"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

BRASILEIRO BONZINHO


Recente pesquisa de opinião pública apontou expressiva aprovação do governo Dilma. Números expressivos e pró-governo já haviam ocorrido nas gestões Lula, Fernando Henrique e de outros governantes. Invariavelmente, institutos de pesquisa apontam elevados índices de aprovação.

Claro que, espertamente, as pesquisas de opinião sempre são realizadas imediatamente após algum anúncio de benefício popular, em rede obrigatória de televisão, seja governamental ou partidária.

Entretanto, as mesmas pesquisas apontam índices negativos nas áreas de educação (58%), segurança pública (70%) e saúde (72%), principalmente. E nem falamos de taxa de juros e impostos. Ironicamente, os brasileiros aprovam os governantes - presidente e governadores, especialmente, mas reclamam de tudo. Com razão. Afinal, o que funciona, o que está bem?

Trata-se, pois, de uma profunda contradição. Aprovam alguns atos de governo e a presidente, mas reclamam (repito, com razão!) da saúde, da educação, da segurança, da situação das estradas, da crescente inflação, dos níveis de corrupção governamental etc., entre outras queixas. E nem falei do crescimento medíocre do Produto Interno Bruto nacional, o pior disparado entre os países ditos emergentes.

Ora, se reclamam de tudo, não há responsabilidade do chefe e sua equipe? É como se os sócios de uma empresa com indicadores econômico-financeiros ruins, queda de faturamento e lucros, trabalhadores insatisfeitos, salários atrasados, dívidas em crescimento, consumidores reclamando, continuassem elogiando e mantendo seu gerente, com altos índices de reconhecimento e expressivos salários.

Se o quadro geral de precariedades dos serviços públicos e as denúncias de corrupção não sensibilizam a opinião pública e a popularidade da presidente continua subindo, talvez a explicação possa estar na falta de qualidade da oposição e na prática do denuncismo, na judicialização da política e na falta de projeto alternativo (agenda positiva) de governo.

Mesmo assim, suponho que a melhor explicação para a contradição que as pesquisas apontam ainda é o conformismo e a condescendência do brasileiro bonzinho, temperado com o culto ao personalismo e voluntarismo presidencial.


18 de dezembro de 2013
ASTOR WARTCHOW, Zero Hora

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