"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 17 de março de 2015

O MINISTRO DE PATOS


Tropa 1

João Grande, lá na Paraíba, era um tropeiro alto e muito forte, de mãos enormes, pernas arqueadas e botas cravadas de ferro. Levou uma tropa para Patos, cidade vizinha, depois sentou-se no bar, pediu uma cerveja e ficou ali olhando a praça e o povo.
Percebeu que, na calçada em frente, as pessoas iam andando e, de repente, quando chegavam diante de uma casa, desciam da calçada, davam uns passos na rua, subiam novamente a calçada e seguiam.
Foi ver o que era. Era a casa do delegado, que tinha posto uma placa na porta proibindo toda pessoa de passar pela calçada da casa dele, para não fazer barulho. É porque gostava de tirar uma madorna, uma soneca, todas as tardes.

Interior 1

João Grande ficou indignado. Arrancou a placa e começou a andar na calçada proibida, batendo forte no chão com as botas cravadas de ferro. O delegado, irado, saiu de lá de dentro como uma fera, os olhos esbugalhados, abriu a porta, viu aquele homenzarrão de botas barulhentas, deu um sorriso amarelo, afinou a voz:
– Boa taaarde!

Burro 3

João Grande não disse nada. O delegado também calou. Na calçada, já pronto para descer, andar pela rua e subir novamente a calçada, como fazia todos os dias e a semana toda, vinha vindo um homem baixinho, pequenininho.
Vinha trotando, quase correndo, com um cesto na cabeça equilibrado numa rodilha de pano.
Quando viu a cara amofinada do delegado, parou, olhou bem para ele e gritou:
– Olha o abacaxi!

Nunca mais, a partir daquele dia, o homenzinho do abacaxi desceu da calçada do delegado. Ele nem ninguém. João Grande jogou a placa na rua e voltou pra sua terra com as mãos enormes e as botas cravadas de ferro.
(*) Excertos de artigo do jornalista Sebastião Nery.
17 de março de 2015
José Horta Manzano, in Brasil de longe

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