Com superávit de US$ 24,14 bilhões de janeiro a abril, o agronegócio continua sendo o principal suporte do comércio exterior brasileiro, abalado por exportações totais em queda e um desempenho muito ruim da maior parte da indústria. Aquele saldo positivo foi obtido apesar do cenário externo ainda adverso e da redução de preços de vários produtos importantes, como soja e grãos, carnes, açúcar e álcool. As exportações do setor renderam US$ 29,85 bilhões nos primeiros quatro meses, 1,2% menos que um ano antes. Mesmo assim, essas vendas compensaram boa parte do desastre observado em outros componentes da balança comercial. As vendas de manufaturados, no valor de US$ 24,659 bilhões, foram 7,6% menores que as de janeiro a abril do ano passado. As de semimanufaturados, de US$ 8,769 bilhões, ficaram 9,5% abaixo das contabilizadas no mesmo quadrimestre de 2013. O saldo geral do comércio de bens foi um buraco de US$ 5,57 bilhões. Teria sido muito pior sem a receita de produtos agropecuários com ou sem processamento.
A Ásia, excluído o Oriente Médio, continuou sendo o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro. A região proporcionou 43,3% da receita obtida pelo setor. A China permaneceu como a compradora número um. Absorveu produtos no valor de US$ 8,1 bilhões, 27,1% do total faturado pelo Brasil. O gasto chinês foi 33,1% maior que o de igual período de um ano antes. Embora com menor crescimento, explicável em boa parte por ajustes internos, a economia chinesa permanece como o destino mais importante das exportações agrícolas brasileiras e como a principal parceira comercial do Brasil. No primeiro quadrimestre, a China comprou produtos brasileiros no valor de US$ 14,07 bilhões, 20,3% do total.
A permanência da China como enorme consumidora de matérias-primas, apesar de seu menor crescimento econômico, é uma excelente notícia para o Brasil. Nos últimos anos, a perspectiva de ajuste na economia chinesa motivou alguma preocupação quanto a seus efeitos para a economia brasileira. Pelo menos até agora, as más previsões foram desmentidas. O apetite chinês por produtos agrícolas e outras matérias-primas é hoje especialmente importante para o Brasil, por causa do mau desempenho comercial dos produtores de manufaturados e de boa parte dos fabricantes de semimanufaturados.
Mas há dois aspectos negativos nesse quadro. O primeiro é a continuação da enorme dependência do Brasil em relação à economia da China e de alguns outros mercados da Ásia. Essa dependência é especialmente ruim porque o comércio com esses parceiros é semicolonial, com o Brasil exportando quase exclusivamente produtos primários e importando manufaturados. Em 2013, só 3,39% dos US$ 46,03 bilhões vendidos à China corresponderam a manufaturados. Incluídos os semimanufaturados, as vendas totais da indústria chegaram a US$ 7,02 bilhões, 15,25% do total. No mesmo ano, a indústria brasileira vendeu US$ 17,77 bilhões aos Estados Unidos, incluídos US$ 13,06 bilhões de manufaturados.
O segundo aspecto negativo é a excessiva dependência do agronegócio. É muito bom dispor de uma agropecuária eficiente e complementada por uma agroindústria de alta qualidade, formando um conjunto com alta produtividade e grande poder de competição. Mas é igualmente indispensável, para uma economia como a brasileira, dispor de uma indústria de transformação capaz de concorrer com produtores estrangeiros tanto fora do País quanto no mercado interno.
Há muitos argumentos a favor deste ponto de vista. Preços industriais são geralmente menos instáveis e o setor manufatureiro ainda é a principal fonte de empregos de alta qualidade, além de ter sido por muito tempo - e poderia voltar a ser - um grande núcleo de inovação e de absorção de tecnologia.
Não se trata de negligenciar o apoio ao desenvolvimento do agronegócio, o setor mais competitivo do Brasil, mas de reequilibrar os padrões de eficiência dos dois grandes segmentos produtores de bens. Os formuladores e condutores da política econômica têm fracassado na execução dessa tarefa.
A Ásia, excluído o Oriente Médio, continuou sendo o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro. A região proporcionou 43,3% da receita obtida pelo setor. A China permaneceu como a compradora número um. Absorveu produtos no valor de US$ 8,1 bilhões, 27,1% do total faturado pelo Brasil. O gasto chinês foi 33,1% maior que o de igual período de um ano antes. Embora com menor crescimento, explicável em boa parte por ajustes internos, a economia chinesa permanece como o destino mais importante das exportações agrícolas brasileiras e como a principal parceira comercial do Brasil. No primeiro quadrimestre, a China comprou produtos brasileiros no valor de US$ 14,07 bilhões, 20,3% do total.
A permanência da China como enorme consumidora de matérias-primas, apesar de seu menor crescimento econômico, é uma excelente notícia para o Brasil. Nos últimos anos, a perspectiva de ajuste na economia chinesa motivou alguma preocupação quanto a seus efeitos para a economia brasileira. Pelo menos até agora, as más previsões foram desmentidas. O apetite chinês por produtos agrícolas e outras matérias-primas é hoje especialmente importante para o Brasil, por causa do mau desempenho comercial dos produtores de manufaturados e de boa parte dos fabricantes de semimanufaturados.
Mas há dois aspectos negativos nesse quadro. O primeiro é a continuação da enorme dependência do Brasil em relação à economia da China e de alguns outros mercados da Ásia. Essa dependência é especialmente ruim porque o comércio com esses parceiros é semicolonial, com o Brasil exportando quase exclusivamente produtos primários e importando manufaturados. Em 2013, só 3,39% dos US$ 46,03 bilhões vendidos à China corresponderam a manufaturados. Incluídos os semimanufaturados, as vendas totais da indústria chegaram a US$ 7,02 bilhões, 15,25% do total. No mesmo ano, a indústria brasileira vendeu US$ 17,77 bilhões aos Estados Unidos, incluídos US$ 13,06 bilhões de manufaturados.
O segundo aspecto negativo é a excessiva dependência do agronegócio. É muito bom dispor de uma agropecuária eficiente e complementada por uma agroindústria de alta qualidade, formando um conjunto com alta produtividade e grande poder de competição. Mas é igualmente indispensável, para uma economia como a brasileira, dispor de uma indústria de transformação capaz de concorrer com produtores estrangeiros tanto fora do País quanto no mercado interno.
Há muitos argumentos a favor deste ponto de vista. Preços industriais são geralmente menos instáveis e o setor manufatureiro ainda é a principal fonte de empregos de alta qualidade, além de ter sido por muito tempo - e poderia voltar a ser - um grande núcleo de inovação e de absorção de tecnologia.
Não se trata de negligenciar o apoio ao desenvolvimento do agronegócio, o setor mais competitivo do Brasil, mas de reequilibrar os padrões de eficiência dos dois grandes segmentos produtores de bens. Os formuladores e condutores da política econômica têm fracassado na execução dessa tarefa.
13 de maio de 2014
Editorial O Estadão
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