Tudo indica que se não decidiu ontem à noite, não demora muito, talvez não passe de hoje, a iniciativa do presidente Eduardo Cunha, de dar seguimento ao pedido de impeachment da presidente Dilma. Pioraram as relações entre a Câmara e o palácio do Planalto, atravessadas pelas denúncias da Procuradoria Geral da República e as ações do Supremo Tribunal Federal contra parlamentares, a começar pelo senador Delcídio Amaral, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, entre outros.
Resumindo este inusitado fim de ano: mais do que a confusão, a crise é geral. A desfaçatez também. Todos procuram saltar de banda, defendendo-se de acusações cada vez mais óbvias de participação em trapalhadas. O presidente da Câmara só faz rebater, e mal, as denúncias que o enrolam sempre mais, encontrado-se a um passo de perder a função e até o mandato. Atrás das grades, o ainda senador Delcídio Amaral parece decidido a jogar barro no ventilador, abandonado que foi pelo Lula, pelo PT e agora pela presidente Dilma, através de entrevista concedida em Paris por força de uma confusão no trânsito, na hora de os presidentes ingressarem no centro de convenção Le Bourget, onde se realizaria a abertura da conferência do clima. Quer dizer, nem os franceses escapam.
AINDA PIOR
Se a última semana transcorreu sob a égide da falsa inocência de todo mundo, a atual dá a impressão de ser pior. Passarão todos a acusar todos, como se fosse possível a harmonia dentro da caverna do Ali Babá. Nem o Tribunal de Contas da União escapou, com a candidatura à reeleição de seu presidente, Aroldo Cedraz, submetido a uma sindicância interna por tráfico de influência de um filho nos julgamentos daquela corte.
Ninguém se entende no Congresso e no governo. Nos partidos, até que as oposições poderiam tirar proveito, mas continuam incompetentes. Já era para terem sugerido passar o apagador no quadro negro, ou seja, liderarem a proposta de eleições gerais em todos os níveis, para o país recomeçar. Senão ontem, ao menos hoje.
Enquanto isso, o desemprego aumenta, o custo de vida também, vai faltar dinheiro até para as eleições eletrônicas do ano que vem. Breve os serviços de água, luz e telefone serão paralisados por falta de pagamento do poder público. Em suma, não se tinha notícia de lambança igual na República.
VESTIMENTAS APROPRIADAS
Até o outrora correto Itamaraty não escapa. Jovens diplomatas contam que durante um debate sobre vestimentas apropriadas, num encontro de trabalho, um chefe tirou a roupa, ficou de cuecas para demonstrar que quando o figurino é pouco, chama a atenção.
A ser verdadeiro esse episódio, relatado no Globo de ontem, melhor seria chamar o Barão do Rio Branco de volta. Nossas representações lá fora estão sofrendo tanto de falta de recursos que nem as contas de água, luz e telefone vem sendo pagas.
02 de dezembro de 2015
Carlos Chagas
Nenhum comentário:
Postar um comentário