"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

UM GRITO NO PERMANENTE VAZIO


Quando o gatuno André Vargas (PT-PR) afrontou o presidente do STF, Joaquim Barbosa, numa solenidade na Câmara dos Deputados, poucos sabiam a respeito dessa figura burlesca que seria desmascarada, meses depois, em procedimentos altamente danosos aos cofres públicos nacionais. O problema é que sua excelência é primeiro vice-presidente da Câmara, a agir como porteiro de lupanar, enodoando de forma deliberada um dos poderes basilares de nossa desmoralizada República.
André Vargas já havia sido alvo de sérias denúncias na revista Veja, em março de 2013, quando se descobriu que um seu funcionário (André Guimarães) exibia expertise na criação de perfis e blogs falsos, utilizados para atacar oponentes do parlamentar e do PT. A denúncia ficou pendurada no vácuo e não deu em nada. O Guimarães oferecia seus serviços a prefeituras que se dispusessem pagar valores que variavam entre R$ 2 mil a R$ 30 mil mensais.
O Brasil é assim: as instituições não funcionam! Vivemos de surtos, entre autoritarismo e instantes de arremedo de democracia. No momento, atravessamos cruel fase de suposta democracia, em pulsar delicado no qual já existem milhões implorando a volta dos militares. Nada funciona. Na nossa democracia, rouba-se o disponível, aprontam-se ilegalidades e não se cobram responsabilidades. No regime militar, também!, porque sabichões enchem os bolsos à sombra das baionetas.
Na democracia nacional, figuras espúrias, tais como Renan Calheiros e José Sarney alcançam a Presidência do Congresso Nacional. Mas no modelo castrense, eles nunca deixam de se dar bem. Nossa chamada democracia é o momento de purgação em que se afloram emoções baratas com denúncias de torturas, mutilações e assassinatos. Na purificação pós-64 foi apontada até mesmo a existência de fornos crematórios utilizados pelo Exército (livro do ex-delegado Cláudio Guerra, Memórias de uma Guerra Suja), mas as denúncias, provas e alegações caem numa silenciosa conveniência.
O cansaço vai dominando a todos. Os jornais diários explodem com manchetes inacreditáveis, que se tornam rotina em sua repetição, e deixam de escandalizar pelo volume da insistência. Num país em que o analfabetismo é movimento majoritário, os alienados dependem de emissoras de televisão que se especializaram em difundir pornografia e oferecer baixo nível, banalizando cultura de baixo calão que a tudo nivela no viés da sordidez.
Temos, agora, na Presidência da República, pessoa que não consegue ligar “a” com “o”, especializada em mentir, ao tempo em que busca estender qualificação profissional que absolutamente não existe. Enquanto isso, o maior responsável pelo descalabro que se presencia transmite a impressão de atravessar incólume a situação de imensurável risco, dando braçadas num oceano de lama que a cada momento amplia seu nível. O país vai soçobrar nesse caminho.
 
Cidades desarrumadas, pessoas estressadas a se desesperarem no vazio, vagando sem rumo numa desordem sem fim! Risco de apagão e falta de água potável (São Paulo já mergulhou em situação de alto risco), mas nossos homens públicos não têm proposta ou sugestão capaz de apontar rumo ou destino. É só roubo e descaso, incúria e pouca vergonha, desrespeito e embromação. As lideranças políticas do Brasil há muito se encontram ensandecidas. Não têm consciência da gravidade do caos que se aproxima.
O país terá de piorar, muito mais, para que se perceba ser indispensável uma guinada brusca. O problema é que poderemos atingir ponto em que os fatos deverão se tornar irreversíveis. E, aí, não vai adiantar se cobrir de lamento no choro de horizonte perdido. Porque teremos chegado a limite de horrores e desperdício.
 
07 de abril de 2014
Márcio Accioly é Jornalista.

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