Charge do Bessinha, reprodução do Conversa Afiada |
Com os novos depoimentos colhidos nesta quinta-feira, que confirmaram nesta semana o uso de propinas no caixa 2 da campanha da chapa Dilma Roussef/Michel Temer em 2004, há quem sonhe que o atual presidente possa ser cassado por crime eleitoral ainda em 2017, para que ocorra uma eleição indireta pelo Congresso, destinada a escolher um novo governante que cumpra um mandato-tampão até 31 de dezembro de 2018, na forma da lei.
Sonhar ainda não foi proibido, mas é sempre conveniente manter os pés no chão, para depois não entrar em luta corporal com a realidade. Na verdade, a ameaça de cassação de Temer existe na teoria, porém na prática é hipóteses totalmente afastada.
DECLARAÇÃO REVELADORA – Uma das mais recentes declaração do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Gilmar Mendes, demonstra que Temer pode dormir tranquilo. Entrevistado pelo Estadão, ele admitiu que poderia haver eleição indireta para a Presidência, caso o TSE decidisse cassar o registro da chapa Dilma-Temer por crime eleitoral, mas evitou especular sobre acerca dessa possibilidade.
“Não vou dar opinião sobre esse quadro institucional. O Brasil voltou a um quadro de normalidade. Estamos respirando normalmente, tentando trazer o País para o caminho da normalidade”, esquivou-se o presidente do TSE, segundo a Agência Estado.
NOVAS ELEIÇÕES – “Eu sei que o que preocupa é que, se houver um juízo positivo de uma eventual cassação ainda este ano, haveria eleições diretas. Do contrário [cassação após 2016], eleições indiretas, como determina a Constituição. Mas o futuro a Deus pertence. Vamos aguardar”, afirmou o ministro, acrescentando:
“Primeiro é preciso julgar, para depois condenar. Não sabemos também se haverá condenação. Temos um processo todo peculiar porque a figura central (a ex-presidente Dilma Rousseff) saiu com o impeachment. Tudo isto dá uma nova configuração ao processo, que terá de ser verificado”, disse Gilmar Mendes à reportagem do Estadão.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – Em tradução simultânea, pode-se dizer que o presidente do TSE não pretende criar o menor problema para o governo de Michel Temer. Ou seja, não vai cassar a chapa com Dilma. Foi por isso que citou uma clássico da música popular, “Aos pés da Santa Cruz”, de Marino Pinto e Zé da Zilda (“Primeiro é preciso julgar, para depois condenar”). Se até 2018 não houver julgamento, consequentemente não existirá condenação, conforme a teoria do óbvio, desenvolvida pela genial jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues.
Isso quer dizer que Gilmar Mendes vai garantir Temer no poder até maio de 2018, quando será substituído na presidência do Tribunal Superior Eleitoral pelo vice Luiz Fux. Nessa altura, só faltarão quatro meses e meio para a eleição presidencial. É evidente que o TSE (leia-se: Fux) não assumirá a irresponsabilidade de aumentar a esculhambação institucional que assola o país, criando a expectativa de um mandato-tampão de apenas alguns dias.
Portanto, Temer cumprirá o mandato até o final e passará o cargo a quem for eleito em outubro de 2018. É isso que ocorrerá. Todo o resto é apenas sonho. Ou pesadelo. No país da bruxaria, cuja capital esotérica é Brasília, também não é proibido ter pesadelos.
08 de outubro de 2016
Carlos Newton
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