"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

BRASIL x BOTSWANA


gaborone
Vista da cidade de Gaborone, em Botswana.
O senso comum esquerdista costuma colocar os países desenvolvidos e capitalistas como exploradores, uma boa parte do restante do mundo como explorados, e a maioria dos países da África como pobres-nações-mega-exploradas-e-sem-esperanças. É a velha mentira da economia de soma zero, que afirma que para alguém ser rico outro alguém tem que ser pobre.
Já o senso comum conservador é o de que qualquer nação que abrace certos princípios de liberdade individual e econômica, e opte por uma forma democrática e estável de governo, estará no caminho para o desenvolvimento e para a superação da pobreza. Um caso emblemático deste tipo de abordagem ficou famoso duas décadas atrás, com os chamados “Tigres Asiáticos”, que conseguiram um salto de desenvolvimento e de criação de riquezas sem precedentes na história recente.
Mas seria possível que algo assim acontecesse num lugar como a África, um continente que de acordo com todos os socialistas, comunistas e esquerdistas que conheço, foi destruído pela exploração conduzida por homens brancos malvadões? E mais, se tal lugar existisse, seria possível compará-lo ao Brasil, país que caiu nas mãos da esquerda há mais de duas décadas e que, portanto, não pode alegar estar sendo explorado por governantes capitalistas diabólicos?
A resposta é sim, e eu sugiro compararmos Brasil e Botswana.
O Brasil tem mais de 8 milhões e meio de quilômetros quadrados, e uma linha costeira das maiores do mundo. É também abundante em água doce, tem poucas zonas desérticas, e uma das maiores áreas cultiváveis do planeta. Além disso, desde o meio do século passado conta com um parque industrial e com uma infra-estrutura de energia e transporte que, se não é a ideal, está longe de ser desprezível. Independente desde 1822, o país já teve sete constituições e algumas rupturas da ordem democrática.
Botswana tem apenas 580 mil quilômetros quadrados, quase do tamanho do estado de Minas Gerais, e não possui acesso a nenhum oceano; pelo contrário, grande parte de suas terras é árida. Sua independência se deu em 1966, menos de 50 anos atrás. No passado foi um protetorado britânico (parece que onde esses ingleses malvados colocaram a mão as coisas andam direito) e desde sua independência não passou por nenhum tipo de instabilidade democrática, ou seja, nenhum golpe de estado ou revolução. A constituição do país data de 1966, e é a mesma até hoje.
O Brasil possui um PIB per capita de US$ 11.900,00 (2011; em 1999 era de US$ 6.150,00), IDH de 0,744 e coeficiente de Gini de 51,9. Botswana possui um PIB per capita de US$ 16.200,00 (2011; em 1999 era de US$ 3.900,00), IDH de 0,683 e coeficiente de Gini de 63,0. E quanto ao índice de liberdade econômica? A nação africana ocupa uma honrosa 36a posição, enquanto o Brasil amarga o 118o lugar – horroroso, em vez de honroso. Já sobre a liberdade de imprensa, Botswana tem um índice melhor até do que Estados Unidos e Itália, na ponta de cima da tabela, enquanto o Brasil faz companhia a países com ditaduras e governos autoritários, no extremo inferior.
O Brasil teve um surto de lucidez econômica nos governos Itamar e FHC, optando na época pela ortodoxia na condução da economia, o que nos levou à estabilidade e ao crescimento por diversos anos. Não preciso dizer que toda essa herança foi jogada no lixo pelos governos petistas, que levaram o país de volta à inflação, ao endividamento e à falta de confiança internacional. Botswana, por outro lado, tem mantido uma das mais altas taxas de crescimento econômico do mundo, com média acima de 9% ao ano, graças a uma política fiscal prudente e a um ótimo uso dos recursos naturais do país, rico em diamantes. Os sucessivos governos desde a independência jamais abandonaram as práticas de responsabilidade fiscal e o bom relacionamento com parceiros internacionais. Além disso, o ambiente para quem quer fazer negócios é excelente, com impostos baixos e incentivos reais e concretos ao empreendedorismo.
Resumindo, dentre esses dois países, aquele que optou pela ortodoxia econômica e pelos princípios conservadores está crescendo e tirando sua população da miséria, sem o emprego de programas de esmola pública. O outro, que optou pela heterodoxia (sem falar na pilantragem) econômica e pelos princípios socialistas, está estagnado, endividado e em meio a uma crise hídrica e energética, que só não será pior justamente pelo fato da economia estar parando. Os petistas alegam que trouxeram a justiça social ao Brasil, e que livraram o país de séculos de exploração; na verdade eles encheram os bolsos próprios e do partido e quebraram o país. A pequena Botswana permaneceu imune aos apelos revolucionários marxistas, mesmo incrustada numa região dita explorada, e vem gerando riqueza num ritmo muito forte, mostrando que não há herança histórica que resista a bons princípios de governança.
O tempo em que podíamos comparar o Brasil à Inglaterra ou à Rússia já ficou para trás. O que nos resta agora é tentar alcançar Botswana, torcendo para não virarmos uma Venezuela antes…

* * *
Era Eva brasileira?Existe uma expressão muito comum entre os juízes e promotores de justiça americanos, empregada quando a acusação tenta usar provas obtidas de forma ilegal. Por exemplo, se um policial consegue apreender a arma utilizada num crime através de uma busca e apreensão sem mandado judicial, esta arma não poderá ser usada pelos promotores para compor o caso de acusação, pois isso seria comer do fruto proibido.
Este conceito diz muito sobre o modo com que um povo faz suas coisas. Afinal, ele é justamente o oposto do terrível “os fins justificam os meios”. Comer do fruto proibido é negar o conjunto de regulamentos que torna a sociedade um lugar minimamente decente de se viver. Quando os fins justificam os meios, tudo é possível, e todas as atrocidades são permitidas em nome de um bem maior. Foi assim que Stálin, Mao, Hitler e tantos outros conseguiram assassinar tanta gente, convencendo as pessoas de que em prol de um “bem maior” tudo é justificável, até mesmo a morte de milhões de pessoas.
O Brasil, infelizmente, não é um país onde se evita o fruto proibido. Na verdade, parece que quanto mais proibido, mais se come dele. A declaração do sambista Neguinho da Beija-Flor, dada ontem à Rádio Gaúcha de Porto Alegre, exemplifica muito bem o que estou dizendo. Disse ele:
"Se hoje temos o maior espetáculo audiovisual do planeta, agradeça à contravenção."
Ele se refere à história dos desfiles cariocas, que na época em que eram organizados pelo poder público eram extremamente desorganizados (como quase tudo o que o poder público faz no Brasil), mas que passaram a ser o espetáculo que são depois que os contraventores se juntaram e assumiram a organização da festa. Mas, afinal de contas, o que é uma contravenção quando o resultado é tão espetacular, não é mesmo? Uma escapada aqui, um “debaixo dos panos” ali, e de fruto proibido em fruto proibido nós construímos um país de bandidos, onde qualquer fim, por mais banal que seja, justifica todos os meios. E assim vamos criando e elegendo Lulas, Dilmas, Sarneys, Renans e Collors, e afundando cada vez mais em nossa falta de princípios e moral.
Nunca acreditei que Deus fosse brasileiro, como dizem. Já Eva…
24 de fevereiro de 2015
Flavio Quintela é escritor e tradutor de obras sobre política e filosofia, e autor do livro “Mentiram (e muito) para mim”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário