Inalterados os resultados tanto do Ibope quanto o do Datafolha, ambos os candidatos têm motivos para comemorar, numa eleição que será decidida, ao que tudo indica, no detalhe, que é onde mora o diabo. Aécio Neves passou incólume pela 1ª semana de desconstrução desencadeada pelo marqueteiro João Santana. O tempo ficou mais curto para a tarefa de colocar o candidato tucano no micro-ondas de destruir reputações que a campanha petista usa cada vez com menos escrúpulos.
É preciso notar, no entanto, que segundo o Datafolha a rejeição a Aécio subiu um pouco, aproximando-o da presidente Dilma: 38% a 42%, quase um empate técnico, o que pode ser já resultado da ação do marqueteiro petista. A presidente Dilma, por sua vez, também pode comemorar o fato de que a semana em que seu adversário recebeu mais adesões não produziu nenhuma mudança no eleitorado.
É certo que os eleitores de Marina já haviam se decidido em sua maioria por Aécio, mas Mauro Paulino, diretor do Datafolha, chama atenção para a migração dos marineiros no Rio de Janeiro, onde parece que eles estão indo em peso para Dilma. Esse é um movimento natural, pois a votação no Rio em Marina foi mais de esquerda do que de protesto contra o governo.
Se se confirmar que Aécio cresceu no Rio e está empatado com Dilma, pode ser sinal de que essa migração não teve grandes consequências.
O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, do Iuperj, ampliando a análise sobre os dados das pesquisas do Ibope e Datafolha, acha que Aécio surfa numa onda de "mudança com segurança", que conjuga dados aparentemente inconsistentes entre os 73% que desejam mudanças (Datafolha) e os 80% que se dizem satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida que levam hoje (Ibope). O fato mais paradoxal para ele é que é justamente essa nova classe média, que ascendeu nos 12 anos de governo petista, embora satisfeita com a vida (+ de 5 salários = 84% de satisfação; 25-34 anos = 83%; com curso superior = 85%), está desejando mudança no modo de governar, na gestão pública e nos serviços públicos.
Geraldo Tadeu Monteiro lembra que, segundo Marx, toda necessidade suprida gera uma nova necessidade. Provavelmente, diz ele, esses setores estejam temerosos não propriamente de perder o que adquiriram nos últimos anos, mas quanto às possibilidades de manutenção dessa condição com o atual modelo de crescimento econômico.
A ideia é que é preciso fazer evoluir esse modelo para que ele mantenha esses setores nos patamares já atingidos. A passagem é estreita tanto para o governo quanto para a oposição, avalia Tadeu Monteiro. As campanhas, munidas de pesquisas quantitativas e qualitativas, naturalmente sabem disso e buscam, cada uma a seu modo, propor mudança.
Daí a ideia de "mudança com segurança", que pode ser o fator decisivo neste 2º turno.
O candidato que encarnar essa "mudança com segurança" terá grandes chances de captar o voto da classe média intermediária que, segundo Mauro Paulino, decidirá a eleição, já que as classes média alta e média estão com Aécio, e os de mais baixo salário e escolaridade estão com Dilma. Entre os classificados como classe média (Datafolha), Aécio é apontado por 50% como o mais apto a fazer as mudanças necessárias, contra 39% que acreditam que Dilma é a mais preparada para isso.
Conspirações
O raio pode cair mais uma vez no mesmo lugar. O 2º turno será realizado no próximo dia 26, um domingo, e na terça-feira, dia 28, é dia do funcionário público. Não é feriado nacional, mas considerado ponto facultativo. Não seria de estranhar se os governos considerassem ponto facultativo também a segunda-feira, dia 27, como aconteceu na eleição para prefeito no Rio em 2008, também realizada num domingo, dia 26 de outubro. O governo estadual decretou ponto facultativo na segunda-feira, dia 27/10. Eduardo Paes ganhou com 50,83% dos votos contra 49,17% conferidos a Gabeira. Resta saber quem seria mais prejudicado por uma manobra dessas: Dilma, que tem o voto da maioria dos funcionários públicos, ou Aécio, cujo eleitor de renda mais elevada pode ficar tentado a curtir o feriadão?
