A semana que se encerrou foi trágica, talvez com pitadas de comicidade circense. Os vazamentos da delação do presidente e dos executivos da Odebrecht envolveram o presidente do PSDB, Aécio Neves, no caixa 2 eleitoral. O cacique mineiro, lógico, desmentiu os delatores, sob alegação de que as doações foram registradas na contabilidade oficial. FHC, o presidente sociólogo-acadêmico, veio imediatamente em nota (está em viagem ao exterior) socorrer seu aliado. Em tom indignado, FHC afirmou que caixa 2 não é crime. Segundo o professor da Sorbonne, o crime ocorre quando o candidato usa o dinheiro do caixa 2 para despesas pessoais
Ora, a candidatura a cargo eletivo tem característica pessoal ou impessoal? O argumento de FHC não tem sustentação na realidade dos fatos. Trata-se de uma argumentação ardilosa e alternativa, baseada no fato de que vários candidatos foram eleitos com as doações de caixa 2 de empresas envolvidas na Lava Jato. Acontece que se tratava de dinheiro vivo – portanto, ilícito – a comprovar ocorrência de crime eleitoral, como diz a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia.
ANTES ERA CRIME – Pimenta nos olhos dos adversários é refresco, já em nossos olhos arde para caramba. No Mensalão, quando a cúpula do PT foi acusada de pagamento aos políticos da base aliada com recursos advindos do caixa 2, o PSDB aplaudiu e até execrou José Dirceu, Antonio Palloci e companhia limitada. Era crime o caixa 2 daquela época, mas o de agora não o é? Incoerência total!
Essa nova manobra demonstra que os políticos do PSDB começam a montar a farsa do caixa 2, configurando-a como dentro dos parâmetros da Lei Eleitoral, de modo a inocentar os caciques de todos os partidos que se envolveram com recursos do Caixa 2 oriundos do cartel das empreiteiras, chefiados pela rainha das empreiteiras, a Odebrecht.
A estratégia em gestação tem tudo para dar certo, como parece que vai acontecer. O martelo será batido no colegiado do Supremo, que mudará o entendimento anteriormente pacificado de que Caixa 2 é crime.
QUASE MAIORIA – Pelo menos cinco ministros da colenda Corte podem votar com o entendimento da não incidência de crime, caso o dinheiro doado fruto do caixa 2 tenha sido usado na campanha eleitoral, possibilidade que jamais poderá ser comprovada materialmente. Essa cantilena tem sido repetida à exaustão pelos políticos delatados na Lava Jato. Trata-se de um álibi perfeito. No STF, falta apenas um voto.
Infelizmente, é preciso dizer que a roubalheira irá continuar, apenas deverão ir com mais cautela para não deixar rastros. Os políticos brasileiros parecem ser isso aí: irrecuperáveis. O maior sonho deles é abafar a Lava Jato, assim como aprovar uma Lei da Mordaça contra o Ministério Público e também garantir a criminalização de jornalistas que se expuserem com matérias contra a suposta honra de parlamentares e governantes, uma espécie de nova Lei de Censura à Imprensa, nos moldes da implementada na Ditadura Militar.
Já experimentamos anos de chumbo e de censura à imprensa e aos cidadãos. Entendemos muito bem o mal que isso faz a democracia. Naquela época, o povo nada sabia sobre o que se passava nas entranhas do poder. Pensem nisso.
06 de março de 2017
postado por m.americo
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