Nada melhor e mais oportuno do que o destino para confrontar os fatos e iluminar as intenções, de um lado, e as versões, de outro, convergindo, para uma síntese no plano da realidade. Aconteceu (sempre ele) com o ministro Joaquim Levy, terça-feira, no Senado. Enquanto defendia cortes nos gastos do governo Dilma Rousseff (reportagem de Marta Beck, Cristiane Bonfanti e Eliane Oliveira), outra matéria da mesma Cristiane Bonfanti, com Gabriela Valente e Clarisse Spitz, revelava que o Tesouro Nacional divulgou que as contas de fevereiro, abrangendo portanto despesas e receitas, fechavam com um déficit de 7,4 bilhões de reais. As duas reportagens foram publicadas simultaneamente na edição de O Globo do dia seguinte, quarta-feira. E agora, Levy? – para lembrar o poema de Drumond de Andrade.
O resultado de fevereiro tem um agravante: nele não estão incluídos os juros para a rolagem da dívida interna. Assim, não houve sequer margem para a fantasia do superavit primário. Como esses juros encontram-se avaliados em 260 bilhões por ano, dividindo-se por 12 podemos estimá-los em torno de 22 bilhões mensais. O déficit real registrado em fevereiro foi na verdade de quase 30 bilhões de reais. Como se observa, várias vezes a economia, por ano, que o ministro destacou no Senado que seria obtida com o adiamento da entrada em vigor da lei de novembro de 2014 sobre o pagamento das dívidas de estados e municípios para com a União Federal.
CONFRONTO DIRETO
Os números têm a vantagem, no desenrolar dos debates, qualquer debate, de permitir o confronto direto entre as partes discordantes ou forçadamente concordantes. Como há de confirmar o especialista Flávio José Bortoloto, esclarecedor companheiro neste site. E não só os números, por completo, mas também as parcelas que os formam.
Como destaca por exemplo, o texto de Cristiane Bonfanti, Gabriela Valente e Clarisse Spitz, ao decompor as principais parcelas que geraram o déficit de fevereiro, o maior, até hoje, da série histórica iniciada a partir do mesmo mês de 1997. A maior parcela refere-se ao custeio e participação do Tesouro na formação de capital. Este item absorveu praticamente a metade dos 7,4 bilhões. Três vezes mais do que o aumento com a folha de pessoal e encargos sociais. O déficit com o seguro-desemprego pesou 1 bilhão nas contas. Significativo, sem dúvida, porém pesando em torno de 15% do desfecho negativo.
JUROS ALTOS
Em sua permanência de sete horas no Senado, Joaquim Levy, assinala O Globo, afirmou que, dentro das diretrizes da nova política econômica, os bancos públicos não poderão mais emprestar recursos com juros muito reduzidos. Só poderia estar focalizando o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o BNDES. Essa política – acrescentou – já esgotou seu curso e tem de ser modificada. Mas até agora, outra contradição, não foi. Tanto assim que os bancos oficiais estão avalizando mais um crédito, este de 3,1 bilhões, às empresas distribuidoras de energia elétrica, conforme o Valor publicou também na quarta-feira.
Inclusive o total desses créditos, somados, eleva-se a 37 bilhões de reais, cujo prazo de resgate foi prolongado de 36 para 54 meses, e que serão encargos transferidos aos consumidores do país através das tarifas que mensalmente têm de pagar. O ministro Joaquim Levy, além do PHD, tornou-se especialista em contradições. A penúltima está, como a FSP publicou, encontra-se na tradução de sua palestra aos alunos da Universidade de Chicago. Vamos ver o que acontece nos próximos capítulos.
03 de abril de 2015
Pedro do Coutto
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