Jabor tem batido na tecla de que a crise brasileira não é só política, é psiquiátrica.
Não há como negar. As provas batem na nossa cara o tempo todo.
Em matéria de pensamento político o Brasil está congelado no tempo e no espaço. Tudo que o mundo baniu o Brasil adotou. Tudo que dá prisão lá fora aqui vira atenuante.
Quando assisto os programas eleitorais dos nossos 30 e tantos partidos, todos “socialistas”, me lembro dos velhos gibis do Super-Homem da minha adolescência em que havia um certo “Planeta Bizarro” que era quadrado em vez de esférico e que tinha sido colonizado por clones defeituosos dele e de Lois Lane.
Tudo que aqui era veneno, lá era remédio; tudo que aqui era hediondo lá era virtude; os bandidos eram mocinhos, os vícios eram virtudes e, vice-versa, assim por diante.
A Petrobras, coitada, tá que são retalhos de carne, nervos e tendões disputados a dente por uma cachorrada faminta.
Tem refinaria de 30 bi pra todo lado, todas tramadas com ladrões seriais com 50 anos de ficha suja, nenhuma funcionando. Pasadena é pinto! Não ha uma que não tenha multiplicado o orçamento original por menos de 10 vezes.
A última turma que a Polícia Federal pegou lá dentro, com a mão na massa, tinha de presidente da bancada do PT na Câmara e ministros da República pra baixo rolando pra cima de 10 bilhões de dinheiro roubado com a ajuda de gangsteres e misturando compra de sucata industrial com ladrão de remédio de pobre, tráfico internacional de drogas, máfia italiana e o diabo.
E pelo jeito a coisa toda só acabou sendo descoberta porque quando foi gravar conversas de grandes traficantes internacionais os espiões do Obama, lá na NSA, acabaram escutando conversas deles com o pessoal dos gabinetes em volta do da Dilma lá no Planalto.
Eram os mesmos caras!
Mas na Presidência da Republica, no Congresso Nacional e – acredite se quiser! – até na imprensa, ainda se discute com cara de sério se transformar 42 milhões em 1,3 bilhão em um ano é ou não é “um bom negócio” e montam-se campanhas milionárias passadas no horário nobre das TVs pra dizer que manter essa cachorrada com as dentuças ferradas naquele molambo estraçalhado é a melhor maneira de se proteger “um patrimônio do povo brasileiro”.
Que manter um monopólio de petróleo que movimenta bilhões por minuto na mão das feras da governabilidade – que putrefazem tudo em que tocam – é a única maneira de não ter esse patrimônio dilapidado e carregado daqui pro estrangeiro com todos aqueles sete quilômetros de oceano e de sal por cima.
Não ha um brasileiro – todas as pesquisas confirmam – nem mesmo nos asilos para mentecaptos, que tenha qualquer dúvida de que empresas públicas só existem para serem saqueadas; que cargos políticos no país dos 39 ministérios são privilégios exclusivos de ladrões; que entrar para "o Sistema" é, explicitamente, para ganhar sem merecer e distribuir esse privilégio a cúmplices, amigos e parentes.
Mas quem falar em privatizar estatais, em reduzir o espaço para a roubalheira impune perde voto, veja você!
Até os jornais, que nos últimos anos têm vivido exclusivamente de demonstrar que estamos nas mãos de quadrilhas organizadas, comportam-se como quem assume como ponto pacífico que manter maquinas de bilhões nas mãos delas é a única forma de proteger o “nosso” petróleo das aves de rapina.
A perspectiva de ser acusado de tentar tirar a Petrobras do alcance da dentuça dessa cachorrada causa pânico nos candidatos da oposição. É das poucas coisas que fazem eles irem aos tribunais processar quem o disser por calúnia.
