"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

VAZAMENTO REABRE DISCUSSÃO DE VOTAR A LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE, AMEAÇA JUCÁ


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Charge do Aroeira, reprodução de O Dia
Citado em delação de executivo da Odebrecht como beneficiário de R$ 22 milhões por aprovar medidas provisórias de interesse da empreiteira, o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), diz que o Ministério Público tem como objetivo criminalizar doações eleitorais. Para Jucá, o vazamento cria ambiente para aprovação da lei de abuso de autoridade. Ele afirma ser alvo de uma “armação”, desafia empresários a provarem que pediu dinheiro em troca de apoio em projetos no Congresso, e que ser chamado de resolvedor da República é elogio.
O executivo Cláudio Melo Filho disse que participou de pagamentos ao senhor nos últimos anos que hoje superariam R$ 22 milhões. O senhor cobrou da Odebrecht para aprovar projetos de interesse da empresa?Dizer que recebi R$ 22 milhões é uma loucura, um absurdo. Ao PMDB nacional, de 2012 a 2016, a Odebrecht e a Brasken deram R$ 38 milhões e esse dinheiro foi distribuído para as campanhas. Não é nem R$ 22 milhões, é mais. A Odebrecht também doou para eventos de juízes. O que queria em troca? Estava dando dinheiro para pagar sentenças? Se toda a relação que se tem com as pessoas há dinheiro envolvido, zera tudo.
A delação do executivo tem toda uma lógica, mostrando sua forte atuação no Senado na aprovação de medidas relevantes para o setor econômico e para empresas.Aquelas palavras não são construções do Cláudio Melo, e sim do Ministério Público que quer criminalizar doações eleitorais. Estão tentando dizer que a Odebrecht tinha interesses e comprou medidas provisórias e sanções presidenciais. Eu me sinto vítima de armação. Minha função como líder tem sido discutir medidas, fazendo uma ponte entre governo, Congresso e setor econômico. Sempre fiz articulação, é a função do líder. Dizer que entro nas discussões com o objetivo de receber alguma coisa é uma afirmação criminosa.
O senhor é chamado pelo delator de resolvedor da República, como se agisse intensamente a favor da Odebcrecht.Estou fazendo um estudo das MPs e projetos para mostrar que não há dispositivo específico para atender a Odebrecht, nem que cause prejuízos ao setor público, ou que eu tenha recebido vantagem indevida. Minha tarefa sempre foi fazer essa ponte com o setor econômico estando ou não na MP. Meu gabinete é um centro de recebimento de confederações, empresários, empresas. Minha tarefa é ouvir os lados e tentar harmonizar as posições. Todas as medidas que aprovamos foram em acordo com governo e área econômica. Ser chamado de resolvedor da República é elogio.
Para atuar a favor desses setores, o senhor se beneficia financeiramente?Atendo a centenas de empresas, associações, setores, e sempre tratei isso como natural. Jamais discuti com setores cobrando ajuda financeira. Essa afirmação do Cláudio é mentirosa. Foi dita de forma capciosa. Em um momento, ele diz que os pagamentos eram feitos, de forma solta; depois, diz que foram doações ao partido. Nunca pedi dinheiro nem defini para onde o dinheiro iria. Esta nunca foi minha função no PMDB. Desafio qualquer empresa, empresário, confederação dizer que pedi dinheiro. Pelo contrário. Os caras veem minha relevância e se aproximam.
O delator o acusa de ser uma espécie de coordenador da cúpula do PMDB no Senado, agindo, cobrando e falando pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), e pelo senador Eunício Oliveira (CE).Nunca falei em nome de Renan nem de Eunício. Não tenho procuração para fazer isso.
Como era sua relação com a Odebrecht, com Cláudio Melo Filho, e com Marcelo Odebrecht?Minha relação com Marcelo sempre foi muito protocolar. Ele me tratava muito bem pela importância que tenho. A Odebrecht sentia reconhecimento à minha competência. Com Cláudio, a relação era de proximidade, sempre foi muito atencioso, tínhamos uma relação de confiança. Sempre fui muito sincero com ele nos pleitos, dizia o que era possível fazer ou quando estava querendo demais. Sempre fiz o melhor possível dentro do escopo da economia.
E essa boa relação nunca lhe rendeu recursos para campanhas eleitorais? Em 2014, recebi R$ 1,150 milhão da Odebrecht. Deste total, R$ 1 milhão foi para a campanha ao governo de Roraima (Rodrigo, filho de Jucá, era candidato a vice-governador), e R$ 150 mil para o partido no estado.
O senhor nega todas as referências feitas na delação?Se vaza o que não está homologado e ainda se criminaliza antecipadamente as pessoas. Tem algo de maldade nisso que vai ter que ser enfrentado na legislação. Quem fez isso, está reabrindo a discussão que tínhamos amortecido no Senado, de votar a lei do abuso de autoridade.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Ao final da entrevista, Jucá não se contém e ameaça colocar em pauta a lei de abuso de autoridade, que já estava sepultada pelo governo e por Renan Calheiros. É uma retaliação inútil, porque o parecer do relator Roberto Requião (PMDB-PR) é infantil e grotesco, conforme já mostramos aqui na Tribuna da Internet, jamais poderá ser aprovado. O fato concreto é que o delator revelou que o PMDB foi superfavorecido pela Odebrecht. Dos recursos “doados” ilegalmente pela corporação em caixa dois, mais de R$ 52 milhões foram para o PMDB e quase R$ 23 milhões para o PT, enquanto outros 13 partidos recebiam, ao todo, menos de R$ 10 milhões. Pelo desequilíbrio da balança, fica claro que a dupla PMDB/PT é que se encarregava de conduzir a aprovação de projetos e medidas provisórias de interesse da Odebrecht. (C.N.)

12 de dezembro de 2016
Simone Iglesias
O Globo

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