Deve-se ao desenvolvimento de remédios e terapias, a partir de experimentos científicos em laboratórios com o uso de animais, parcela considerável do exponencial aumento da expectativa e da qualidade de vida em todo o mundo.
É extensa a lista de doenças que, tidas como incuráveis até o início do século passado e que levavam à morte prematura ou provocavam sequelas irreversíveis, hoje podem ser combatidas com quase absoluta perspectiva de cura.
Embora, por óbvio, o homem ainda seja vítima de diversos tipos de moléstias para as quais a medicina ainda não encontrou lenitivos, a descoberta em alta escala de novos medicamentos, particularmente no último século, legou à Humanidade doses substanciais de fármacos, de tal forma que se tornou impensável viver sem eles à disposição em hospitais, clínicas e farmácias.
A legítima busca do homem por descobertas que o desassombrem do fantasma de doenças que podem ser combatidas com remédios e, em última instância, pelo aumento da expectativa de vida está na base da discussão sobre o emprego de animais em experimentos científicos. Usá-los ou não é um falso dilema, a começar pelo fato de que, se não todos, mas grande parte daqueles que combatem o emprego de cobaias em laboratórios em algum momento já se beneficiou da prescrição de medicamentos que não teriam sido desenvolvidos sem os experimentos nas salas de pesquisa.
É inegável que a opção pelo emprego de animais no desenvolvimento de fármacos implica uma discussão ética. Mas a questão não é se o homem deve ou não recorrer a cobaias; cientistas de todo o mundo, inclusive de países com pesquisas e indústria farmacêutica mais avançadas que o Brasil, são unânimes em considerar que a ciência ainda não pode prescindir totalmente dos testes com organismos vivos, em razão da impossibilidade de se reproduzir em laboratório toda a complexidades das cadeias de células.
A discussão que cabe é em relação à escala do uso de animais, ou seja, até que ponto eles podem ser substituídos por meios de pesquisa artificiais, e que protocolo seguir para que, a eles recorrendo, lhes seja garantido o pressuposto da redução (ou mesmo eliminação) do sofrimento físico.
Há em todo o planeta normas que precisam ser obedecidas para minorar nos animais as consequências dos testes em laboratório. No Brasil, a chamada Lei Arouca, de 2008, e organismos como o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), conselhos de veterinária e os Comitês de Ética no Uso de Animais regulamentam as atividades de laboratórios, universidades e centros de pesquisa, de modo não só a assegurar que as cobaias não sofram desnecessariamente, como até mesmo a reduzir ao máximo o seu emprego.
A recente invasão de um instituto de pesquisa por um grupo de radicais defensores dos direitos dos animais trouxe de volta à discussão o uso de cobaias. Mas não dentro do foco com o qual a questão deve ser analisada, e sim por um viés irresponsável e utópico. Ações assim não trazem contribuição ao debate. Antes, o desservem.
21 de novembro de 2013
Editorial O Globo
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