Na semana passada 8.200 “funcionários” da Petrobras “aderiram a um plano de demissão voluntária” – e pode-se imaginar as condições oferecidas para que tanta gente considerasse trocar o certo pelo incerto – e isso não deu mais que uma notinha nos jornais. 8.200 caras, informou-se de passagem, perfazem menos de 10% da folha de pagamento dessa estatal. Assim ficamos sabendo que ela tem alguma coisa entre 80 e 90 mil “funcionários”, todos amigos, todos parentes de algum vendedor de governabilidade. A Exxon Mobil, que atua em 160 países, tem exatos 79.880. E quantos deles você acredita que estão lá porque são amigos ou parentes do CEO, ganhando sem merecer?
Os conselhos de administração da Petrobras e coligadas, então, são uma festa. Tem ministros de dona Dilma com um jeton de 20 mil em cada sub-empresa da empresa mãe. São eles que aprovam as Pasadenas. São eles que aprovam as refinarias de 30 bi.
E quantos dos 80/90 mil "funcionários" da Petrobras não são militantes do PT? Quantos põem os interesses da empresa acima dos do partido? Quantos manteriam o emprego se aquilo fosse uma meritocracia?
Mas tirar a Petrobras dessa cachorrada? Entregá-la a gestores profissionais submetidos a regras internacionais de prestação de contas, responsabilidade social e fiscalização de acionistas respaldados pela polícia? Fazê-la render o mínimo que tem de render um monopólio em cima de uma das maiores reservas de petróleo do planeta? Transformar os royalties daqueles 26 caras em uma montanha de impostos pra todos nós?
Privatizar?! Ah, isso “nós” não vamos deixar!
“Nós” quem, cara-pálida? Que os ladrões digam isso, tá. Mas os roubados!!
Pois no nosso "Planeta Bizarro" é assim. A lavagem dos cérebros brasileiros nas nossas escolas; nas nossas redações, foi com soda cáustica. Sobrou zero de capacidade de relacionar efeito com causa.
Pois não está hoje mesmo nos jornais o Joaquim Barbosa sendo acusado de “autoritário” por reafirmar a igualdade perante a lei das ex-autoridades que, hoje presidiários, ainda se querem isentas dela?
Não sei como é que o Brasil vai sair disso enquanto o tom da conversa for o mesmo dentro das celas da Papuda e nas escolas e redações do país. Só sei que nada vai acontecer antes que a imprensa, pelo menos – o único poder constituído da Republica dentro do qual gente de bem pode se estabelecer sem cair na malha fina pela falta do atestado de criminoso que o nosso sistema de seleção negativa exige de quem quer fazer parte dos outros três – recupere o seu senso crítico e a sua capacidade de indignação.
Vai ser um trabalho tão custoso e meticuloso quanto foi fazê-la perdê-los.
Eu me lembro bem como foi isso. Devo ser dos últimos que se lembra. Começa por um esforço artificial para inverter os significados estabelecidos. Um esforço metódico de subversão da linguagem. O prezado jornalista acredita que tal distorção é “normal”? Não importa. Consulte-se o manual dos fundamentos da democracia (na época consultava-se os da anti-democracia) e, se não for, ele fica obrigado a indicar que não é e mostrar indignação ainda que não a sinta.
Ou seja, será preciso percorrer o caminho inverso da construção dessas mentiras que se estabeleceram quando jornalistas, professores e artistas da TV fingiam que era digno de aplauso aquilo que seus pais lhes tinham ensinado a receber com indignação e escândalo, festejando o errado como certo, o indigno como digno, o execrável como heróico diante das cameras ou do papel em branco.
Só assim, ao fim de algum tempo, as coisas começarão a voltar ao seu devido lugar. Só assim o passado deixará de ser o futuro nas nossas futuras campanhas eleitorais, e o Brasil poderá, enfim, deixar de ser esse curupira de pés invertidos, voltar a integrar a ordem dos planetas esféricos e olhar novamente para a frente.
13 de maio de 2014
vespeiro
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