Após divulgar nota criticando o governo do presidente Nicolás Maduro e conclamando o governo venezuelano a garantir a segurança dos candidatos em campanha para as eleições legislativas do próximo domingo, a presidente Dilma Rousseff recuou. No primeiro dia da reunião sobre o clima em Paris, segunda, ela afirmou que não apoiará a posição do recém-eleito presidente da Argentina, Mauricio Macri, de pedir ao Mercosul o enquadramento da Venezuela na “cláusula democrática”, o que pode abrir caminho para a exclusão do país do Mercosul.
Segundo pesquisas independentes, as eleições de domingo indicam a perda do controle da Assembleia Nacional para a oposição. O desprestígio crescente de Maduro é proporcional à crise econômica e social do país. O regime bolivariano, instaurado por Hugo Chávez, financiou uma política assistencialista com os recursos provenientes dos altos preços do petróleo. Mas a queda vertiginosa da cotação a partir da crise global de 2008 expôs claramente os erros da economia venezuelana, gerando um descontentamento crescente.
Confrontados pela maior inflação do planeta, desemprego, desabastecimento, fuga de capitais e investimentos, os venezuelanos também sofrem com a violência de Estado. O governo recorre à autoindulgente retórica do “inimigo externo”, para justificar a tentativa de se perpetuar no poder, bem como seu autoritarismo.
Não à toa, no mês passado, o governo Maduro foi denunciado por crime contra a Humanidade no Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda, devido à repressão contra manifestantes em 2014, episódio que deixou mais de 30 mortos, 800 feridos, 400 casos de tortura e 3.700 presos. O regime também é criticado por organismos como o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos e o Human Rights Watch.
Após resistir a marcar a data das eleições, o governo passou a jogar pesado contra a oposição. Sete candidatos puxadores de votos foram impugnados e há indicações de fraude, como a mudança de cédulas numa estratégia para confundir o eleitorado. A Venezuela também tentou limitar a ação de observadores internacionais, permitindo apenas uma missão da Unasul, mas, mesmo assim, vetou a indicação do brasileiro Nelson Jobim, ex-presidente do TSE, o que supostamente irritou a presidente Dilma.
Mas a gota d’água foi a morte a tiros de Luis Manuel Díaz, candidato de oposição e dirigente do partido Ação Democrática, durante um comício na semana passada. Para o governo, ele foi apenas uma vítima infeliz de um tiroteio entre gangues.
Ao recuar de uma ação mais dura contra as claras violações de direitos humanos na Venezuela e as tentativas de manipular as eleições, a presidente Dilma — que não pensou duas vezes em defender a aplicação da “cláusula democrática” contra o Paraguai, após o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo —, acaba por endossar a violência do regime bolivariano.
02 de dezembro de 2015
O Globo
Segundo pesquisas independentes, as eleições de domingo indicam a perda do controle da Assembleia Nacional para a oposição. O desprestígio crescente de Maduro é proporcional à crise econômica e social do país. O regime bolivariano, instaurado por Hugo Chávez, financiou uma política assistencialista com os recursos provenientes dos altos preços do petróleo. Mas a queda vertiginosa da cotação a partir da crise global de 2008 expôs claramente os erros da economia venezuelana, gerando um descontentamento crescente.
Confrontados pela maior inflação do planeta, desemprego, desabastecimento, fuga de capitais e investimentos, os venezuelanos também sofrem com a violência de Estado. O governo recorre à autoindulgente retórica do “inimigo externo”, para justificar a tentativa de se perpetuar no poder, bem como seu autoritarismo.
Não à toa, no mês passado, o governo Maduro foi denunciado por crime contra a Humanidade no Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda, devido à repressão contra manifestantes em 2014, episódio que deixou mais de 30 mortos, 800 feridos, 400 casos de tortura e 3.700 presos. O regime também é criticado por organismos como o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos e o Human Rights Watch.
Após resistir a marcar a data das eleições, o governo passou a jogar pesado contra a oposição. Sete candidatos puxadores de votos foram impugnados e há indicações de fraude, como a mudança de cédulas numa estratégia para confundir o eleitorado. A Venezuela também tentou limitar a ação de observadores internacionais, permitindo apenas uma missão da Unasul, mas, mesmo assim, vetou a indicação do brasileiro Nelson Jobim, ex-presidente do TSE, o que supostamente irritou a presidente Dilma.
Mas a gota d’água foi a morte a tiros de Luis Manuel Díaz, candidato de oposição e dirigente do partido Ação Democrática, durante um comício na semana passada. Para o governo, ele foi apenas uma vítima infeliz de um tiroteio entre gangues.
Ao recuar de uma ação mais dura contra as claras violações de direitos humanos na Venezuela e as tentativas de manipular as eleições, a presidente Dilma — que não pensou duas vezes em defender a aplicação da “cláusula democrática” contra o Paraguai, após o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo —, acaba por endossar a violência do regime bolivariano.
02 de dezembro de 2015
O Globo
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