"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

AÉCIO CONSOLIDA IMAGEM COMO O CANDIDATO DA OPOSIÇÃO


 
As circunstâncias políticas mudaram e junto com elas o comportamento do pré-candidato do PSDB a presidente, senador Aécio Neves. Antes discreto, o tucano está agora na ofensiva, que deve ser ampliada a partir desta semana com uma bateria de comerciais do PSDB no rádio e na televisão. A CPI da Petrobras é o sujeito atrás dessa virada.
 
Contrariando o estilo de político de bastidor, o pré-candidato do PSDB tomou a frente das articulações para a criação da CPI, quando a presidente Dilma Rousseff deixou-se enredar na trama da compra de uma refinaria, a preço superfaturado, pela Petrobras, em Pasadena, no Texas (EUA). Uma iniciativa de risco, dez vez que o governo é amplamente majoritário no Senado.
 
Para viabilizar a CPI, Aécio precisava de 27 assinaturas, um terço do Senado. Conseguiu 28, com a ajuda definitiva do governador de Pernambuco e pré-candidato do PSB, Eduardo Campos. Mas Campos não seria decisivo, se o pré-candidato do PSDB não tivesse antes garimpado autógrafos na própria base do governo. Foi nesse instante que a mudança na conjuntura ajudou.
 
Em abril de 2013, o PSDB tentou explorar as mesmas denúncias contra a gestão do PT na Petrobras, mas não encontrou receptividade na base governista. Agora, não só contou com uma rebelião no PMDB, como também novos parceiros de oposição (o Solidariedade, por exemplo). E a eleição, que em abril do ano passado era um fato longínquo, já determinava, desde o início de 2014, novos alinhamentos políticos.
 
Exemplo: o presidenciável tucano sempre manteve boas relações com o PP, partido da base governista. Mas a senadora gaúcha Ana Amélia, candidata do partido ao governo do Estado, só assinou o requerimento da CPI, a pedido de Aécio, depois que DEM, PSDB e Solidariedade decidiram jogar juntos na sucessão estadual.
 
Foi a semana perfeita de Aécio. Na segunda-feira ele esteve em São Paulo numa reunião com empresários. Foi aplaudido de pé, ao contrário do que aconteceu em outras incursões que fez no PIB paulista, quando teve recepção fria. Uma pesquisa entre os presentes indicou que ele ganharia a eleição, se a escolha ficasse a cargo desse grupo de empresários: 56% contra 28% de Dilma e 13% de Eduardo Campos.
À saída, também fez sua melhor intervenção na pré-campanha desde que foi eleito presidente do PSDB, em maio de 2013. Diante das ameaças de setores do PT de recorrer ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na hipótese de queda acentuada da popularidade de Dilma, Aécio declarou que "não importa se é o ex-presidente Lula ou Dilma [o adversário]. O que eu quero é mudar um modelo que não vem fazendo bem ao Brasil".
Em uma só manifestação expôs o queremismo petista e disse que não teme enfrentar Lula: Aécio acredita que as pistas seguidas pela oposição indicam que o ex-presidente da República também é vulnerável ao escândalo da compra da refinaria de Pasadena, cujos principais trâmites ocorreram nos seus dois mandatos no Palácio do Planalto.
Em encontros com jornalistas, Aécio sempre repetiu que eles estavam conversando "com o futuro presidente da República". Desde sua eleição para presidente do PSDB, em maio do ano passado, as avaliações sobre sua viabilidade eleitoral eram reticentes, sobretudo diante da atuação apagada do senador por Minas Gerais.
Segundo aliados, antes de avançar como candidato, Aécio precisava pacificar o PSDB, empreitada difícil, mas que o senador julga hoje ter levado a cabo. Prova disso é que o ex-governador José Serra, seu maior adversário no partido, indica que será candidato a deputado federal, o que pode levar o PSDB a eleger uma boa bancada por São Paulo, um colégio eleitoral chave para as pretensões de qualquer candidato a presidente da República.
 
Outra demonstração de que Aécio tem o partido nas mãos e a candidatura presidencial sob controle ocorreu quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recuou de uma posição contrária à criação da CPI, tão logo Aécio deixou claro que aquela era uma decisão partidária. Não fazia sentido FHC ficar contra Aécio - e fragilizar o candidato tucano -, quando a Polícia Federal já havia aberto mais de um inquérito para investigar o negócio de Pasadena.
Outra boa notícia da semana: o prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto, deixou claro aos aliados que está fechado com a candidatura Aécio Neves, o que assegura um precioso minuto de tempo de televisão no horário eleitoral gratuito para o tucano - no comando da cidade que detém o terceiro maior colégio eleitoral do país, ACM Neto se manteve afastado o quanto possível da questão eleitoral, a fim de preservar suas relações com o Planalto.
 
Ainda há dificuldades na composição com o deputado Ronaldo Caiado, que insiste em disputar contra o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), mas o presidente do DEM, Agripino Maia, também trabalha pela reedição da aliança PSDB-PFL.
 
A maior ameaça à semana perfeita de Aécio veio de seu próprio quintal, quando na quarta-feira o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), admitiu a possibilidade de deixar o cargo para disputar o governo do Estado. Um fato novo com potencial para desarrumar o cenário que Aécio desenhara para a sucessão em Minas e, o que seria mais grave, envenenar as relações amistosas com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
 
Segundo o PSB, Eduardo Campos não teve influência na decisão de Márcio Lacerda. Não estimulou sua candidatura, não pediu e até o início da semana trabalhava com a informação de que Lacerda não seria candidato. O prefeito, na realidade, movia-se por injunções da política local. Bastou uma boa conversa com Aécio Neves, na quinta-feira, para que o prefeito voltasse atrás.
 
Aécio e Campos querem o mesmo lugar, a cadeira de Dilma, mas sabem que em algum momento, depois do fim de junho, a atual relação amistosa deve abrir espaço para a disputa de quem vai para o segundo turno com Dilma, se houver segundo turno. O desafio dos dois pré-candidatos é manter uma disputa saudável, de modo que possam estar juntos mais adiante.
 
Aécio Neves retoma o protagonismo num momento importante da pré-campanha, quando Eduardo Campos parece magnetizar todos os holofotes. Com menos de 20% nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até sexta-feira, Aécio está distante do desempenho histórico do PSDB nas eleições presidenciais. O figurino de oposição parece assentar melhor no governador Eduardo Campos.
Essa percepção é que Aécio pretende mudar ao assumir o comando da CPI. No momento exato em que uma overdose de PSDB e Aécio deve tomar conta da propaganda partidária no rádio e televisão a partir de 8 de abril com dezenas de inserções de 30 segundos do PSDB que serão exibidas até o dia 15, quando então será levado ao ar o programa partidário de dez minutos.
 
(Valor Econômico)

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