"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

POR FALTA DE CREDIBILIDADE, 2015 TEM CENÁRIO DESAFIADOR




 

O desafio do segundo mandato de Dilma Rousseff passa inevitavelmente pela retomada da confiança entre governo e empresários, relação bastante abalada durante os primeiros quatro anos da gestão atual. Esse retorno da confiança mútua entre os dois lados pode fazer com que o investimento destrave e a economia brasileira volte a crescer.

Na avaliação dos economistas ouvidos pelo Estado, a sinalização dos passos econômicos do governo vai ser importante, sobretudo na política fiscal, área mais crítica da economia. No primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff, o cenário inicial não deverá ser fácil. A economia brasileira deve continuar apresentando baixo crescimento e a inflação continuará pressionada, muito próxima do limite superior da meta do governo, que é de 6,5%.

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RECLAMAÇÃO NÃO PRODUZ CRESCIMENTO, DIZ DELFIM
Para o ex-ministro Delfim Netto, não resta alternativa para a economia a não ser crescer. Na avaliação dele, o problema fiscal é o número um, “mas ninguém vai fazer crescimento cortando”.

Por que a economia brasileira tem tantos desequilíbrios?
O Brasil deixou de crescer por causa da murcha da indústria. A partir de 2009, o que não se recuperou foi a produção industrial, por um motivo muito simples: o uso do câmbio como substituto à política de combate à inflação. Houve uma recessão, que ajudou a piorar a situação fiscal. Não tem outra saída ao Brasil a não ser voltar a crescer. É por isso que todos esses programas – corta isso, corta aquilo, faz isso, faz aquilo – têm de ser precedidos de uma volta de confiança entre o setor empresarial e o governo.

Por quê? 
Para resolver qualquer questão, inclusive o fiscal – o problema número um -, precisa de crescimento. Ninguém vai fazer crescimento cortando (gastos). Levou tempo, mas o G-20 chegou à conclusão de que eles cortaram durante seis anos e deu tudo errado. Agora, estão tentando propor uma política de investimento conjunto. Todo mundo puxa para cima e a coisa provavelmente vai dar certo. Mas tem de começar com um bom programa com começo, meio e fim e que vai dizer o seguinte: eu vou apresentar tal medida, vou ter uma política fiscal razoável, uma política econômica cuidadosa e uma política cambial realista.

Como o governo pode retomar a confiança dos empresários?
Acho que o governo tem de dar uma demonstração clara de que vai agir. A minha sugestão é aprovar duas coisas. A primeira é a reforma do ICMS, que está pronta e pode ser aprovada com muita rapidez. A outra medida é uma velha proposta da CUT, a livre negociação entre trabalhadores e empresários, sob o controle do sindicato, respeitando todos os direitos dos trabalhadores. Essa livre negociação pretere a lei. Na minha opinião, ela (Dilma) vai dar ao trabalhador a consciência de que o emprego não vai diminuir e, para o empresário, que começou um movimento real de mudança. Essas duas coisas têm de ser combinadas com o investimento em infraestrutura e políticas cambial e industrial adequadas.

Quais seriam os impactos dessas medidas?
Você deslancha os dois vetores fundamentais para o crescimento – de um lado investimento e do outro a ampliação do setor exportador. Nesse processo, se o País crescer 2%, 2,5% em 2015, 80% do problema fiscal está resolvido. Agora, é claro que precisa de medidas fiscais, controlar despesas. Precisa nomear um grupo de trabalho para fazer um orçamento de base zero.

Como funcionaria?
É preciso que um grupo de trabalho analise item por item do Orçamento. Deve haver 30 mil projetos ou programas que podem ser fechados sem que aconteça nada. O Orçamento hoje sobrepõe um programa em cima do outro, mas nunca se extingue nenhum.

Como mediar a necessidade de cortar despesa e acelerar o crescimento da economia?
Se começar o ajuste cortando gastos e elevando a taxa de juros, a economia vai para uma bruta de uma recessão. Controlar a política fiscal é necessário. É a mais importante de todas. A situação é complicada porque tem um déficit público de 5% do PIB. É muito. Boa parte disso é produto do quê? Primeiro, de um descuido. Estavam vendo desde o começo que a economia ia crescer zero, mas se supôs 2,5%. Se tirar dos 5% esses 2,5%, você volta aos 2,5%. Ou seja, uma boa parte da confusão fiscal foi produzida pela restrição ao crescimento e não vai resolver simplesmente cortando despesa.

E os sinais do governo? O ministro Guido Mantega (Fazenda) falou em reduzir o papel dos bancos públicos, e a Dilma tem dito que fará o dever de casa.
São pequenas coisas. Aqui, estamos cuidando da ‘macro’. Você precisa de uma quebra dessa paralisia, colocar uma nova situação em cima da mesa. Uma situação na qual o governo diga o que vai fazer, e o setor privado concorde e corra o risco junto. Há muito exagero. Ela (Dilma) não ganhou a eleição porque o povo é idiota. Só os idiotas pensam isso. Ela ganhou a eleição porque a maioria se sente melhor do que se sentia antes. E tem de se convencer do seguinte: terminou a eleição e ela recebeu um voto de confiança. Enquanto ficar com cara feia e batendo a cabeça na parede, não vamos a lugar nenhum. Reclamação não produz crescimento.

18 de novembro de 2014
Luiz Guilherme Gerbelli
Estadão

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