A situação no Oriente Médio está mudando com uma velocidade incrível. Coisas que ontem eram inacreditáveis hoje se tornaram reais. Cada um desses eventos faz parte de um quadro maior, com a região gradualmente se movendo da beira do abismo para tempos melhores.
No dia 1º de março as forças iraquianas informaram que tomaram o controle da última grande rodovia a oeste de Mosul, impedindo assim que os militantes do Estado Islâmico fujam da cidade. A estrada leva a Tal Afar, outro quartel-general do Estado Islâmico, 40 quilômetros a oeste. Desde então, expulsaram os militantes do aeroporto internacional, de uma base militar, de uma estação de energia e de várias áreas residenciais.
DEBANDADA – Os soldados do Estado Islâmico começaram a fugir. É questão de dias, senão de horas, a retomada do controle total da cidade pelas forças iraquianas.
Quase derrotado no Iraque, o Estado Islâmico não tem para onde ir, a não ser a Síria – país onde eles acabaram de sofrer mais uma grande derrota, com a retomada de Palmira pelas forças do governo sírio. O apoio russo foi crucial na ofensiva do exército sírio.
O local da batalha final contra o grupo extremista será Raqqa, último quartel-general remanescente do grupo extremista, que agora está destinado a ser derrotado, pois atores influentes na esfera mundial passaram a desejar vê-lo erradicado do planeta.
RÚSSIA FAZ MEDIAÇÃO – A Turquia acaba de anunciar suas intenções de lançar uma ofensiva contra Raqqa, mas só depois de tomar o controle de Manbij, cidade que está nas mãos das Forças Democráticas da Síria (Syria Democratic Forces, em inglês), formadas principalmente de curdos. As partes estão a caminho de um conflito que só beneficiaria o Estado Islâmico e outros grupos terroristas. Os Estados Unidos não sabiam o que fazer para impedir um conflito entre um aliado da OTAN e os curdos – as forças nas quais confiam para a luta contra o Estado Islâmico.
Foi então que Moscou agiu para evitar o pior, usando sua posição privilegiada de mediador. Manobrou para fazer o que ninguém julgava ser possível. O Conselho Militar em Manbij informou no dia 2 de março que entregará áreas a oeste da posição inicial da cidade para as forças do governo sírio, depois de um acordo mediado pela Rússia.
Agora, a cidade está nas mãos dos árabes e a Turquia não tem mais razão para atacá-la. A Síria e a Turquia não estão em guerra.
FRACASSO DOS EUA – Os Estados Unidos tinham prometido à Turquia que as forças curdas se retirariam de Manbij para o leste do Rio Eufrates, mas isso nunca aconteceu. Agora a Rússia fez o que os EUA não conseguiram fazer.
Como resultado efetivo da mediação russa, a Turquia pode fortalecer seus planos de avançar para Raqqa, enquanto o governo sírio reforça muito a própria posição. Erdogan, presidente turco, já anunciou que está pronto para lutar contra o Estado Islâmico junto com a Rússia. Ele desembarca nesta quinta-feira em Moscou. O resultado é que não haverá conflito entre a Turquia e a Síria.
As coisas estão mudando para o governo sírio e isso já está acontecendo por algum tempo. Não é coincidência haja pressão para exigir que se convide o presidente Assad para a reunião de Cúpula Árabe no dia 29, em Amã – cinco anos depois que a Síria foi expulsa pelos 22 membros da organização.
RECONCILIAÇÃO – A Rússia, a Jordânia e o Egito estão envidando esforços para reconciliar a comunidade árabe com o governo sírio. No último mês, o comitê parlamentar egípcio para questões árabes pediu que a Síria retornasse para a Liga Árabe. Isso pode significar a reconciliação entre a Síria e a Arábia Saudita – que apoia os rebeldes sírios – coisa impensável há pouco tempo.
Em 2015, o presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, previu que a Rússia poderia se enterrar indefinidamente no pântano sírio. Parece que ele estava errado. Graças ao envolvimento da Rússia, pode-se ver a luz no fim do túnel, para fazer o pântano se tornar coisa do passado.
Agora Moscou pode facilitar o processo de junção entre o Irã e os Estados Árabes nos esforços para encontrar um acordo sobre a Síria, que levaria a um entendimento mútuo com a Arábia Saudita. Não se vê na mídia relatos sobre estes assuntos tão importantes.
ENTENDIMENTOS – Em 15 de fevereiro o presidente iraniano Hassan Rouhani visitou o Kuwait e Omã. Em 25 de fevereiro o Ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, Adel Al-Jubeir, viajou para o Iraque onde foi recebido pelo primeiro ministro do país, Haider Al-Abadi. A tendência que se desenvolve é visível – xiitas e sunitas novamente envolvidos em conversações e discutindo temas de importância crucial. Isso soaria inacreditável pouco tempo atrás, mas hoje são fatos.
Todas essas tendências e eventos que surgem estão tendo lugar contra o pano de fundo das conversações em Genebra que estão em andamento para estabelecer a paz na Síria. E surge mais uma reviravolta inesperada nos acontecimentos – a oposição síria enfim concordou em se dialogar com os russos.
De Acordo com Paul Vallely, general reformado e atualmente um dos principais analistas da Fox News, as consultas entre os Estados Unidos e a Síria devem começar em cerca de dois meses, depois que os presidentes dos dois países se encontrarem. Disse ainda que a Rússia tem um papel primordial a desempenhar no cenário.
Os últimos dias sacudiram literalmente o Oriente Médio. Assim, mais coisas inesperadas devem acontecer para levar as coisas adiante. Bem em frente a nossos olhos, o impossível se torna possível.
Como disse antes, a Rússia tem uma posição privilegiada para agir como intermediário e fazer o papel adequado para atingir resultados possíveis. Se a atual tendência continuar na mesma direção, levando aos resultados desejados, os esforços da Rússia entrarão para a história como uma conquista extraordinária de sucesso militar combinado com diplomacia efetiva.
(Artigo enviado por Sergio Caldieri, traduzido por BTPSilveira)
10 de março de 2017
Peter Korzun
Strategic Culture
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