- Na velha Lapa do Rio, o poeta Manuel Bandeira só via o beco :
- “O que eu vejo é o beco”.
Em Santiago, no Chile, há um beco histórico, de nome estranho :
- “El Rincon de los Canallas”.
Numa rua pobre, ao lado do palácio La Moneda, em um beco meio escuro, embaixo de um velho edifício enegrecido, coberto de grafites pelas paredes, há uma escondida campainha ao lado de uma porta suja.
Para entrar, você tinha que tocar a campainha e saber a senha.
Lá de dentro perguntavam:
- “Quien vive, canalla”?
- “Chile libre, canalla!”.
RESISTÊNCIA
Um dia, a policia chegou e levou todo mundo.
Eram sobretudo jornalistas. Eles insistiam. A policia voltava e 68 vezes prendeu “canallas”. À medida que a ditadura se enfraquecia, os “canallas” se multiplicavam.
E iam dando aos pratos nomes políticos :
– “Vietnamita” (pernil em homenagem a uma bomba jogada contra um tanque militar), “Atentado” (para o frustrado atentado ao general Pinochet), “Punta Peuco” (uma prisão), “Vitalício” (quando Pinochet se tornou senador vitalício).
Ainda lá estão fotos de desaparecidos, poemas, canções e manifestos e muitas frases nas paredes, dentro e fora:
-”É perigoso saber, irmão”.
– “O que você disse ontem continue dizendo amanhã”.
– “Amanhã é tarde demais”
– “Agora, ninguém é culpado”.
– “A verdade tem sua hora”.
– “Só tenha medo de não avançar”.
– “O amanhã será dos livres. Ninguém será esquecido”.
PINOCHET
Em novembro de 2005, voltei lá para as eleições presidenciais que elegeram a socialista Michele Bachelet. Por mais que o pais fizesse força para enterrar o passado, esquecer, a historia é implacável. A toda hora ela se levanta e grita. A cada noite chegavam velhas e novas historias no “Canallas”.
1 – Em 1991, o bispo Sergio Valech, “El Vicário de la Solidariedad”, descobriu e denunciou 108 túmulos, com 126 desaparecidos, no Cemitério Geral de Santiago. A então ministra da Justiça, Soledad Alvear, mandou o Instituto Medico Legal identificar os corpos para enterrarem. Os exames de DNA descobriram que estava tudo errado. O IML “misturou” tudo e as famílias enterraram os mortos dos outros pensando que eram os seus.
2. – Em 7 de setembro de 1986, houve um atentado contra o ditador Pinochet. Ele se livrou, mas morreram cinco oficiais de sua guarda pessoal. O chefe do batalhão, coronel Juan Mac Lean Vergara, ficou ferido.
3. – O Senado dos Estados Unidos divulgou a lista de oito militares chilenos, da confiança e guarda pessoal do general Pinochet, cujas contas nos Estados Unidos Pinochet e a mulher usaram para transferir milhões roubados do Chile. E o principal era exatamente o coronel-chefe Juan Mc Lean Vergara.
4. – Em longa entrevista aos jornais, o coronel Vergara disse que o dinheiro não era dele, que nunca falsificou a assinatura da mulher de Pinochet e que o general usou indevidamente sua conta para mandar dinheiro para fora, inclusive um cheque falsificado de US$87 mil, que não foi por ele assinado.
Façamos justiça aos generais-presidentes brasileiros. Nenhum foi assim.
BACHELET
- “Bancada no Congresso é Obstáculo Para Bachelet – Favorita no 2º turno no Chile, esquerdista não garantiu maioria para, se eleita, reformar Constituição – Sem Maioria, Bachelet Já Busca Alianças no Congresso do Chile – Esquerdista precisará de independentes para reformar Constituição”.
Para “O Globo”, Bachelet perdeu as eleições. A “Folha” desmentiu:
1- “Centro-Esquerda Amplia Maioria na Câmara e no Senado Chilenos -
Os socialistas são os grandes vencedores nas eleições legislativas do Chile. – A coalizão da ex-presidente e candidata Michelle Bachelet ganhou 11 cadeiras na Câmara e uma no Senado, passando de 20 para 21 senadores”.
2. – “Na próxima legislatura, os socialistas terão na Câmara 68 deputados, contra 48 da aliança do presidente Sebastián Pinera, que perdeu 7 assentos na Câmara e manteve seus 16 senadores”.
3. – “Direita Sofre Derrota nas Eleições do Chile – Bloco de centro -esquerda de Bachelet amplia maioria na Câmara e no Senado no pleito de domingo – Políticos direitistas não souberam lidar com o tema da desigualdade social, muito explorado na campanha opositora”.
Há o bom “Rincon de los Canallas” e a má Imprensa “de los canallas”.
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