"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A MATRIZ ENERGÉTICA EM CRISE

O Brasil tinha tudo para ter a melhor matriz energética do mundo, baseada na hidroeletricidade, na energia eólica e nos biocombustíveis (etanol). De quebra, poderíamos usar o gás natural e, por último, o petróleo. Duas poderosas empresas, a Eletrobras e a Petrobras, detentoras de grande expertise e quadros competentes, poderiam, com o prestimoso capital de empresas privadas nacionais e internacionais, alavancar o país, como nenhum outro, com baixo e aceitável nível de emissões de CO2.

Bastaram 12 anos de PT para inviabilizar, jurídica e operacionalmente, a Petrobras e a Eletrobras, embaralhando a nossa política energética com modelos operacionais inadequados, de tal modo que estamos envolvidos em severa crise, segundo os especialistas e institutos dedicados ao setor, como, por exemplo, o Acende Brasil, voltado à pesquisa, e as dezenas de consultorias de nível internacional aqui sediadas.

Enquanto Lula e Dilma se deram ao empenho de complicar a matriz energética, no exterior muitos fatos aconteciam sem que nos déssemos conta das consequências. Vamos listar os mais importantes: a) a alteração do regime competitivo de concessão (pesquisa e lavra) pelo de partilha com a Petrobras, necessariamente sócia com 30% em qualquer exploração operada por empresas privadas, afastou os grandes players, forçando a estatal brasiliera a ser a empresa mais endividada do mundo no setor petrolífero (obrigada a arcar sozinha com uma tarefa difícil que deveria ser compartilhada, em nome da celeridade e do lucro); b) os leilões de áreas exploráveis, mesmo no modelo de participação de 30% da Petrobras, praticamente pararam.

Valiosos capitais de risco e empresas de alta tecnologia deixaram de ser usados nos esforços de pesquisa e exploração de petróleo e gás (pura perda de tempo); c) a exigência de conteúdo nacional nas encomendas da Petrobras encareceram o custo dos equipamentos e a rapidez das entregas, atrasando o aproveitamento das jazidas; d) o regime diferenciado de contratação (RDC) adotado pela companhia, degenerou na maior corrupção da história recente do Brasil, minando a sua credibilidade internacional; e) enquanto isso, os EUA, no Texas e no nordeste, elevaram ao máximo a exploração do xisto betuminoso, tornando-se exportador.

O México saiu do modelo estatal e franqueou o Golfo do México às grandes petroleiras privadas; a Rússia triplicou a capacidade de extrair e vender petróleo e gás. A China tornou-se a quinta maior produtora do mundo. A Arábia Saudita, para frear o avanço dos EUA e das energias não fósseis, porém de alto custo, derrubou os preços da commoditie, negando-se a reduzir a produção (dizem alguns que trará o preço a 45 dólares o barril, para inviabilizar a exploração do xisto nos EUA).

Em conclusão, a ausência de um quadro estratégico próprio fez a Petrobras fechar os olhos para o exterior e para seu setor de negócios. A baixa de preço do petróleo a pegou com as calças arriadas. O pré-sal só dá lucro, assim mesmo mínimo, com o barril a 60 dólares. Abaixo desse preço torna-se antieconômico. Para uma empresa que não aumentou o preço interno dos combustíveis enquanto podia (para gerar caixa), obstada pelos interesses de Lula-Dilma e do PT, forçando-a ao prejuízo, a situação agora está insustentável. Com Drumond é de se perguntar: "E agora José Inácio?"

Na área da energia limpa, a antecipação (quebra de contrato) das concessões atrapalhou geradoras e, principalmente, distribuidoras de energia elétrica. Dilma reduziu o setor elétrico a um monte de cacos, desde uma dívida de curto prazo de R$ 80 bilhões, que, nós consumidores, vamos pagar, ao uso errado de usinas de geração a fio d"água, sem grandes reservatórios, e ao atraso generalizado na construção de linhas de transmissão. Estamos emporcalhando o meio ambiente com termoelétricas de alto custo. Aqui, os ambientalistas do PT calam-se, mas impediram obras estruturantes atrasando as licenças ambientais. Um romântico indianismo, uma adoração quase fálica pelos troncos das árvores e um afeto ridículo pelas rãs, impediram, quando não atrasaram, usinas hidroelétricas de energia limpa, com grandes reservatórios que tanta falta nos fazem em quadras de estiagem no Sudeste, como a que estamos passando.

Navegantes felizes de mares por outros desbravados, mormente por FHC, o estabilizador da economia do país, os governos do PT (Lula e Dilma) haverão de ser vistos no futuro como de desvairado populismo, no melhor estilo da idiotia sul-americana de que nos fala Vargas LLosa, e como destruidores da economia do país, algozes de estatais submissas à politicagem. A Eletrobras e a Petrobras não mereciam esse triste destino, nem o humilde povo do Brasil, vitimado pela demagogia da luta de classes, o tal do "nós" contra "eles", em voga durante as recentes eleições.


17 de novembro de 2014
Sacha Calmon. Correio Braziliese

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