Não é de hoje que usam a compra da refinaria nos EUA como exemplo de desmandos do PT
Para você ver como tudo é relativo. Espie só como até o prêmio Nobel não serve de parâmetro para porcaria nenhuma. Faça um teste. Dirija-se a um incauto qualquer e conte a ele que o homem que negocia a morte via controle remoto, sim, ele mesmo, Barack Obama, já ganhou o Nobel da Paz. Depois mencione que o subversivo Yasser Arafat também ganhou. Está vendo? Desmoralizamos o prêmio em dois palitos.
Por outro lado, se você quiser usar o Nobel para valorizar sua argumentação, basta reverter o discurso. Tome uma unanimidade como o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e diga que ele está equivocado quando prega que o governo erra na condução da economia. Mas diga com convicção que Armínio delira ao chamar de "crime econômico e ambiental" o controle de preços de combustíveis e tarifas de energia praticados por Dilma. Seja firme. Declare que esse pessimismo deveria ser tratado na base de remédios de tarja preta.
Em seguida, arremate com a frase de efeito: "Ué? O prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, que costuma acertar nas previsões que faz, não acredita que as preocupações com o Brasil sejam justificadas. Diz ele que nosso país saiu-se muito bem na crise". Game over.
Só há um probleminha. Esse arsenal que estou lhe fornecendo pelo módico preço pago para ler este diário de cabo a rabo não tem mais serventia nenhuma no que diz respeito à segunda parte, aquela que fala sobre ser firme na hora de defender qualquer ação praticada pela presidência da República.
Deu chabu. Num estalar de dedos, a atividade de defender as posições de dona madama presidenta foi pro beleléu, danou-se, entubou-se e, inclusive, "mórreu", como diria Nerso da Capitinga.
Ao que parece, nem mesmo Dilma Rousseff defende mais Dilma Rousseff. Nesta semana, a presidente tomou a iniciativa de dar um tiro no dedão ao admitir ter assinado um contrato "técnica e juridicamente falho" pela compra de uma refinaria que valia dois tostões e pela qual o PT, no fim das contas, terá pago muito caro. Isto sendo que Dilma estava respaldada "técnica e juridicamente" por assento no conselho da Petrobras e por pastas na Casa Civil e Minas e Energia --as minas e a energia, melhor deixar claro, nada têm a ver com malhação de loiras e/ou dieta de ingestão de shakes de proteínas.
Só depois de consumada a transação da refinaria de Pasadena, que ora vem à tona com tudo, foi que a turma se deu conta de que faltavam regras vitais na papelada.
Ora, alguém que lê pela metade um contrato de compra de uma refinaria de petróleo, na condição de chefe de conselho e ex-ministra disto e daquilo só pode ser um arremedo de Zé Genoino, confere?
E a admissão de farsa é tão flagrante, inclusive pela facilidade com que se deu, que deixa transparecer, quiçá, o intuito de causar um tsunami que leve consigo todos os frutos do mar e terra encontrados pela frente. Nada como um aguaceiro para extinguir fogo amigo.
Não é de hoje que a tal compra da refinaria de Pasadena surge na boca de empresários como sendo emblemática dos desmandos do PT. Ela é o verdadeiro mensalão. Ali é que eles veem a amostra de desmontagem de quadros técnicos e cargos de carreira para o aparelhamento de que tanto falam. Estão ali as grandes somas, sem aliados para repartir. Um contrato fajuto, um ativo multiplicado 100 vezes... E tudo isso tendo à disposição o maior financiador do país e uma das maiores empresas do mundo, que tinha recém descoberto a maior bacia de petróleo... Faz-me rir, mensalão, troco de pinga!
21 de março de 2014
Barbara Gancia, Folha de SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário