Ora vejam só. Na última quarta-feira, a senhora Graça Foster propôs à presidente Dilma a substituição de toda a diretoria da Petrobras. Nessa novela, o enredo é conhecido. Muitos personagens, também. O mais novo é a geóloga Venina Velosa da Fonseca, cujo relato contém cenas de gangsterismo. Quando denunciou o pouco que sabia do muito que acontecia, encostaram-lhe uma pistola na cabeça, ameaçaram seus filhos e a expatriaram.
O Brasil real já sabe. A Petrobras foi aparelhada pelo Comando Vermelho, pelos sócios do Clube da Estrela, que governa e faz girar a roda da história em nosso país há mais de uma década. Mas o Brasil do faz de conta, do me engana que eu gosto, funciona de outro modo. Acredite, foi necessário que a presidente da Petrobras fosse ao Palácio do Planalto propor a Dilma a demissão da diretoria da empresa!
Causa surpresa a conduta da presidente? É bom lembrar que no dia 27 de outubro, dia seguinte à eleição, já lá vai mês e meio, Dilma declarou ao Jornal Nacional, referindo-se à corrupção na Petrobras: “Não vou deixar pedra sobre pedra!”. Pois deixou. Deixou cada pedrinha no seu lugar. Você sabe como são essas coisas no jogo de xadrez – às vezes, uma pedra mal mexida faz desandar a partida.
ESCALA RICHTER
Ao longo desse período, cada dia reservou ao noticiário nacional algo capaz de estremecer a escala Richter de quem tenha a mínima sensibilidade política e moral. E a que se dedicou a presidente Dilma? Manteve-se cumprindo o dever: protegendo a linha de fundo de seu tabuleiro, lá onde estão o rei e a rainha, cujas cabeças perdem preço tão rapidamente quanto se depreciam as ações da Petrobras.
Ah, as ações da Petrobras! Saíram da lista das blue chips e foram para os artigos, incisos e alíneas do Código Penal, as ações da outrora reverenciada Petrobras!
O momento pertence às instituições da República. Ou elas cumprem seu papel ou o povo voltará às ruas para proclamar sua revolta e sua vergonha. Não será apenas vergonha ante o que esse governo, seu partido e seus associados fizeram com o país e com a imagem do país. Será uma revolta contra as instituições e sua condescendência criminosa.
O povo já percebeu que não pode contar mais com outras veneráveis instituições que, historicamente, funcionavam como faróis e como vigilantes dos grandes valores nacionais – entre outras, a CNBB, a OAB, a ABI. Hoje elas se omitem, ou concedem apoio explícito ao Comando Vermelho, aos sócios do Clube da Estrela.
17 de dezembro de 2014
Percival Puggina
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