"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 29 de novembro de 2015

A TRAGÉDIA DE MARIANA, OS FATOS RUINS, A SAÍDA DE SIDNEY REZENDE DA GLOBONEWS



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Sidney Rezende fará falta aos telespectadores
A tragédia de Mariana, maior desastre ambiental da história do Brasil, esplendidamente traduzida na reportagem de Vinicius Sassine, O Globo de 27, e também pela reportagem de Estevão Bertoni, Folha de São Paulo de 25, que poderia ter sido evitada se a empresa responsável não engavetasse o plano de previsão que mantinha em sigilo, e o Ibama tivesse conseguido, como pretendia, embargar a barragem existente, é um exemplo marcante da força dos fatos que geram notícias ruins. Ruins, porém indispensáveis ao pleno conhecimento humano.
Assim não fosse, não teria sentido o enorme arquivo jornalístico, fotográfico, cinematográfico sobre a segunda guerra mundial, na qual morreram cerca de 50 milhões de seres humanos e que deixou em torno de 200 milhões de feridos. Grande parte dos quais com pernas e braços amputados, como demonstra o filme sobre o sepultamento de Winston Churchill, hoje no arquivo histórico britânico, focalizando o desfile de veteranos dos combates em sua homenagem na cidade heroica de Londres.
Não fossem as tragédias, como ressaltou o senador Afonso Arinos de Melo Franco, não teríamos obras como as de Shakespeare, especialmente Otelo, Romeu e Julieta, O Mercador de Veneza, Hamlet. Não fossem as tragédias, não teríamos o Édipo, de Sófocles. E por aí vai. A sequência de exemplos é infindável. Veja-se só, para acrescentar, a literatura policial existente no mundo.
SIDNEY REZENDE
Dito isso tudo, chego à saída de Sidney Rezende da Globonews. Lamentável. Eu o conheci em 1986, ano de eleições trabalhando na Rádio Jornal do Brasil. Percebi sua desenvoltura, sua inteligência, seu talento. Através do tempo minha impressão viria a se confirmar nos programas da GloboNews. Achei uma pena sua despedida que registrou na Internet, espaço com seu nome, sob o título Chega de Notícias Ruins. Cansou?
Uma surpresa em plena juventude, com a emoção que possui, com o cargo de destaque que ocupava. Fatos ruins? O que fazer? Todo jornalista tem de seguir o princípio de que não se pode brigar com os fatos. Outro princípio: nós, jornalistas, profissão que exerço há 60 anos, temos que nos lembrar que não somos donos das empresas nas quais trabalhamos. Não somos obrigados a endossar as versões sobre as quais não temos domínio. Mas, isso sim, não podemos ser obrigados a assiná-las. Entre uma situação e outra vai uma grande distância.
ERROS E ACERTOS
Num trecho de sua carta aberta, Sidney Rezende me parece sintetizar a razão de sua revolta: “O governo (Dilma Rousseff) acumula trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na dimensão exata. Da mesma forma que os acertos também devem ser publicados. E não são. Eles são escondidos. Para nós, jornalistas – acrescenta ainda – não nos cabe juízo de valor do que seria o certo no cumprimento do dever.”
Diz também o ex-âncora da Globonews: “Se pesquisarmos a quantidade de boçalidades escritas que, quando adotadas, deram errado, daria para construir monumento maior que as pirâmides do Egito. Nós erramos. E não é pouco. Erramos muito. Nós devemos defender os princípios permanentes e não transitórios.”
Sidney Rezende errou, como revela seu pensamento divergente em sua essência. Errou principalmente em sair da tela. Causou prejuízo a todos nós, privando-nos de sua imagem, de suas colocações inteligentes, de seu talento. Uma pena que deixa ao sair do palco dos acontecimentos que continuam e vão continuar eternamente a suceder para aqueles, como disse Bertoldt Brecht, que vierem depois de nós.

29 de novembro de 2015
Pedro do Coutto

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