Neste período que podemos considerar como uma Era da Contradição, em que a riqueza total insiste em conviver com a miséria absoluta na imensa maioria das nações, que ainda estão longe de alcançar a ansiada Justiça Social, o mundo estava precisando de alguém como Dom Jorge Mario Bergoglio.
Sua eleição para 266º Papa da Igreja Católica e atual chefe de estado do Vaticano, em 2013, foi uma surpresa.
Ele começou seu pontificado exaltando a figura de São Francisco de Assis. Na escolha do nome, já estava sinalizando a obra que empreenderia. Logo depois, livrou-se da riqueza dos paramentos litúrgicos e das mordomias da Santa Sé.
Criticou duramente a vaidade e o luxo cultivados por muitos altos sacerdotes e deu o exemplo, assumindo uma simplicidade de vida e de hábitos mais adequados à Cristandade. Ao invés de sapatos Prada de seda, via-se pela primeira vez um Papa usando modestos tênis e condenando os carros de luxo à disposição de bispos e cardeais.
Um ano depois, já se sabe que ele marcará sua presença na história da Cátedra de São Pedro como aquele que, depois da Encíclica Mater et Magistra, deu seguimento à reforma esboçada por João XXIII em 1961, com a idealização do marco decisivo da justiça social.
HOMOSSEXUAIS
A reforma delineada pelo Papa Francisco está demolindo tabus e revolucionando a Igreja numa velocidade impressionante. Em seu primeiro Sínodo, este ano, ele estendeu as mãos aos homossexuais, enfrentando o reacionarismo de cardeais conservadores.
“As pessoas homossexuais” – acentuou o documento preliminar do Sínodo – “têm dons e qualidades que podem oferecer à comunidade cristã; é preciso acolhê-las aceitando e valorizando sua orientação sexual.”
Como nosso grande amigo Pedro do Coutto assinalou aqui na Tribuna da Internet, no momento em que o Sínodo de 2014 recomendou inicialmente acolher os homossexuais, de forma indireta, porém automática, a Igreja liberou a prática de sexo independentemente do vínculo civil e religioso, demolindo também o preconceito quanto aos divorciados e, de forma indireta, exaltando o amor como sentimento maior.
Ao mesmo tempo, o Papa Francisco deu ênfase a um combate tenaz e franco a um dos maiores problemas da Igreja Católica e de outras religiões, que vinha sendo encoberto através dos tempos – a prática da pedofilia por sacerdotes.
ECUMENISMO E POLÍTICA
Atuando em todas as frentes possíveis, nessa ciclópica tarefa de adaptar a Igreja aos tempos modernos e aproximá-la aos mais necessitados, o Sumo Sacredote deu também largos passos em busca do ideal do Ecumenismo, através da defesa do respeito e da integração entre as diferentes religiões.
Um dos destaques foi seu recente encontro com o líder da Igreja Ortodoxa, patriarca Bartolomeu I, quando firmaram uma declaração conjunta pela reunificação das duas igrejas, a Católica e a Ortodoxa, separadas há mil anos.
No último dia de sua visita à Turquia, Francisco esteve na catedral ortodoxa de Istambul, onde assegurou que a Igreja Católica não pretende impor nenhuma exigência à Igreja Ortodoxa no caminho da unidade entre as duas.
O Papa disse que as duas igrejas já estão “no caminho rumo à plena comunhão”, indicando que há, na prática, “sinais eloquentes de uma unidade real”.
Simultaneamente, o Papa Francisco trabalhava na política mundial, tecendo o acordo histórico entre Estados Unidos e Cuba, ao intermediar as negociações para demolir o bloqueio imposto ao regime de Havana e reaproximar as duas nações.
LUTA INTERNA NO VATICANO
Em meio a tudo isso, Sua Santidade ainda trava uma luta terrível atrás dos muros do Vaticano, enfrentando os cardeais conservadores que se recusam a abandonar a vida de luxo e riquezas a que estão acostumados, e que sempre evitaram combater claramente a prática da pedofilia.
Nesta segunda-feira que antecedeu o Natal, o Papa Francisco, num discurso de severidade sem precedentes, condenou as rivalidades, as calúnias e as intrigas que afetam a Cúria.
No pronunciamento anual aos membros do governo da Igreja, o Papa afirmou que, “como qualquer corpo humano”, a Cúria sofre de “infidelidades ao Evangelho” e de “doenças que precisa aprender a curar”, usando expressões fortes como “alzheimer espiritual”, “terrorismo do falatório”, “esquizofrenia existencial”, “exibicionismo mundano”, “narcisismo falso” e “rivalidades pela glória”.
“A cura é o fruto da tomada de consciência da doença”, sintetizou o Papa, pedindo que os bispos e cardeais se permitam que o Espírito Santo inspire suas ações, invés de confiar apenas em suas capacidades intelectuais.
Por tudo isso, não resta mais dúvidas de que o mundo estava mesmo precisando de alguém como Jorge Mario Bergoglio, uma Papa destinado a ser consagrado pela História da Humanidade.
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PS - Peço desculpas aos comentaristas e leitores. Estava redigindo o artigo e tive de interromper, para que o técnico em informática Jorge Pinheiro fizesse uma limpeza no computador e instalasse um novo antivírus. Por engano, acabei postando o rascunho do texto do artigo, que ficou no ar durante mais de 30 minutos, me causando uma vergonha danada.
Desculpem a nossa falha, Feliz Natal a todos e vamos rezar para que o Papa Francisco viva ainda por muitos anos e nos ajude a suportar esta Era da Contradição, em que o mundo desgraçadamente está mergulhado.
24 de dezembro de 2014
Carlos Newton
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