Discurso de encomenda – Ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa disse, durante depoimento à CPMI que apura desvios na estatal, que escreveu e-mail sugerindo uma forma de evitar a paralisação das obras da refinaria de Abreu e Lima, enviado a Dilma Rousseff por orientação da Casa Civil, na época chefiada pela petista. As afirmações foram feitas na reunião realizada nesta quarta-feira (2), quando respondia a questionamentos do vice-líder do PPS, Arnaldo Jordy (PA).
Paulo Roberto disse a Jordy que a reportagem da revista Veja errou ao atribuir a ele interesse em continuar com o esquema de pagamento de propina para ser distribuída a partidos da base. “Eu estava enojado do processo, não queria mais continuar”, disse Paulo Roberto Costa que, na reunião, se encontrou, para uma acareação, com Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional, a quem acusou – durante processo de delação premiada – de receber propina.
“Há um fato novo aqui hoje: estamos sabendo que houve uma provocação da Casa Civil para o envio do e-mail pelo senhor Paulo Roberto. Isso significa que já se tinha conhecimento das irregularidades que ocorriam na Petrobras e se pedia informações sobre como manter as obras da refinaria, embora houvesse algo ilegal acontecendo”, afirmou Jordy. O deputado salientou que desde aquela época Dilma tinha ciência do propinoduto na companhia petrolífera.
O e-mail a que Arnaldo Jordy se referiu foi enviado por Costa a então ministra Dilma Rousseff em setembro de 2009, quando o Tribunal de Contas da União (TCU) detectou superfaturamento das obras de Abreu e Lima e a Comissão Mista de Orçamento do Congresso decidiu pela paralisação dos trabalhos. Paulo Roberto sugeriu uma “solução política”. O então presidente Luiz Inácio da Silva vetou a paralisação e ignorou as advertências do TCU.
O vice-líder do PPS disse que estava satisfeito com o fato de Paulo Roberto ter ratificado suas declarações na delação premiada que, conforme ressaltou, “tem o objetivo de extirpar todos aqueles que tiveram uma ação criminosa e predatória diante do interesse público e dos bens públicos”. O ex-diretor de Abastecimento acrescentou, na reunião, que os desvios não ocorriam apenas na Petrobras, mas também em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrelétricas.
Como Cerveró continuou negando aos parlamentares ter conhecimento do esquema de propina e Paulo Roberto manteve as acusações, Jordy advertiu: “alguém está mentindo”. O deputado ressaltou que acareação serve para esclarecer pontos “diametralmente opostos como esse, afirmações frontalmente contraditórias”. Os dois ex-diretores, entretanto, não chegaram a se enfrentar diretamente. Os posicionamentos deles foram repassados a partir de questionamentos dos deputados e senadores.
Jordy cobrou de Cerveró a mudança de posição dele, que isentou de culpa pela compra da refinaria de Pasadena a presidente Dilma, que na época era presidente do conselho da Petrobras. “Recentemente, na Comissão de Ética Pública o senhor repassou a responsabilidade a Dilma, então presidente do conselho”. O ex-diretor da Área Internacional respondeu que não havia mudado sua história. “A responsabilidade pela aquisição de ativos (caso de Pasadena) cabe ao Conselho Administrativo. É uma questão estatutária”.
Como Paulo Roberto admitiu na Justiça ter recebido R$ 1,5 milhão em propina ocupando uma diretoria que, a priori, nada tinha a ver com a compra de Pasadena, Arnaldo Jordy foi direto: quis saber de Cerveró quanto foi a propina dele. O ex-diretor negou ter recebido dinheiro pelo negócio que ele recomendou à companhia, mas que só trouxe prejuízos. “O senhor foi o agente direto disso, intermediou a transação”, insistiu. Cerveró manteve sua postura e continuou a negar.
02 de dezembro de 2014
ucho.info
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