11 outubro de 2014
Merval Pereira, O Globo
É preciso notar, no entanto, que segundo o Datafolha a rejeição a Aécio subiu um pouco, aproximando-o da presidente Dilma: 38% a 42%, quase um empate técnico, o que pode ser já resultado da ação do marqueteiro petista. A presidente Dilma, por sua vez, também pode comemorar o fato de que a semana em que seu adversário recebeu mais adesões não produziu nenhuma mudança no eleitorado.
É certo que os eleitores de Marina já haviam se decidido em sua maioria por Aécio, mas Mauro Paulino, diretor do Datafolha, chama atenção para a migração dos marineiros no Rio de Janeiro, onde parece que eles estão indo em peso para Dilma. Esse é um movimento natural, pois a votação no Rio em Marina foi mais de esquerda do que de protesto contra o governo.
Se se confirmar que Aécio cresceu no Rio e está empatado com Dilma, pode ser sinal de que essa migração não teve grandes consequências.
O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, do Iuperj, ampliando a análise sobre os dados das pesquisas do Ibope e Datafolha, acha que Aécio surfa numa onda de "mudança com segurança", que conjuga dados aparentemente inconsistentes entre os 73% que desejam mudanças (Datafolha) e os 80% que se dizem satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida que levam hoje (Ibope). O fato mais paradoxal para ele é que é justamente essa nova classe média, que ascendeu nos 12 anos de governo petista, embora satisfeita com a vida (+ de 5 salários = 84% de satisfação; 25-34 anos = 83%; com curso superior = 85%), está desejando mudança no modo de governar, na gestão pública e nos serviços públicos.
Geraldo Tadeu Monteiro lembra que, segundo Marx, toda necessidade suprida gera uma nova necessidade. Provavelmente, diz ele, esses setores estejam temerosos não propriamente de perder o que adquiriram nos últimos anos, mas quanto às possibilidades de manutenção dessa condição com o atual modelo de crescimento econômico.
A ideia é que é preciso fazer evoluir esse modelo para que ele mantenha esses setores nos patamares já atingidos. A passagem é estreita tanto para o governo quanto para a oposição, avalia Tadeu Monteiro. As campanhas, munidas de pesquisas quantitativas e qualitativas, naturalmente sabem disso e buscam, cada uma a seu modo, propor mudança.
Daí a ideia de "mudança com segurança", que pode ser o fator decisivo neste 2º turno.
O candidato que encarnar essa "mudança com segurança" terá grandes chances de captar o voto da classe média intermediária que, segundo Mauro Paulino, decidirá a eleição, já que as classes média alta e média estão com Aécio, e os de mais baixo salário e escolaridade estão com Dilma. Entre os classificados como classe média (Datafolha), Aécio é apontado por 50% como o mais apto a fazer as mudanças necessárias, contra 39% que acreditam que Dilma é a mais preparada para isso.
Conspirações
O raio pode cair mais uma vez no mesmo lugar. O 2º turno será realizado no próximo dia 26, um domingo, e na terça-feira, dia 28, é dia do funcionário público. Não é feriado nacional, mas considerado ponto facultativo. Não seria de estranhar se os governos considerassem ponto facultativo também a segunda-feira, dia 27, como aconteceu na eleição para prefeito no Rio em 2008, também realizada num domingo, dia 26 de outubro. O governo estadual decretou ponto facultativo na segunda-feira, dia 27/10. Eduardo Paes ganhou com 50,83% dos votos contra 49,17% conferidos a Gabeira. Resta saber quem seria mais prejudicado por uma manobra dessas: Dilma, que tem o voto da maioria dos funcionários públicos, ou Aécio, cujo eleitor de renda mais elevada pode ficar tentado a curtir o feriadão?
11 outubro de 2014
Merval Pereira, O Globo
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