Charge do Paixão, reproduzida da Gazeta do Povo |
O antigo ditado diz que todos os caminhos levam a Roma. O ex-deputado Eduardo Cunha até nutria essa esperança, por ter cidadania italiana, mas sabia que seria apenas uma ilusão. Como ficou comprovado no caso do mensaleiro Henrique Pizzolato, não adiantaria Cunha fugir para a Itália, porque fatalmente também seria preso e extraditado para o Brasil. Ou seja, o ex-presidente da Câmara ficou encurralado, sem alternativa. Já perdera quase tudo – o cargo, o mandato parlamentar, o prestígio social, o respeito das comunidades evangélicas, a maior parte dos bens e muito mais. Só lhe restou a família e um pouco do dinheiro que a Lava Jato ainda não conseguiu mapear. Mas acontece que mulher Cláudia Cruz também está sendo processada, vai depor em novembro perante o juiz Sérgio Moro, e uma das filhas do casal continua sob investigação.
Portanto, Cunha se tornou um homem sem futuro e sem perspectivas. É por isso que passou os últimos meses se preparando para a delação premiada, ao começar a escrever suas memórias e selecionar documentos e provas, com ajuda do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, que em Brasília operava lavagem de dinheiro para políticos e autoridades. Funaro acabou preso em julho pela Lava Jato, mas antes disso entregou a Cunha uma quantidade enorme de recibos, anotações e documentos.
DESESPERO NO PLANALTO – O delator Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, indicado ao cargo pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL), vai depor novamente neste sábado, em Fortaleza, para acrescentar informações sobre as propinas que repassou aos caciques do PMDB em forma de doações de campanha, e próprio Michel Temer está entre os políticos citados por Machado. Por isso, no Palácio do Planalto, o clima é de terror e desespero, agravado pela prisão de Cunha.
Temer e o chamado núcleo duro do Planalto (Eliseu Padilha, Moreira Franco e Geddel Vieira Lima) já sabem que o ex-presidente da Câmara vai se oferecer para delação. Todos estão torcendo para que a força-tarefa não aceite a proposta de Cunha e as negociações emperrem, como aconteceu com os acordos de colaboração da Odebrecht e da OAS, que estão demorando demais a se concretizar.
CUNHA VAI DESTRUÍ-LOS – O ex-presidente da Câmara se considera traído por todos os caciques do PMDB, que conseguiram blindar Renan e não se mobilizaram para ajudá-lo, depois que ele aceitou na Câmara o pedido de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Por isso, Cunha agora quer destruí-los, um a um.
Sua delação não se limitará às contas do PMDB, partido ao qual repassava parte das propinas arrecadadas. Ele pretende entregar também parlamentares do PT, do PSDB, do PSD, do DEM e de outros partidos que o traíram. Um dos alvos principais será o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que hoje ocupa a cadeira que pertenceu a Cunha.
Como diz a Bíblia (em Mateus 22:14), muitos serão chamados, mas poucos os escolhidos. Na hora da cassação, Cunha só teve apoio de 61 deputados, que agora ele pretende poupar, entre eles o deputado Paulinho da Força, criador do partido Solidariedade. O resto vai entrar no camburão, onde sempre cabe mais um.
QUESTÃO DE TEMPO – Vai demorar um pouco até a delação de Cunha se completar, depois que seus dados forem cruzados com as informações de Sérgio Machado e de outros delatores. Até que isso ocorra, os caciques do PMDB e de outros partidos poderão concluir seus atuais mandatos. Mas todos eles também acabarão varridos pelo furacão a ser causado pelas revelações de Cunha.
Caso a força-tarefa da Lava Jato consiga acelerar os trabalhos e o presidente Temer fique sem condições de governabilidade, não há razões para pânico. Será eleito indiretamente um presidente para mandato-tampão, a vida seguirá seu curso, até a posse do próximo governante. E o resto é folclore, como diz nosso amigo Sebastião Nery.
22 de outubro de 2016
Carlos Newton
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