Naquela sessão do Senado que decidiu pelo impeachment de Dilma Rousseff, a senhora, doutora Janaína Paschoal, ao subir à tribuna para fazer sua última sustentação oral antes da votação final, a senhora chorou. Chorou quando disse que o pedido de afastamento de Dilma Rousseff, do qual a senhora foi uma das subscritoras e ativa participante de todo o processo, tinha sido feito preocupada com o Brasil. Com o futuro do país e de seu povo. E em benefício de todas as gerações futuras. Em benefício “de seu neto”, disse a senhora, referindo-se ao menino, o pequeno neto da presidente Dilma.
Não, doutora Janaína Paschoal. O gesto da senhora, e de seus colegas Hélio Bicudo e Miguel Reale Junior, também subscritores da petição do impeachment, não foi gesto em vão. Os bons frutos virão. E essa contaminação maligna que se arrasta e ainda se mantém no poder, mesmo depois do afastamento de Dilma, está bem perto do fim. O Brasíl vencerá. Viver feliz, com ordem, paz e progresso, é o primeiro e fundamental Direito de todo o povo brasileiro.
ESTUPEFAÇÃO – Imagino o quanto a senhora, que foi autora do pedido de impeachment, que é professora de Direito Penal da Universidade de São Paulo (USP) e advogada militante, imagino o quanto a senhora está estupefata com as revelações que se tornaram públicas nesses dois últimos dias.
O presidente da República, tarde da noite, recebe em sua residência oficial, um empresário que conta e detalha ao Chefe da Nação a prática de um monte de crimes que o empresário visitante vem cometendo. Crimes contra os interesses nacionais. Crimes contra a Administração da Justiça. Crimes de corrupção. Crimes de Lesa Pátria. E o presidente ouve tudo, sem esboçar reação. E quando esboça, incentiva o empresário a continuar nas práticas criminosas.
GRAVAÇÃO CLANDESTINA – Andam dizendo que o empresário induziu o presidente e a gravação do diálogo foi criminosa, por ter sido “clandestina”, assim considerada pelo próprio presidente em pronunciamento à Nação. Quanta insensatez, doutora Janaína. Um presidente-jurista, professor e autor de obras sobre Direito Constitucional, considerar “clandestina” uma gravação previamente autorizada pela Justiça. E mais: ao acusar de “clandestina” aquela gravação, o presidente desqualificou o Supremo Tribunal Federal, que a considerou boa e válida, a ponto de autorizar a abertura de inquérito policial contra o próprio presidente.
Perdoe-me, doutora Janaína. Sabemos que a senhora não tem culpa, porque a questão é constitucional. No impeachment do presidente, é o vice quem assume. Mas o vice de Dilma que assumiu a presidência por causa do impeachment que a senhora postulou e venceu, ele é igual ou pior que a presidente que a senhora tirou do poder.
TUDO ENCENAÇÃO – Na tarde de ontem, o curto discurso de Temer à Nação, mostrou um presidente determinado, rigoroso, enérgico, irritado e com o já conhecido gestual que não engana mais ninguém. Tudo foi encenação, doutora Janaína. Temer é um ator. Temer é frouxo. Temer é covarde. Temer é mentiroso. Até o seu nome é radical que se lhe for acrescido qualquer fonema não resulta em boa adjetivação (temeridade, temerário, temeroso…).
Por que, então, o presidente não teve com o visitante-agente-criminoso a mesma disposição, energia e rigor que nos enganou ontem no pronunciamento à Nação? Por que não o prendeu dentro da residência oficial e não chamou o delegado de polícia para lavrar o flagrante? O visitante não estava narrando e detalhando ao Chefe da Nação a prática de vários crimes?
TEMER CRIMINOSO – Arrisco a dizer que os crimes, omissivos e comissivos, do presidente foram de igual ou de maior potencial danoso e ofensivo do que os crimes que o visitante-criminoso lhe narrou e detalhou. Eram dois fora-da-lei conversando.
Mas as leis que transcendem a compreensão humana – e que são irrevogáveis e implacáveis – dispõem que este Brasil de todos nós precisava, para que seu povo venha viver na plena felicidade, na ordem, na paz e no progresso, atravessar essa quadra infamante e dolorosa…Que um Lula e Dilma assumissem o poder…que as riquezas nacionais fossem vilipendiadas…que a corrupção chegasse a patamares inimagináveis…que aparecessem brasileiros de nome Sérgio Moro… Janaína Paschoal… e de outros tantos Deltan Dallagnol, Carlos Fernando Lima, Marcelo Bretas e muitos mais.
Não é agora que o Brasil recomeça a crescer. Agora é que o Brasil começa a crescer. Não há mais o que esperar. A largada foi dada. Todos cairão. E pagarão por seus crimes nas penitenciárias.
19 de maio de 2017
Jorge Béja
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