Uma das mais graves consequências da submissão das campanhas eleitorais ao domínio irresponsável dos “marqueteiros” é a deseducação do honesto cidadão e a vacina contra a ética que transmitem à sociedade.
Não tem o menor constrangimento de afirmar o “fisicamente impossível” ou mentir descaradamente, confiados na ingenuidade que é própria daqueles aos quais os sucessivos poderes incumbentes negaram, pela falta de educação, o espírito crítico. Trata-se de um processo de reprodução da mediocridade. Ele prejudica o papel renovador que cabe ao sufrágio universal, que –quando conduzido pela educação– é o vetor portador da sociedade civilizada.
Uma das falácias de mais fácil aceitação pelos cidadãos desinformados é a crença que o Estado cria recursos físicos do nada e que, portanto, não tem limite –a não ser a “vontade política”– para atender às suas demandas.
Como ela é comum às campanhas de todos os candidatos, terá provavelmente, pouco efeito para diferenciá-los nas urnas. Mas tem forte efeito deseducador do cidadão que não sabe que para a sociedade como um todo, não há nada que o Estado possa fazer sem o consumo de recursos tirados de alguns para dar para outros.
Como diria um “canalha” neoclássico: “Não existe almoço grátis”.
Para o “marqueteiro” tudo isso não interessa. Se vendeu ou não o seu “sabonete”, embolsa a grana da sua genialidade e vai descansar até a próxima eleição. Para o candidato eleito não!
IGNOMÍNIAS
As falsidades que o elegeram são as mesmas que lhes serão cobradas no exercício do governo. Afirmar que um Banco Central independente “rouba a comida da boca do pobre” é uma ignomínia.
Independente de quem, se sua diretoria é escolhida pelo presidente que lhe fixa os objetivos e aprovada pelo Senado, ao qual presta contas regularmente?
Prometer que vai “eliminar o fator previdenciário” diante das contas de previdência e do rápido envelhecimento da população brasileira é tão irresponsável quanto a promessa anterior.
Prometer que vai “modificar os índices de produtividade do campo” é irrelevante para aumentar a “produtividade” e será uma bobagem verificável só quando o MST promover a revolução…
A urna aprova qualquer barbaridade, mas a sociedade aprende para a próxima eleição. Infelizmente, a verdade é sempre descoberta tarde demais…
É por isso que nas democracias (sem adjetivo!) o remédio é mais democracia, cuja marcha pode, eventualmente, ser interrompida pelo “democratismo delirante”.
30 de setembro de 2014
Delfim Netto
Folha
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