"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 11 de março de 2014

INVADIR E COÇAR É SÓ COMEÇAR

                  
a1
 
No essencial a humanidade é uma coisa só e reage do mesmo jeito aos mesmos impulsos, seja qual for o tamanho ou a localização da fatia dela que se queira analisar.
Vejam o caso desse titerezinho da Ucrânia. Enfrentado, deixou para traz a “dacha” obscena e, disfarçado e por rotas de fuga previamente mapeadas, recurso de todo e qualquer criminoso desde sempre, correu com o rabo entre as pernas disposto a desaparecer para sempre nas trevas, tomando o cuidado de levar o quanto pode do que roubou do povo da Ucrânia, ladrão que é, e que deve ter sido bastante posto que a profissional que anda com ele, uns 30 anos mais jovem, achou que ainda tinha a ganhar continuando na parada com ele.
 
Amparado por uma autoridade constituída com um poderoso exército nas mãos e disposta a garantir-lhe a impunidade com tanques, aviões e fuzis kalashnikov, ei-lo de volta à luz do sol, agrandado, arreganhando os dentes para o povo da Ucrânia que o escorraçou e para o mundo que lhe “deu mole.
 
a2
 
Ontem escrevi sobre esse mesmo tema e fui mal compreendido por uma leitora. Mostrava como o crime reflui imediatamente, assim que o Estado lhe opõe resistência, e como faz mal para a nossa segurança e a de nossos filhos e mães ficar tergiversando a esse respeito como se houvesse qualquer dúvida razoável de que tirar criminosos das ruas e mantê-los fora delas reduz a criminalidade assim como manter o direito de suas vítimas potenciais de se defender de armas na mão reduz a arrogância e a “coragem” desse tipo de covarde.
 
Viktor Yanukovitch acaba de provar as duas coisas, a primeira com a ajuda de Vladimir Putin e a segunda pelo fato de, graças ele, poder contar agora com tanques e soldados armados e suas vítimas potenciais não.
 
Os criminosos dos morros do Rio de Janeiro também já o tinham provado, praticamente tomando a cidade quando a autoridade constituída de então, o pai do “socialismo moreno” Leonel Brizola, tirou a polícia dos morros e entregou-os ao crime organizado, e refluindo imediatamente assim que o Estado, 30 anos depois, resolveu exercer o seu papel.
 
a5
 
A presença e a força do crime organizado, aliás, é inversamente proporcional à quantidade de democracia de que desfruta uma sociedade. Pois democracia não é muito mais que uma série simples de arranjos para por o destino das autoridades constituídas nas mãos do povo de modo a obrigá-las a jogar a favor dele ou perder o cargo e ir se haver com os joaquins barbosas da vida lá na Papuda.
 
Totalitarismo é precisamente o avesso disso. O extremo oposto. É pôr o destino do povo nas mãos das autoridades que se impuserem pela força de modo a deixá-lo inteiramente dependente delas e obrigado a obedecê-las cegamente ou ir parar num campo de concentração, num manicômio ou simplesmente perder a vida.
 
Vladimir Putin foi o chefe da polícia secreta encarregada desses fuzilamentos e condenações no mais longevo e violento dos regimes totalitários que a Terra já viu, que é aquele que prevaleceu na Rússia Soviética entre 1917 e 1989 e nas dezenas de países à sua volta que ela invadiu e submeteu pelas armas. O mesmo regime que esse pessoal que nos governa hoje também tentou impor pelas armas ao Brasil.
 
a3
 
Vladimir Putin sempre foi, portanto, um criminoso.
Para piorar as coisas, basta fazer as contas para entender que não existe um único russo vivo hoje que tenha vivido em qualquer coisa que se assemelhe a um Estado de Direito. De lá (1989) para cá, só mudou o discurso, que se tornou mais honesto. Num país onde não ha um único indivíduo vivo que tenha conhecido outra coisa senão a submissão absoluta a criminosos violentos, os trogloditas de sempre hoje se assumem como o que são e trabalham aberta e explicitamente tanto para eliminar fisicamente quem se lhes opõe quanto para cobrir de ouro os que lhes lambem as botas.
E eles são muitos!
 
