de que é preciso preservar a pequena recuperação que houve e o projeto de reformas.
Temer fez uma equipe econômica forte e deu autonomia a ela. Isso teve frutos. A saída de Maria Silva é o primeiro revés. No mercado se diz que é preciso ficar de olho em substituição de diretorias críticas, porque ele pode querer avançar na economia no seu esforço desesperado de permanecer na Presidência. Se começar a lotear cargos econômicos, Temer pode apressar o seu fim, porque foi exatamente por ter uma equipe forte e com autonomia para trabalhar que o trouxe ao ponto de colher bons indicadores econômicos como os que começa a aparecer no país.
31 de maio de 2017
Miriam Leitão, O Globo
Antes da divulgação da delação de Joesley Batista o debate no mercado financeiro era se os juros cairiam 1% ou 1,25%. Depois disso, a aposta na queda maior foi deixada de lado. Contudo, segundo os economistas é bem possível manter o ciclo de corte nas taxas porque a inflação está baixa e a recuperação ainda é incerta. O IPCA-15 mostrou a inflação acumulada em 12 meses em 3,77%. O IPCA, que sairá na semana do julgamento no TSE, deve confirmar a taxa menor do que 4%. O crescimento do ano ficou incerto, mas o primeiro trimestre será o de maior taxa no ano. Como a produção agrícola foi ainda mais forte do que o previsto, o PIB trimestral será alto. Os outros trimestres terão resultado pior do que o primeiro, porque não haverá o efeito da agricultura. Mas, no curto prazo, o número que vai sair pode chegar ou até superar o 1% no primeiro trimestre.
O noticiário econômico favorável ajudará o presidente Temer? Para ele, pode parecer uma tábua de salvação, até porque ele tem jogado na esperança de adiar sua saída do governo para enfraquecer os efeitos do escândalo da conversa no Jaburu. Há outras boas notícias para vir. A inflação de junho deve ficar em zero ou negativa, segundo o professor Luiz Roberto Cunha, porque houve redução do preço da gasolina e porque haverá queda de preço de energia com o fim da bandeira vermelha. Uma inflação baixinha levará a mais quedas da taxa de juros, mesmo com a incerteza na política.
A economia pode ser uma ajuda ao presidente Temer no seu pior momento político. É bem verdade que uma das notícias da semana será a taxa de desemprego de abril. Ninguém espera uma queda, portanto os números altos de desemprego vão de novo ocupar o noticiário, mostrando que a economia não mudou no principal, não aumentou a oferta de emprego.
Mesmo havendo alguns bons indicadores econômicos, isso não será suficiente para reverter a situação crítica em que está o presidente, porque a origem da fragilidade de Temer é política. Parte do seu tempo é dedicado hoje a se defender. Ele é um presidente sub judice.
O cálculo feito cientista político Ricardo Sennes, da consultoria Prospectiva, é que Temer precisa de dois terços do Congresso para aprovar emendas constitucionais, mas basta um terço para impedir o impeachment. É verdade, mas antes de um processo de impeachment ele enfrentará, em dez dias, o julgamento da ação no TSE. Por isso a demora do julgamento passou a ser estratégico para ele, porque, se for condenado, ainda que recorra, se enfraquecerá ainda mais.
Parte da base política do presidente está inteiramente mergulhada em articulações para o pós-Temer. Está sendo negociado um pacto de manutenção das reformas e de sustentação da governabilidade de quem for escolhido pelo voto indireto. Uma fonte do PMDB conta que até o PT foi consultado, mas a exigência que fez desmonta a pedra mais importante da articulação. O partido quer o abandono do projeto de reformas.
A economia está no foco. De um lado, Temer acredita que pode ter uma sobrevida se conseguir bons indicadores econômicos e os terá a curto prazo. De outro, as articulações para seu possível substituto parte da ideia de que é preciso preservar a pequena recuperação que houve e o projeto de reformas.
Temer fez uma equipe econômica forte e deu autonomia a ela. Isso teve frutos. A saída de Maria Silva é o primeiro revés. No mercado se diz que é preciso ficar de olho em substituição de diretorias críticas, porque ele pode querer avançar na economia no seu esforço desesperado de permanecer na Presidência. Se começar a lotear cargos econômicos, Temer pode apressar o seu fim, porque foi exatamente por ter uma equipe forte e com autonomia para trabalhar que o trouxe ao ponto de colher bons indicadores econômicos como os que começa a aparecer no país.
31 de maio de 2017
Miriam Leitão, O Globo
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