Devem ser consideradas da maior gravidade as declarações do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) às repórteres Maria Lima e Lydia Medeiros, de O Globo, nesta quarta-feira, porque evidenciaram uma crise que atinge não apenas o PMDB, mas também o próprio Planalto, causada pela iniciativa do deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que colheu assinaturas de alguns deputados para levar o Diretório a expurgar da direção do partido todos os envolvidos com a Lava Jato, a começar pelo senador Romero Jucá, que recentemente assumiu a presidência nacional do PMDB e a liderança do governo na Câmara, além do próprio Renan, que é líder do partido no Senado.
Sem a menor dúvida, trata-se de uma pretensão alucinada, pois praticamente todos os dirigentes do PMDB estão (ou estarão) na mira da Lava Jato.
CHANTAGEM A TEMER – Na terça-feira, ao tomar conhecimento da atitude de Marun, que é presidente da comissão da Reforma da Previdência, Renan imediatamente promoveu um encontro da bancada do partido no Senado, com a presença de Eunício Oliveira e de Romero Jucá.
No dia seguinte, quarta-feira, almoçou com o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Moreira Franco, para denunciar que o presidente Michel Temer está sendo chantageado pelo grupo de Eduardo Cunha, que teria forçado as nomeações do deputado André Moura (PSC-SE) à liderança do governo no Congresso, de Osmar Serraglio (PMDB-PR) ao Ministério da Justiça e de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) à liderança do governo na Câmara.
CITANDO O JUIZ MORO — “Há 20 dias, o juiz Sérgio Moro foi solidário com Temer, dizendo que ele estava sendo chantageado e vetando as perguntas de Cunha ao presidente” — disse Renan, acrescentando que o próximo passo de Cunha será colocar seu ex-advogado e atual subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, como ministro da Casa Civil no lugar de Eliseu Padilha.
“Eu disse ao Moreira: fala com o Padilha para voltar imediatamente, porque senão o Eduardo Cunha senta lá na cadeira dele o Gustavo Rocha. O Padilha tem que voltar logo, já está sarado” — reclamou Renan.
A crise é grave e confusa, porque Renan parece estar atirando no que viu, mas acertando no que não viu. Se realmente sua denúncia tem procedência, é claro que o primeiro ato de Padilha ao reassumir nesta segunda-feira (ou na outra, ou ainda mais adiante, ninguém sabe ao certo) terá de ser a demissão de Gustavo Rocha.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – Se Padilha não pedir a Temer a exoneração de seu assessor Gustavo Rocha, notoriamente ligado a Cunha, isso significa que a denúncia de Renan está furada. A esse respeito, convém lembrar que semanas antes de ocorrer o pedido de licença do chefe da Casa Civil, Gustavo Rocha havia se lançado candidato ao Ministério da Justiça, e isso jamais poderia ter acontecido sem a anuência de Padilha, que é conhecido por ser autoritário e rigoroso com os subordinados.
Ao que parece, Renan se enfureceu com a iniciativa de Marun, que encaminhou terça-feira a carta à direção do partido, pedindo uma reunião da Executiva para analisar uma moção de afastamento dos indiciados na Lava Jato, e reagiu atabalhoadamente, agravando a crise.
HÁ MUITAS DÚVIDAS – Será que Renan ainda não percebeu o esvaziamento da Casa Civil, cujos espaços estão sendo ocupados por Moreira Franco, que desde 3 de fevereiro passou a ter sob seu comando direto a Secretaria de Comunicação Social, a Assessoria de Imprensa, a Administração da Presidência e o Cerimonial, que antes estavam subordinados a Padilha?
Renan deve ter percebido, é claro. Afinal, por que decidiu recorrer a Moreira Franco, ao invés de ir direto a Temer? Ao fazê-lo, sem dúvida confirmou que o neoministro da Secretaria-Geral passou a ser o homem-forte do Planalto. E por que Renan decidiu transformar a crise interna num escândalo, dando a entrevista espontaneamente?
É claro que o presidente Temer ligou para Temer e o convidou para uma conversa reservada, à noite, no Palácio Jaburu. . De toda forma, não adianta mais esconder, porque a crise já está balançando o partido e o próprio Planalto.
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PS – Quanto às insistentes perguntas que Cunha exige serem respondidas, é claro que significam rompimento e hostilidade, pois o ex-deputado entrou até na vida privada do presidente, ao revelar a existência de um relacionamento amoroso que Temer tentou ocultar a todo custo. (C.N.)
10 de marçço de 2017
Carlos Newton
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