A antiga “nomenklatura” dos tempos da Rússia totalitária, que tinha de desfrutar seus privilégios escondidinha e só no território nacional, constitui-se hoje na ponta mais cafajeste do “jet set” internacional e desfila a sua impunidade nos antigos resorts que compunham a crônica do glamour do século 20 que a “comunistas” só era dado cobiçar de longe,  com seus séquitos de prostitutas e suas orgias de incineração de dinheiro fácil
 
a11
 
As modernas versões nacionais desse tipo ancestral são duas: na ponta de baixo, os traficantes dos morros com seus barracos de luxo e suas jacuzzis lá no topo, os correntões e os fuzis de ouro e o séquito de popozudas; na ponta de cima, os barões do BNDES com seus carrões, seus jatões, seus iatões e suas peruas carregadas de bolsas que custam o preço de casas, disputando esses mesmos resorts com seus concorrentes russos.
Todos dependem igualmente da impunidade garantida pela autoridade constituída sem a qual o crime organizado não sobrevive nem dez minutos.
 
No Brasil, onde todo mundo já sentiu, aqui e ali, um cheirinho de democracia nos nossos momentos de transição entre extremos que, graças a deus, nunca conseguiram se impor totalmente, a coisa toda pega mais leve porque ainda existe a polícia lidando com a ponta de baixo e o STF tentando lidar com a ponta de cima.
 
a12
 
Na Rússia não tem ninguém fazendo força contra. Os Putins da vida encolhem ou se agrandam em função do que faz ou ameaça fazer a “policia do mundo” que são os Estados Unidos e a OTAN.
 
De modo que é fácil entender o que está acontecendo.
O sinal nas fronteiras a que eles limitavam a sua truculência mudou de vermelho para amarelo quando Barak Obama e a OTAN “arregaram” diante do Irã e sua bomba atômica. Em troca de uma vaga promessa de adiar a explosão eles deram carta branca aos aiatolás para continuar financiando o terrorismo em pelo menos três países do mundo – o Líbano, Israel e o Iraque.
 
Não bastou. O sinal passou a amarelo piscante quando Barak Obama e a OTAN “arregaram” novamente diante de Bashar Al Assad, o genocida, dando-lhe carta branca para continuar massacrando a população da Síria desde que não seja por envenenamento com gás.
 
E finalmente ficou verde quando, logo depois dos sócios europeus, Barak Obama anunciou que vai reduzir os gastos militares americanos a níveis anteriores aos da 2a Guerra Mundial.
 
a4
 
Foi o que fez Valdimir Putin se sentir seguro o suficiente para anunciar que a Rússia (depois da China) vai multiplicar como nunca os seus que passarão a 730 bilhões de dólares até 2020 quando ele espera ter concluído o seu programa de construção de mais de 100 bases aéreas e navais em diversos lugares do mundo, incluindo, entre outros, a Venezuela, Cuba, o Vietnã, a Nicarágua, Seychelles, Singapura e outros. Isso partindo de uma única base fora do país hoje, localizada em Tartus, na Síria de Bashar Al Assad e agora, provavelmente logo, também na Criméia ucraniana.
E aí, sabe como é: invadir e coçar, é só começar...
 
Os bandidos do mundo, enfim, sentados em tronos ou não, agem exatamente do mesmo modo que os bandidos dos morros cariocas ou das ruas de São Paulo e do resto do Brasil: se agrandam e recrudescem sua covardia assassina quando o Estado se omite ou se torna seu aliado; fogem com o rabo entre as pernas quando o Estado cumpre o seu papel e os enfrenta.
O resto é conversa de gente mal intencionada que não tem o menor respaldo nos fatos.
 
a7
Vespeiro
11 de março de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário