Não há dúvida alguma: o nebuloso – para dizer o mínimo – diálogo mantido entre o senador Renan Calheiros, presidente do Congresso Nacional e o ex-presidenter da Transpetro, Sérgio Machado, transcrito na Folha de São Paulo, nova reportagem de Rubens Valente, exige do Supremo uma resposta frontal e imediata sobre as insinuações e afirmações nelas contidas. Afinal de contas, com é possível Sérgio Machado colocar a hipótese de uma negociação do governo com ministros da Corte Suprema e tal fato ter sido remetido a uma categoria normal das palavras?
Não pode ser. E pior, Renan não cortou a conversa, como deveria fazer. Pelo contrário. Atribuiu à falta de uma ponte de conciliação a desentendimentos entre a presidente afastada Dilma Rousseff e ministros que integram o STF. O tom genérico praticado pelos componentes da gravação compromete todo o elenco da Corte Suprema.
Fornece aos leitores, portanto à opinião pública, a imagem de que o Supremo, dependendo de circunstâncias, possa ser um tribunal também voltado para negociações políticas. Impossível aceitar tal hipótese humilhante para ele, o STF, como para o próprio país. Significa a predominância de interesses sombrios na área judicial que tem de estar acima de qualquer suspeita.
SEGUNDO CAPÍTULO
Este foi o segundo capítulo da série de Rubens Valente, a qual teve sequência com uma terceira gravação, esta ocorrida entre o ex-presidente José Sarney e Sérgio Machado que, por sua atuação, pode ser classificado como o homem fatal, personagem de Nelson Rodrigues.
Machado transforma em tempestade tudo que toca e transforma em vilões do antigo cinema mudo os personagens que coloca em cena, utilizando-os para reforçar sua própria defesa, a esta altura impossível, das ondas da Operação Lava-Jato.
Tanto assim que propõe – é o cúmulo – articular-se em conjunta mudança radical nos textos da lei que instituiu a figura da delação premiada. Afinal, quem tem medo da delação e dos delatores?
Eis aqui uma pergunta de fácil resposta: os acusados. Que, aliás, não tentam sequer se defender.
SEM POSSIBILIDADE
Os acusados tentam de qualquer maneira, inclusive o caminho da sordidez, travar as investigações, como se isso fosse possível. Não existe possibilidade. Mas tal impossibilidade não pode levar o Supremo Tribunal Federal a optar pelo silêncio depois de tão grave insinuação que sinaliza para uma situação de desonra.
Pois, em relação à Corte Suprema, acima de tudo o diálogo entre Renan e Sérgio Machado representa um acinte, uma agressão, uma bofetada moral que exige revide imediato. O SF tem o respeito da nação, como um dos poderes da República. Não pode ser reduzido a uma espécie de corrente de interesses que navega de acordo com hipóteses ou de mau relacionamento, ou relacionamento ruim entre seus componentes e quem preside o país. Sua imagem foi colocada em xeque.
LANÇAR À LUZ
Claro que o Supremo não vai negociar nada vinculado à Operação Lava-Jato. Mas é preciso tornar tal posicionamento de dependência o mais claro possível. Lançar à luz do sol devassando as sombras em que se realizaram gravações extremamente comprometedoras para os que delas participaram e também para os que delas se tornaram presentes, mas cujas traduções ainda não aconteceram. Mas certamente ainda vão suceder. Chega de falsidade, corrupção e hipocrisia.
26 de maio de 2016
Pedro do Coutto
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