Foi, se dúvida, um grande gesto de caráter da economista Maria Sílvia Bastos Marques, ao se exonerar do cargo de presidente do BNDES, rejeitando inclusive apelo que pessoalmente lhe fez o presidente Michel Temer para que mudasse de opinião. Não mudou e se baseou em razões pessoais. Que razões pessoais seriam estas? Estão contidas na gravação do diálogo entre o empresário Joesley Batista e o presidente da República. O dono da JBS queixou-se da atuação da então presidente do BNDES. E ouviu como resposta de Temer uma frase solta de que a indicação de Maria Silvia não partira dele, chefe do Executivo.
O final desta semana foi péssimo para Michel Temer, sobretudo porque o procurador-ceral da República Rodrigo Janot sustentou no seu requerimento ao Supremo Tribunal Federal a necessidade de colher depoimento do presidente da República, acentuando que Michel Temer praticamente já confessou sua culpa ao admitir o diálogo de 40 minutos que manteve em sua residência com Joesley Batista.
INDIGNAÇÃO – A saída de Maria Sílvia não só confirma sua indignação com as palavras de Temer acerca de sua investidura, como também indiretamente criou um divisão no frágil esquema político do presidente da República. Reportagem de Marina Dias, Gustavo Uribe e Bruno Bogossian, Folha de São Paulo deste sábado, revela que a escolha de Paulo RabeLlo de Castro para substituí-la no BNDES agradou ao ministro Moreira Franco, mas desagradou o Ministro Henrique Meirelles, que considera Rabello fraco para o cargo, embora em seu curriculum conste o fato de ser formado pela Universidade de Chicago. A reação de Henrique Meirelles, que abala ainda mais o Palácio do Planalto, deixa no ar a sua sintonia programática com o posicionamento de Maria Sílvia.
Focalizando de maneira indireta o episódio chamado BNDES, o jornalista Ruy Castro, Folha de São Paulo, publicou neste sábado um artigo magnífico sobre o relacionamento eterno entre corruptores e corruptos à sombra das contradições inevitáveis de tais encontros. O artigo, penso eu, pode servir de base ou de roteiro para um filme que até hoje não foi feito.
REVER A DELAÇÃO – Enquanto isso – reportagem de Eduardo Bresciani e Carolina Brígido – o ministro Gilmar Mendes propõe que o acordo de delação entre os donos da JBS seja submetido ao Plenário do Supremo Tribunal Federal e não mais dependa do despacho do ministro Edson Fachin, que homologou a medida. A proposta de Gilmar é contestada pelo procurador que atua na Operação Lava-Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima. É um novo problema para que no final o STF resolva.
Gilmar Mendes vem criticando a delação premiada estabelecida para os irmãos Batista. Um deles, Joesley, se afastou da presidência do Conselho e foi morar nos Estados Unidos, levando inclusive seu iate para Miami. O fato de a saída dele do Brasil ter sido determinada apenas por decisão do procurador geral Rodrigo Janot, e não pelo Judiciário, pode ser base de uma contestação. Mas não influi no conteúdo da delação que fizeram.
REDE DE CORRUPÇÃO – Gilmar Mendes concentra sua atenção num ponto, e não se estende a todo o processo de corrupção que Joesley e Wesley Batista implantaram no país. Uma das provas de sua profundidade encontra-se sinteticamente traduzida na ação do Ministério Público e da Polícia Federal que apreendeu documentos na residência do senador Aécio Neves, suspenso do mandato parlamentar por decisão do ministro Edson Fachin.
O panorama é tão crítico para Temer, que segundo matéria de Sílvia Amorim, no O Globo, o governador Geraldo Alckmin passou a defender a escolha de Fernando Henrique Cardoso ou Tasso Jereissati para eleição indireta daquela que irá suceder Michel Temer no Planalto.
Michel Temer assim, já figura como um passageiro do Planalto à Planície.
28 de maio de 2017
Pedro do Coutto
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