O alvoroço provocado por uma meia sola ministerial que pouco mexe com a vida do cidadão comum acabou por conspirar, na semana passada, contra a repercussão que deveria ter merecido a história da nomeação do marido da ex-ministra Ideli Salvatti (PT-SC), contada pelo jornal O Estado de S. Paulo.
É uma história exemplar dos privilégios e desvios de conduta dos ocupantes do andar de cima, sejam quais forem eles.
Fundadora do PT e da CUT em Santa Catarina, ex-deputada e ex-senadora, Ideli concorreu e ficou em terceiro lugar na eleição para governar seu Estado em 2010, ano em que Dilma se elegeu presidente. O que poderia ter condenado Ideli ao ostracismo, temporário ou definitivo, abriu-lhe as portas da República.
Primeiro ela foi nomeada por Dilma ministra da Pesca e Aquicultura. Ali permaneceu até junho de 2011. Foi promovida para ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, responsável pela coordenação política do governo e por suas relações com o Congresso e os partidos. Bateu no teto. Depois disso só fez cair.
Começou o segundo governo Dilma como ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos. Perdeu o cargo para o deputado federal gaúcho Pepe Vargas (PT). Desempregada, descolou uma boquinha em Washington como assessora de Acesso a Direitos e Equidade da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Dá-se que nos seus atribulados anos no Congresso e no governo, Ideli descasou e casou de novo – desta vez com o segundo-tenente músico do Exército Jefferson da Silva Figueiredo, a quem ela conheceu tocando em uma banda militar. O que fazer para não deixa-lo no Brasil e, muito menos, leva-lo como desempregado?
Ideli bateu à porta do Comandante do Exército e pediu um emprego para o marido em Washington – sem sucesso. Então atropelou o Comandante e, por cima dele, fez o mesmo pedido a Jaques Wagner, então Ministro da Defesa. Conseguiu. E assim justificou-se Jaques, atual Chefe da Casa Civil da presidência:
- É evidente [que fui sensível ao pleito de não separar o casal].
Não passou pela cabeça do ministro, nem de Ideli, que o casal não estaria obrigado a se separar se o segundo-tenente músico fosse morar nos Estados Unidos à custa da mulher. O salário de Ideli é mais do que suficiente para garantir aos dois uma vida confortável. Mas sabe como é. Se o governo pode gastar mais... Que gaste.
O marido de Ideli foi nomeado por Jaques para o cargo de ajudante da Subsecretaria de Serviços Administrativos e de Conferências na Junta Interamericana de Defesa, também na capital americana. As nomeações dele e de Ideli, segundo o Estado de S. Paulo. geraram desconforto na própria OEA, no Itamaraty e entre militares.
Jeferson exercerá o cargo por dois anos e terá remuneração de U$ 7,4 mil, algo como mais de R$ 30 mil mensais. Para se mudar, recebeu ajuda de custo de cerca de US$ 10 mil, mais de R$ 40 mil. Sua dura jornada de trabalho será de 32 horas semanais. Jefferson fala russo. Dizem que isso pesou para que fosse nomeado.
06 de outubro de 2015
Ricardo Noblat
É uma história exemplar dos privilégios e desvios de conduta dos ocupantes do andar de cima, sejam quais forem eles.
Fundadora do PT e da CUT em Santa Catarina, ex-deputada e ex-senadora, Ideli concorreu e ficou em terceiro lugar na eleição para governar seu Estado em 2010, ano em que Dilma se elegeu presidente. O que poderia ter condenado Ideli ao ostracismo, temporário ou definitivo, abriu-lhe as portas da República.
Primeiro ela foi nomeada por Dilma ministra da Pesca e Aquicultura. Ali permaneceu até junho de 2011. Foi promovida para ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, responsável pela coordenação política do governo e por suas relações com o Congresso e os partidos. Bateu no teto. Depois disso só fez cair.
Começou o segundo governo Dilma como ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos. Perdeu o cargo para o deputado federal gaúcho Pepe Vargas (PT). Desempregada, descolou uma boquinha em Washington como assessora de Acesso a Direitos e Equidade da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Dá-se que nos seus atribulados anos no Congresso e no governo, Ideli descasou e casou de novo – desta vez com o segundo-tenente músico do Exército Jefferson da Silva Figueiredo, a quem ela conheceu tocando em uma banda militar. O que fazer para não deixa-lo no Brasil e, muito menos, leva-lo como desempregado?
Ideli bateu à porta do Comandante do Exército e pediu um emprego para o marido em Washington – sem sucesso. Então atropelou o Comandante e, por cima dele, fez o mesmo pedido a Jaques Wagner, então Ministro da Defesa. Conseguiu. E assim justificou-se Jaques, atual Chefe da Casa Civil da presidência:
- É evidente [que fui sensível ao pleito de não separar o casal].
Não passou pela cabeça do ministro, nem de Ideli, que o casal não estaria obrigado a se separar se o segundo-tenente músico fosse morar nos Estados Unidos à custa da mulher. O salário de Ideli é mais do que suficiente para garantir aos dois uma vida confortável. Mas sabe como é. Se o governo pode gastar mais... Que gaste.
O marido de Ideli foi nomeado por Jaques para o cargo de ajudante da Subsecretaria de Serviços Administrativos e de Conferências na Junta Interamericana de Defesa, também na capital americana. As nomeações dele e de Ideli, segundo o Estado de S. Paulo. geraram desconforto na própria OEA, no Itamaraty e entre militares.
Jeferson exercerá o cargo por dois anos e terá remuneração de U$ 7,4 mil, algo como mais de R$ 30 mil mensais. Para se mudar, recebeu ajuda de custo de cerca de US$ 10 mil, mais de R$ 40 mil. Sua dura jornada de trabalho será de 32 horas semanais. Jefferson fala russo. Dizem que isso pesou para que fosse nomeado.
06 de outubro de 2015
Ricardo Noblat
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