Josué Apolônio de Castro nasceu em 5 de setembro de 1908, em Recife (PE), e morreu em 24 de setembro de 1973, durante o seu exílio em Paris. Foi médico, geógrafo, escritor, filósofo, sociólogo e político. Estudou Medicina em Salvador (BA) e Filosofia na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Josué de Castro foi uma das personalidades que mais se destacaram no cenário brasileiro e internacional não só por seus trabalhos científicos sobre o problema da fome no mundo, mas também por sua atuação no plano político e em numerosos organismos internacionais.
O sociólogo da fome, como era conhecido mundialmente, foi professor de Geografia Humana na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil desde 1939; pertenceu ao Serviço Técnico de Alimentação Nacional (1942/44); presidente do Conselho da Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (F.A.O.), de 1952 a 1956; do comitê governamental da Campanha de Luta contra a Fome, (O.N.U.), em 1960; do conselho do Comitê Intergovernamental para as Migrações Europeias (C.I.M.E), em 1963; do Centro Internacional para o Desenvolvimento em Paris, e do Comitê Mundial por uma Constituição dos Povos, em Denver (EUA); além de vice-presidente da Associação Parlamentar Mundial em Londres, e professor da Sorbone em Paris.
29 LIVROS
Josué de Castro escreveu 29 livros traduzidos em mais de 25 línguas, entre eles: O problema da alimentação no Brasil (1933), Condições de vida das classes operárias no Recife (1935), Alimentação e raça (1935), Salário Mínimo (1935), Documentário do Nordeste (1937), Alimentação brasileira à luz da geografia humana (1937), Science et technique (1938), A festa das letras (em colaboração de Cecília Meireles-1938), Fisiologia dos tabus (1939), Geografia humana (1939), Alimentação e aclimatação humana nos trópicos, (publicado na Itália, em 1939), Alimentação nos trópicos, (publicado no México, em 1946), Geografia da fome, (traduzido para várias línguas, em 1946), e Geopolítica da fome (traduzido para 14 línguas, em 1951). Preocupado com o futuro, Josué de Castro foi o pioneiro na defesa do meio ambiente. Ele sempre foi um semeador de idéias e encantava o público com seus discursos.
Darcy Ribeiro o considerava “O homem mais inteligente e brilhante que eu conheci”. Josué era famoso nos EUA e Europa como “advogado do Terceiro Mundo”, depois do sucesso do livro “Geopolítica da fome”. Em 1971, foi indicado pela segunda vez ao Prêmio Nobel da Paz.
NA POLÍTICA
Nas eleições de 3 de outubro de 1958, Josué foi eleito deputado federal com 33.657 votos, o mais votado do PTB no Nordeste. Seu companheiro de chapa para deputado estadual era Francisco Julião, advogado e líder das Ligas Camponesas. Josué já seria indicado para o governo do Estado com apoio do ministro do Trabalho João Goulart. Julião definiu Josué de Castro como o homem “que destampou a panela da pobreza e da miséria pra ver o que havia nela”.
Josué foi um dos fundadores da Academia Nacional de Cultura junto com os amigos Mário de Andrade, Jorge Amado, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Cândido Portinari, Darcy Ribeiro, Oscar Niemeyer, Barbosa Lima Sobrinho, Celso Furtado, entre outros. Quando o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, liderou a Ação da Cidadania Contra e Fome, a Miséria e pela Vida, em 1992, teve a patente do pioneirismo de Josué de Castro.
BARBOSA LIMA
O ex-presidente da ABI Barbosa Lima Sobrinho, disse: “O Brasil tem duas cartas de descobrimento. A primeira é a de Pero Vaz de Caminha. A segunda é Geografia da Fome, de Josué de Castro”. Em 1955, Josué visitou a URSS em plena guerra fria, e conseguiu a façanha de ser reconhecido, por seus estudos, tanto pelos soviéticos como pelos norte-americanos. Os países inimigos consagraram o estudo de Josué como fundamental para se pensar a existência da humanidade na mancha subdesenvolvida – como produto do desenvolvimento e a miséria na África, parte de Ásia e na América Latina.
O coordenador do MST, o economista João Pedro Stédile, lembrou do sociólogo : “Mais do que nunca o espírito de Josué de Castro está presente. Mais do que nunca ele nos ensina, com amor a nosso povo, a mudar a nossa realidade”. Na escola do MST, em Veranópolis (SP), os ensinamentos do sociólogo servem de base teórica para a organização do movimento dos sem-terra. A sua herança teórica e atuação política no Congresso estão sempre vivas nos movimentos sociais de massa.
Logo após o golpe militar de 1964, Josué de Castro teve os direitos políticos cassados pelo AI-1 (Ato Institucional No. 1), juntamente com Miguel Arraes, Leonel Brizola, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, e outros, considerados perigosos agentes do comunismo. Seu crime: ter denunciado ao mundo a vergonha da fome como obra dos homens.
EXILADO ATÉ MORRER
Viveu exilado durante nove anos até a sua morte, aos 65 anos, em Paris. Quando o SNI autorizou a sua volta, em 28/9/1973, Josué de Castro já estava morto desde o dia 24. Somente vestido de caixão, para lembrar os versos de João Cabral de Mello Neto sobre os camponeses pernambucanos, os militares permitiram a sua volta. Mas Josué era um homem grande demais para caber em sete palmos de terra. Enquanto houver fome, latifúndio e subdesenvolvimento, ele estará vivo entre todos nós. A morte do advogado da fome no Terceiro Mundo, foi manchete nos jornais do Brasil, e nos principais jornais da Europa e Estados Unidos. Josué confidenciou ao amigos no exílio parisiense, em 1973:
“Não se morre só de enfarte, ou de glomero-nefrite crônica… morre-se também de saudade”.
29 de setembro de 2014
Sérgio Caldieri
Nenhum comentário:
Postar um comentário