"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

CRISE: DILMA APONTA FALHA NA ARTICULAÇÃO FEITA POR MICHEL TEMER



A presidente Dilma Rousseff, irritada com a aprovação, pelo Senado, do projeto que corrige os vencimentos dos servidores do Judiciário, anunciou que vetará a matéria e reconhece que o governo falhou na articulação política. Reportagem de André Sadi, Valdo Cruz, Marina Dias e Flávia Foreque, expõe, claramente o episódio, na Folha de São Paulo de quinta-feira. O qual, sem dúvida, começou com uma crítica direta de Dilma ao vice Michel Temer que de, dois meses pra cá assumiu exatamente a articulação política do Executivo. Que fez Temer no desenrolar do fato em foco? Nada. Começou e como poderá acabar?
A articulação política do Palácio do Planalto, aliás, está fracassando. Não só em função das acusações do empresário Ricardo Pessoa aos ministros Edinho Silva e Aloizio Mercadante, mas também em face da perspectiva de José Eduardo Cardozo deixar o Ministério da Justiça, como assinalam Gabriele Mascarenhas e a mesma Andreia Sadi, na FSP de 2 de julho.
Eu disse que o episódio do reajuste ao Judiciário era o começo de mais uma crise no poder. Perfeito. Pois na verdade, não se sabe como poderá acabar. O presidente do Senado sustentou que a presidente Dilma Rousseff pode vetar a matéria. Porém admitiu a hipótese de o veto vir a ser derrubado. Afinal de contas, 70 senadores votaram unanimemente a favor, enquanto 11 se abstiveram. Não houve, portanto, nenhum voto contra sequer, incluindo-se a bancada do próprio PT. A proporção, inclusive, já fora aprovada pela Câmara Federal.
INFLAÇÃO ACUMULADA
O percentual da elevação, à primeira vista, pode parecer exagerado. Mas nem tanto se compararmos (quadro publicado na edição citada da FSP) colocando de um lado aumentos nominais que variam de 59 a 78%, e, de outro, a inflação acumulada de 2006 a 2015, que é de 67,4%, de acordo com o IBGE.
Dilma classificou de lamentável a decisão do Senado. Porém, mais lamentável é o processo que ocorre habitualmente no Brasil, no qual os salários são tragados porque eles variam de uma classe social para outra. O IBGE parte de uma média, mas toda média possui pontos mais elevados, outros causando menores reflexos. Pois na verdade, como sustentou Albert Einnstein num ensaio sobre a ciência da função, o conjunto não é igual à soma das partes. Se alguém permanecer submerso durante cinco minutos e outra pessoa somente um minuto, a média embaixo d’água terá sido de três minutos. Só que a que ficou cinco minutos pode ter morrido.
Os técnicos em economia altamente qualificados, como Joaquim Levy e Nelson Barbosa, preocupam-se com a incidência das perdas inflacionárias que possam atingir o capital bloqueando investimentos. Mas não demonstram a mesma preocupação quanto à corrosão dos salários diante do custo de vida, a qual afeta diretamente o consumo e, por tabela, reduz a produção nacional. Os servidores do Judiciário Federal enfrentaram, por quase uma década, uma perda de poder significativo de 67 pontos. Dose para elefante. Os presidentes Lula e Dilma não agiram a tempo para evitar tal acumulação negativa.
ISENÇÃO E OBJETIVIDADE
O efeito emerge agora, sob forma da aprovação de um projeto de lei. O acréscimo nas despesas é grande? Por certo que sim. Mas a economia alcançada pelo mesmo governo pela utilização da mesma correção durante nove anos? Este aspecto tem que ficar claro para que a opinião pública possa apreciar o tema com isenção e objetividade, não se deixando levar pelas aparências. A comparação concreta entre a inflação e a reposição é lógica e levará ao dimensionamento exato do problema. A falha de Michel Temer como articulador talvez venha daí.

06 de julho de 2015
Pedro do Coutto

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