"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

SOBRE VALORES


 
“O Estado comunista nada mais é do que uma monarquia absoluta em que não há súditos, mas apenas servos” (C. G. Jung).

A contradição brasileira decorre, sobretudo, do juízo de valores. Falta coerência entre discurso e práxis. O sofisma dominou a política e tornou-se arma psicológica dos partidos ideológicos. A hipocrisia, que sempre imperou na cultura nacional, tornou a geração atual particularmente vulnerável à propaganda. Os costumes flutuam, orquestrados por uma mídia alienante, que fustiga os paradigmas consagrados e dissemina novos preconceitos.

O “jeitinho” de relativizar princípios chega ao ponto de distorcer ideologias em benefício de grupos, como demonstrado no processo recente do “mensalão”. É fato que a doutrina Gramsci do Foro de São Paulo, instituída como política de governo no PNDH-3, propõe a dissolução dos costumes e da tradição, a promoção das minorias, a desordem social e a indisciplina, com o intuito de corromper a “burguesia” e enfraquecer o controle da classe média sobre a sociedade. Contudo, a renda auferida com essa corrupção vem sendo desviada para proveito próprio de um partido político e de seus beneficiários.

Uma sequela típica do relativismo cultural é a irresponsabilidade social. Aboliu-se, em princípio, o conceito de livre-arbítrio do infrator, transferindo-se a culpa dos delitos para terceiros. A causa comum dos crimes passou a ser atribuída à sociedade burguesa, à omissão de outros, às circunstâncias e às armas de fogo, mesmo as de brinquedo.

Em um momento de “conquista da hegemonia” do contexto revolucionário, multiplicam-se as campanhas de propaganda e a mobilização popular, para “forçar a transição da sociedade capitalista para a sociedade socialista”. Ironicamente, porém, os promotores do ilusionismo parecem alienados da realidade, convencidos das quimeras que eles próprios semearam.

 A inaptidão para o planejamento é outro atavismo que prejudica a gestão pública, hoje agravada pela ideologia. Para o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, é uma herança da colonização: “Versáteis ao extremo, os portugueses eram inacessíveis a certas noções de ordem, constância e exatidão”. Essas mazelas invalidam o discurso político, que se tornou vão. E o apelo a políticas sociais erráticas e clientelistas, em uma sociedade no estágio da adolescência e balda de exemplos nobilitantes, pode convencer o povo de que “o ócio importa mais do que o negócio”.

O programa partidário do outro condômino diz-se nacionalista, pluralista e social-liberal: “O PMDB é um partido comprometido com a soberania nacional e com a busca da liberdade. (...) O valor básico da vida social e política é a pessoa e sua consciência”. Na prática, porém, avaliza uma política populista de inspiração fascista e o retalhamento do território nacional em autarquias e reservas de interesse estrangeiro. E, ao apoiar a massificação do povo, contribui para “extinguir a personalidade autônoma”, como explicou o Dr. Jung, prestando um desserviço à liberdade.

Quando um país se encontra à deriva, a vítima principal é a confiança, um ingrediente vital. Sem ela, grassa a insegurança e falta crédito na economia. Sem crédito, não há investimento. E sem investimento, não há progresso, nem emprego.
O revisionismo cultural produzido pela opinião ideológica é antinatural e corrosivo. A Dra. Marie Louise von Franz concluiu, na década de 1950, que: “O sucesso da propaganda provoca uma repressão das reações inconscientes. E a repressão da massa leva à dissociação neurótica e à enfermidade mental, já que está em oposição aos nossos instintos” (O Homem e Seus Símbolos, pág. 297).

Para que ressurja o bom-senso e volte a voz do povo a ser “a voz de Deus”, um bom começo é o referencial de conduta da linguagem, falada e escrita, que recomenda: “Seja o vosso falar: sim, sim; não, não; porque o que passa disso é de procedência maligna” (Mateus, 5-37).
 
02 de fevereiro de 2014
Maynard Marques de Santa Rosa é General de Exército, na reserva.

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