A leitura dos textos gravados pela Procuradoria Geral da República, conforme reportagem de Marco Grillo e Eduardo Zobaran, O Globo desta sexta-feita, acentua a total fragilidade que atinge o presidente da República. Afinal de contas as transcrições ressaltam terem sido longos os diálogos entre Temer e Joesley Batista, durante o qual foram citadas várias ilegalidades, além do cumprimento de compromissos com o ex-deputado Eduardo Cunha envolvendo pagamentos para garantir o silêncio do ex-parlamentar.
Se o objetivo era garantir o silêncio, é porque suas revelações abalariam o presidente da República. Caso contrário, Michel Temer não poderia receber em sua residência um empresário implicado na gigantesca trama, alvo da operação Lava-Jato. Vários crimes foram citados no diálogo, incluindo questões dirigidas no sentido de obstruir a atuação da Justiça, passando pela cooptação de juízes e procuradores.
OBRIGAÇÃO DE TEMER – Quando tais assuntos foram citados, a obrigação do presidente Michel Temer era encerrar o estranho dialogo e repelir tais articulações. O presidente da República não pode permanecer sem reação a esses fatos, sobretudo porque o encontro com Joesley Batista teve como palco o Palácio do Jaburu, sua residência. Temer deveria ter encerrado o assunto no momento mais crítico da conversa. E repelir e não acolher em silêncio o relato de fatos profundamente desabonadores. Não repeliu. Ao contrário chegou ao ponto de concordar com a mesada destinada a Eduardo Cunha.
O presidente da República agravou sua própria situação no momento em que, no pronunciamento na tarde de quinta-feira acentuou de passagem, que o empresário Joesley Batista encontrava-se preocupado com a situação financeira da família de Eduardo Cunha. A preocupação, que ironia, seria amenizada com pagamentos mensais da ordem de R$ 500.000.
FALA MEIRELLES – Não bastasse esse rol de impropriedades e ilegalidades, a situação política do presidente Michel Temer se agravou ainda mais, não apenas pelo pedido de demissão do ministro Roberto Freire, porém sobretudo por declarações do ministro Henrique Meirelles publicadas na edição desta sexta-feira da Folha de São Paulo. O titular da Fazenda sustentou acreditar na permanência de Michel Temer no governo.
Sinalizou, porém, que tem disposição para continuar no comando da equipe econômica, caso o presidente deixe o governo. Isso porque o titular da Fazenda continua sendo visto por empresários e investidores como a principal âncora da administração, além de fiador de uma política econômica sintonizada com o mercado.
Quer dizer: os setores econômicos particulares já admitem a hipótese da permanência de um ministro mesmo que com o afastamento de quem o nomeou para o cargo. Não poderia haver sinal mais explícito da fraqueza política de um presidente que se tornou capaz de perder para si mesmo a condição política indispensável ao exercício do poder.
19 de maio de 2017
Pedro do Coutto
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