Depoimento pode esclarecer a verdade de cada personagem |
O depoimento do ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, nesta segunda-feira, fecha um ciclo de informações que fez com que a Lava-Jato se interligasse ao processo de cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E, para a infelicidade dos políticos envolvidos, ocorre na semana em que o sigilo das outras 76 delações premiadas de executivos da empreiteira deve ser levantado, com base em decisão conjunta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e do relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin.
A delação de Melo, inclusive, foi a única de todos os 77 depoimentos feitos por executivos da empresa ao juiz Sérgio Moro que teve seu conteúdo vazado. Nela, o chefe da Casa Civil, ministro Eliseu Padilha, é apontado como um dos participantes de um jantar no Palácio do Jaburu, em dezembro de 2014, ao lado do presidente Michel Temer, do ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht e do próprio Melo Filho, no qual teria sido acertada a doação de R$ 10 milhões para campanhas do PMDB — R$ 6 milhões para a campanha de Paulo Skaff ao governo de São Paulo e outros R$ 4 milhões para diversos candidatos do partido.
VERSÃO DEFINITIVA – Embora semelhantes quanto ao local e à data do jantar, o depoimento de Melo Filho à Lava-Jato e de Marcelo Odebrecht ao ministro Herman Benjamin diferem em um ponto essencial. Segundo Melo, os valores de contribuição foram acertados no jantar. Temer e Marcelo Odebrecht confirmam a conversa, mas ambos afirmam que nenhum valor foi tratado no encontro e que isso foi acertado, posteriormente, em uma conversa entre Melo e Padilha.
O que Melo dirá ao relator Herman Benjamin deve selar o destino de Padilha. O peemedebista está de licença médica, sem prazo definido de retorno, após uma cirurgia para retirada da próstata. Os planos iniciais eram de que ele voltaria nesta segunda, 6. A licença foi prorrogada e já se fala que ela pode durar pelo menos um mês. Por enquanto, a ordem no Planalto é esperar o retorno de Padilha, para que ele e o presidente Temer avaliem a situação. Mas a espera será confrontada com o levantamento do sigilo das delações da Odebrecht.
REPRESENTAÇÃO – Na noite da última quinta-feira, a bancada do PSol da Câmara entrou com uma representação contra Padilha na Procuradoria-Geral da República (PGR), que, segundo procuradores, demonstra intenção de aprofundar as investigações. Segundo o líder do partido, deputado Glauber Braga (RJ), é importante que se apure a fundo o envolvimento de Padilha e do presidente Michel Temer no esquema de propinas da Odebrecht.
“É sabido que Padilha só age com a ordem e o conhecimento do presidente. Assim como o amigo de Temer, José Yunes. É preciso que essas relações sejam esclarecidas.” Na opinião de Glauber, a simples demissão de Padilha não afastará a crise do colo do presidente.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Melo Filho pode esclarecer também quem fala a verdade: José Yunes, Eliseu Padilha, Michel Temer ou Lúcio Funaro, o doleiro que operava para Cunha e os caciques do PMDB? Daqui a pouco saberemos. (C.N.)
06 de março de 2017
Paulo de Tarso Lyra
Correio Braziliense
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