A falange da comunicação social do governo, mediante o emprego de cadinhos especiais, está processando uma alquimia de marketing, com o propósito de convencer a população, dos benefícios que a realização da Copa do Mundo no Brasil trará.
Convenhamos, no entanto, ser difícil provar, por exemplo, que grande parte dos investimentos está a originar-se de fontes privadas, conforme havia sido divulgado por ocasião do anúncio, em 2007, ou retornará aos cofres públicos quando o torneio for concluído.
Os alquimistas tentarão também argumentar que as obras constituirão um legado para melhorar a vida das pessoas após a copa.
Será que os trabalhadores das grandes metrópoles brasileiras, que a cinco meses do evento vêem suas condições de mobilidade se deteriorarem rapidamente por falta de investimentos no setor, acreditarão?
E os que trabalharam, pressionados pelas exigências da FIFA, em arenas superfaturadas, localizadas em cidades onde o futebol não tem a menor expressão, palcos de no máximo quatro partidas, identificarão alguma melhoria em suas vidas, mesmo sabendo que continuarão a suportar condições desumanas de assistência de saúde e terão que ver sua liberdade de ir e vir cada vez mais comprometida?
E quando tomarem conhecimento que a educação de seus filhos, provavelmente continuará a ser vítima de lamentável descaso e pessimamente classificada por padrões internacionais?
Se, então, ouvirem falar de grandes obras interrompidas ao longo de todo o território nacional, como ferrovias que não levam a lugar nenhum e transposições de rios que não passaram dos palanques demagógicos, ficarão perplexos.
E sobre investimentos realizados com dinheiro do BNDES, seu dinheiro, para modernizar portos em país estrangeiro, sabendo que os daqui trabalham no limite e comprometem a competitividade do produto brasileiro?
Certamente, ao integrar todos esses dados e após um curto período de reflexão, não vislumbrarão legado algum do qual possam se orgulhar mas se sentirão, isso sim, meio lesados.
10 de fevereiro de 2014
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de Mar e Guerra, reformado.
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