Nas últimas semanas, o número de haitianos que atravessa, sem visto, a fronteira, subiu de 20 para uma média de 70 pessoas. Nas contas do governo acreano, desde 2010, 15.000 estrangeiros já teriam entrado no Brasil pela cidade de Assis. O secretário de Direitos Humanos do estado, Nilson Mourão, alerta para a possibilidade de uma tragédia a qualquer momento.
Falta logística, água, alimentação. Já são servidas 3.600 refeições por dia no abrigo construído no ano passado em Brasileia, onde se concentram 1.200 pessoas, o triplo da capacidade inicial.
ERRO DE AVALIAÇÃO
Com relação ao Haiti, o governo tem cometido grave erro de avaliação. Primeiro, porque permitiu que se estabelecesse uma espécie de relação especial, de culpa e dependência, entre os dois países. Como se o Haiti se tivesse transformado, para o Brasil e o resto do mundo, em uma espécie de “nosso” Vietnã. E nossa responsabilidade com aquele país fosse além do compreensível sentimento de solidariedade por uma das nações mais pobres do mundo, atingida por terrível catástrofe natural.
Nossas tropas não bombardearam nem invadiram o Haiti. Elas entraram naquele país em missão de pacificação, junto a soldados de outras nações, sob mandado e por solicitação da Organização das Nações Unidas.
E, em segundo lugar, porque o governo encarou a chegada dos haitianos ao Acre como uma questão meramente humanitária e não como o que efetivamente é: um esquema criminal de exploração e tráfico de seres humanos, composto tanto pela máfia que envia os haitianos ao Brasil – ameaçando matar seus familiares que ficam no Haiti caso não paguem as extorsivas dívidas contraídas para chegar aqui junto aos funcionários, policiais e “coyotes” que os extorquem, espancam e estupram no Peru, em um esquema que envolve milhões de dólares por ano e centenas de milhares de dólares por mês.
ESQUEMA DE COTAS
Se o governo está preocupado com a situação dos haitianos que querem vir para o Brasil, o primeiro a fazer é parar de recebê-los, das mãos de traficantes, na fronteira, e providenciar transporte direto para cá daqueles que conseguirem, dentro do esquema de cotas já estabelecido, vistos de entrada, em nossas instalações diplomáticas no Haiti.
É triste dizer isso, mas estamos apenas reproduzindo, nos abrigos de Brasileia a mesma situação vivida por essa gente em seu país, com o agravante de estarmos colocando a sua vida em risco, caso não consigam emprego e dinheiro para mandar a suas famílias para pagar as dividas contraídas para “viajar” para o Brasil.
Como mostra o quadro emergencial vivido pelo governo acreano, não resolveremos o problema haitiano enriquecendo os “coyotes” peruanos ou criando outros problemas no Brasil.
02 de fevereiro de 2014
Mauro Santayana
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