Antes de ser decretada sua prisão, o líder do governo Delcídio Soares já estava mais do que envolvido pelas denúncias do lobista Fernando Baiano. Havia acusações anteriores, inclusive da época em que ele ocupara a Diretoria de Energia e Gás da Petrobras, quando ocorreu o superfaturamento do gasoduto de Urucu, mas o procurador-geral Rodrigo Janot fez a gentileza de excluir o nome do senador petista quando entregou ao Supremo Tribunal Federal a lista de políticos e autoridades que deveriam responder a inquérito. O nome de Delcídio já aparecia em depoimentos da Lava Jato e a força-tarefa da Lava Jato pedia que ele fosse investigado, especialmente depois que o delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, ter dito que ouviu falar sobre o pagamento de propina a Delcídio, quando o senador ocupou o cargo de diretor de gás e energia da estatal, entre 2000 e 2001. Mas pedido foi arquivado por Janot, sob alegação de que faltavam evidências concretas do pagamento de propina a Delcídio.
As provas contra Delcídio, porém, continuaram a aparecer, nos depoimentos de Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras, e de Fernando Baiano Soares, um dos operadores do esquema de corrupção. Cerveró e Delcídio ficaram amigos quando participavam da Diretoria da estatal, no segundo mandato de FHC. Na época, Delcídio era tucano e nem sonhava em se filiar ao PT, vejam como as coisas mudam na política.
Com seus depoimentos contundentes, Baiano conquistou a delação premiada e revelou em detalhes o relacionamento entre Cerveró e Delcídio. Disse que o senador baiano era o padrinho político de Cerveró e usava seu prestígio para manter o amigo na Diretoria da Área Internacional.
PROPINA POR PASADENA
Baiano contou que Cerveró lhe pediu que repassasse a Delcídio parte da propina pela compra da sucateada refinaria de Pasadena, no Texas, apelidada de “Ruivinha” pelos engenheiros da estatal, devido à ferrugem que encobre suas instalações. Segundo Baiano, Delcídio era candidato ao governo do Mato Grosso do Sul e pressionou Cerveró. Baiano então repassou cerca de US$ 1,5 milhão a um amigo de Delcídio entre 2006 e 2007, pagar dívidas de campanha. Este intermediário usava o nome de “Godinho”, dizia ser amigo de infância de Delcídio e teriam até estudado juntos.
Baiano e o amigo do senador combinaram pagamentos periódicos em dinheiro. Os repasses foram feios no escritório de Baiano no Centro do Rio entre o segundo semestre de 2006 e os primeiros meses de 2007.
DELCÍDIO QUERIA MAIS…
Após os pagamentos, Cerveró voltou a procurar Baiano, dizendo que o petista queria mais dinheiro e estava cobrando o recebimento integral da propina de Pasadena. Cerveró e Baiano fizeram um acerto de contas e perceberam que faltara um pagamento de menos de R$ 100 mil.
A compra de Pasadena custou, em valores e câmbio da época, R$ 1,25 bilhão para a Petrobras, segundo estimativa do Tribunal de Contas da União. A transação foi avalizada pelo Conselho de Administração da companhia comandado, à época dos fatos, pela presidente Dilma Rousseff, então ministra de Lula. Questionado pelos investigadores se a Dilma sabia das irregularidades, Baiano não soube dizer, mas Cerveró já confirmou e quando foi preso chegou a relacionar Dilma como testemunha.
DIREITO DE RESPOSTA
Quando este depoimento Baiano foi divulgado, Delcídio ainda não tinha sido preso. Recusou-se a atender os repórteres e os ameaçou, dizendo que ia usar a nova Lei de Direito de Resposta. Ainda se sentia poderoso. Depois, já preso, sua atitude mudou. Ficou humilde e começou a esclarecer as coisas.
Julgava-se que Cerveró tivesse sido indicação de Delcídio, mas agora sabe-se que foi escolhido pela própria Dilma Rousseff, o que muda bastante a situação. Outras novidades, é claro, hão de surgir, porque ele precisa da delação premiada e tem de apresentar “fatos novos” à força-tarefa. Sua mulher, Maika Amaral, não é de brincadeira e está forçando a delação premiada, deixando o Planalto em transe.
02 de dezembro de 2015
Carlos Newton
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