O cidadão brasileiro, desalentado com a qualidade de sua classe política, envergonhado com o nível de corrupção que permeia toda a rede de poder, atormentado com os equívocos cometidos pelos encarregados de conduzir a política econômica, responsáveis por uma inflação persistente que dissipa seu salário, preocupado, via mesmos agentes, com os índices raquíticos de crescimento e com a visão recorrente, exibida pelos meios de comunicação, na qual assiste ao triste espetáculo de estradas intransitáveis, encarecedoras, componentes de um sistema logístico e de infraestrutura inadequados ao escoamento competitivo da produção agrícola, tenta, talvez inutilmente, vislumbrar um sinal, mesmo tênue, de esperança de que as ações dos agentes de governo e as forças políticas passem a priorizar o interesse público, deixando um pouco de lado as ações exclusivamente dedicadas à eternização do poder, de seu grupo e prepostos.
Sabendo também que é vítima de uma das mais cruéis cargas tributárias do planeta, não vê contrapartida na qualidade dos serviços públicos a que tem direito, tais como a saúde pública, moribunda, a educação básica, há muito negligenciada a ponto do Brasil hoje exibir o triste marca de ser, segundo a UNESCO, o oitavo país com mais adultos analfabetos do mundo, a segurança, incapaz de ser garantida num nível mínimo, tudo sem falar no lamentável estado dos transportes públicos nas grandes cidades, área que só é contemplada com investimentos cosméticos e eleitoreiros, sem continuidade, em vigor somente durante o mandato do momento, tudo recomeçando com o novo eleito.
Coroando todo esse cenário carregado de nonsense, o brasileiro, o da carga tributária escorchante, de repente, se vê como um estranho financiador majoritário de um lucrativo evento esportivo que prometia, à época do seu anúncio, ser a Copa da iniciativa privada, além de constituir um agente de filantropia, através do seu BNDES, revitalizador de um porto num país traumatizado pelo atraso de um governo que o domina há mais de cinquenta anos, enquanto os terminais do nosso litoral e rios continuam paquidérmicos e ineficientes .
É, cidadão, será que a sua única arma é o voto?
Se é, diante de todo esse melancólico quadro, parece ter o efeito de um dardo sem sedativo dirigido a um dragão.
02 de fevereiro de 2014
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de mar e Guerra, reformado.
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de mar e Guerra, reformado.
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