A China crescer menos um ponto depois da vírgula não tem importância nenhuma. Mesmo assim, as notícias chinesas preocupavam ontem. Não é o número do PIB do quarto trimestre o que prende a atenção, mas o do endividamento, que bateu em 200% do PIB e cresceu rapidamente com a estratégia de combater a crise de 2008.
O país divulgou ontem que o crescimento do quarto trimestre foi 0,1 ponto percentual menor do que no trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a China cresceu 7,7% em outubro, novembro e dezembro. Nos três meses anteriores havia sido 7,8%, também na comparação com 2012. Não é nada, principalmente se for levado em conta que no começo do ano passado o maior temor era que a segunda maior economia do mundo fosse ter um pouso forçado. Agora, prevê-se para o ano que vem 7,4%. Um decréscimo pequeno no ritmo de crescimento.
O problema da China não é o que se sabe, mas o que não se sabe. O sistema bancário chinês, todo estatal, tem uma parte de sua contabilidade nas sombras. Ninguém sabe exatamente qual o tamanho dos rombos dos bancos chineses, apesar dos salvamentos feitos nos últimos anos nas maiores instituições financeiras.
O total de dívida contabilizada das firmas, pessoas, entes estatais com os bancos e entre o próprio sistema bancário era de 130% antes da crise de 2008. Era alto, mas tinha ficado estável nesse percentual na década. Com os juros baixos e a alta taxa de poupança, isso não preocupava. O problema é que de lá para cá saltou para 200% do PIB. E tem um sistema regulatório muito frouxo, conforme avaliou ontem o “Financial Times”.
Em parte, o crescimento da dívida/PIB foi consequência do esforço do governo de estimular o consumo interno para depender menos do mundo, e, em parte, foi outro esforço do governo para manter a economia crescendo, aumentando o investimento em infraestrutura, mesmo que ela não seja necessária. São frequentes as notícias de cidades fantasmas, elefantes brancos, prédios vazios construídos nos últimos anos para manter a máquina de construir funcionando. Foi ótimo para o Brasil e as nossas exportações de commodities, mas a China terá que, em algum momento, fazer um ajuste.
Os novos dirigentes do país estão avisando que anunciarão reformas para enfrentar os riscos criados por esse crescimento mantido através de muito investimento e muito endividamento. Esse número, de 200% do PIB, é imenso e pode não ser tudo. Há uma parte da contabilidade do sistema bancário que permanece na sombra.
No que nos diz respeito, tudo o que acontece por lá é importante. A China é nosso maior comprador e com ela temos um enorme superávit. Nossas exportações estão muito concentradas em commodities e se houver redução de investimento em infra-estrutura pelo menos o minério de ferro deve sofrer. As commodities agrícolas continuarão sendo compradas pelos chineses.
O chefe da divisão do FMI que cuida de China, Steven Barnett, disse que o crédito para consumo, ou o crédito tomado para investir, acaba ficando ineficiente com o passar do tempo como estratégia para impulsionar o crescimento. A partir de um certo ponto, o que acontece é o crescimento do risco.
A China continuará crescendo a taxas que todo o mundo inveja, mas tem acumulado desequilíbrios muito grandes. E são esses que preocupam, e não uma redução de 0,1 ponto percentual na taxa anual de crescimento ou de 0,3 no ano que vem. Como a China vai consertar a turbina mantendo o avião em pleno voo?
Segundo o “FT”, uma das diretrizes que buscam no novo modelo de crescimento a ser anunciado no próximo congresso do Partido Comunista, em novembro, é a mudança para um modelo menos polui-dor, mais balanceado e mais sustentável. Um dos objetivos é fortalecer mais a economia de serviços.
Como a China é um regime fechado, fica sempre a suspeita de que não foi dita toda a verdade. E é por isso que o salto de endividamento de 130% do PIB para 200% em cinco anos assusta muito. É que ele pode ser ainda maior, se tudo o que está na sombra for contabilizado.
O país divulgou ontem que o crescimento do quarto trimestre foi 0,1 ponto percentual menor do que no trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a China cresceu 7,7% em outubro, novembro e dezembro. Nos três meses anteriores havia sido 7,8%, também na comparação com 2012. Não é nada, principalmente se for levado em conta que no começo do ano passado o maior temor era que a segunda maior economia do mundo fosse ter um pouso forçado. Agora, prevê-se para o ano que vem 7,4%. Um decréscimo pequeno no ritmo de crescimento.
O problema da China não é o que se sabe, mas o que não se sabe. O sistema bancário chinês, todo estatal, tem uma parte de sua contabilidade nas sombras. Ninguém sabe exatamente qual o tamanho dos rombos dos bancos chineses, apesar dos salvamentos feitos nos últimos anos nas maiores instituições financeiras.
O total de dívida contabilizada das firmas, pessoas, entes estatais com os bancos e entre o próprio sistema bancário era de 130% antes da crise de 2008. Era alto, mas tinha ficado estável nesse percentual na década. Com os juros baixos e a alta taxa de poupança, isso não preocupava. O problema é que de lá para cá saltou para 200% do PIB. E tem um sistema regulatório muito frouxo, conforme avaliou ontem o “Financial Times”.
Em parte, o crescimento da dívida/PIB foi consequência do esforço do governo de estimular o consumo interno para depender menos do mundo, e, em parte, foi outro esforço do governo para manter a economia crescendo, aumentando o investimento em infraestrutura, mesmo que ela não seja necessária. São frequentes as notícias de cidades fantasmas, elefantes brancos, prédios vazios construídos nos últimos anos para manter a máquina de construir funcionando. Foi ótimo para o Brasil e as nossas exportações de commodities, mas a China terá que, em algum momento, fazer um ajuste.
Os novos dirigentes do país estão avisando que anunciarão reformas para enfrentar os riscos criados por esse crescimento mantido através de muito investimento e muito endividamento. Esse número, de 200% do PIB, é imenso e pode não ser tudo. Há uma parte da contabilidade do sistema bancário que permanece na sombra.
No que nos diz respeito, tudo o que acontece por lá é importante. A China é nosso maior comprador e com ela temos um enorme superávit. Nossas exportações estão muito concentradas em commodities e se houver redução de investimento em infra-estrutura pelo menos o minério de ferro deve sofrer. As commodities agrícolas continuarão sendo compradas pelos chineses.
O chefe da divisão do FMI que cuida de China, Steven Barnett, disse que o crédito para consumo, ou o crédito tomado para investir, acaba ficando ineficiente com o passar do tempo como estratégia para impulsionar o crescimento. A partir de um certo ponto, o que acontece é o crescimento do risco.
A China continuará crescendo a taxas que todo o mundo inveja, mas tem acumulado desequilíbrios muito grandes. E são esses que preocupam, e não uma redução de 0,1 ponto percentual na taxa anual de crescimento ou de 0,3 no ano que vem. Como a China vai consertar a turbina mantendo o avião em pleno voo?
Segundo o “FT”, uma das diretrizes que buscam no novo modelo de crescimento a ser anunciado no próximo congresso do Partido Comunista, em novembro, é a mudança para um modelo menos polui-dor, mais balanceado e mais sustentável. Um dos objetivos é fortalecer mais a economia de serviços.
Como a China é um regime fechado, fica sempre a suspeita de que não foi dita toda a verdade. E é por isso que o salto de endividamento de 130% do PIB para 200% em cinco anos assusta muito. É que ele pode ser ainda maior, se tudo o que está na sombra for contabilizado.
21 de janeiro de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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