Ministra da Justiça italiana tem outras preocupações no momento; Anna Maria Cancellieri é acusada por tráfico de influência
O governo italiano mantém o silêncio sobre a fuga do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, condenado pelo mensalão. E só deverá se pronunciar publicamente quando receber o pedido de extradição ou algum comunicado oficial do governo brasileiro — o que, até o momento, não aconteceu.
— Nada a declarar hoje. São questões delicadas, precisamos de alguns dias. Tente amanhã — respondeu um porta-voz do Ministério da Justiça italiano, que há três dias usa variações da mesma frase a todos os jornalistas que ligam buscando uma reação oficial do governo.
A ministra da Justiça italiana que vai lidar com o caso Pizzolato, Anna Maria Cancellieri, quase caiu do governo esta semana, sob acusação de tráfico de influência. O Movimento 5 Estrelas, que se tornou uma das maiores forças políticas da Itália, propôs uma moção de desconfiança contra Cancellieri — isto é, sua saída do governo — alegando que ela se empenhou para tirar da prisão Giulia Ligresti, filha do magnata Salvatore Ligresti, seu amigo.Os porta-vozes do primeiro ministro Enrico Letta também não quiserem falar sobre o assunto, e justificaram a recusa em se pronunciar sobre o caso afirmando que a bola está com o Ministério da Justiça. Desde que a fuga foi revelada, a Itália, mergulhada numa crise econômica e política, não reage. Não apenas porque o assunto é delicado (Pizzolato, para a Itália, é italiano), mas há outro motivo: o fugitivo ítalo-brasileiro, neste momento particularmente conturbado para a Itália, não é prioridade.
A ministra garantiu sua permanência no governo nesta quarta-feira: por 405 votos contra moção e 154 a favor, a Câmara dos Deputados da Itália rejeitou a proposta para derrubá-la, depois de ouvir as explicações da ministra.
O caso Pizzolato passou despercebido no país também por conta de outra polêmica envolvendo o governo italiano: a contestada construção de um trem-bala entre Lyon, na França, e Torino, na Itália. Enquanto o presidente francês, François Hollande, participava de uma reunião de cúpula em Roma, alguns pontos do centro histórico da capital se transformaram numa praça de guerra com violentos confrontos entre manifestantes e policiais. Resultado: oito feridos, dos quais seis policiais, um manifestantes e um militante do Partido Democrático.
Pizzolato pode se beneficiar dessas confusões e de uma complicada trajetória de trâmites burocráticos. O governo brasileiro, para pedir a extradição de Pizzolato, terá que percorrer um sinuoso trajeto no Brasil, que inclui a tradução para o italiano de milhares de páginas do processo do mensalão. Pizzolato teria fugido para a Itália há 50 dias, apostando na força de uma constituição italiana que torna praticamente impossível a extradição de italianos.
Itália não vai se vingar do caso Battisti, diz senador
O terreno, agora, está fértil para especulações. Nesta quarta-feira, o senador ítalo-brasileiro Fausto Longo fez uma breve intervenção numa comissão de indústria, comércio e turismo do Parlamento, comparando o escândalo do mensalão no Brasil ao caso “Mani Pulite“ (Mãos Limpas), de combate aos mafiosos na Itália. Lembrando que Pizzolato foi condenado a 12 anos de prisão por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva, o senador defendeu uma decisão técnica para o caso, sem repetir “atos políticos” como o do Brasil, que negou a extradição do terrorista italiano Cesare Battisti.
— Se engana quem presume que a Itália possa responder com atos políticos, como ocorreu no caso Battisti. Em algumas declarações acaloradas, políticos do Brasil defenderam a ideia de que a Itália poderia negar a restituição de Pizzolato à Justiça brasileira para se vingar (do caso Battisti) — disse o senador.
Ele assegurou que o governo italiano não deverá se comportar da mesma forma que o brasileiro
— O governo da Itália, razoavelmente e provavelmente, não se comportará de forma diferente, dificultando um pedido de extradição da parte do Brasil – disse o senador Longo.
Não houve discussão após o discurso de Fausto Longo.
21 de novembro de 2013
DEBORAH BERLINCK - O Globo
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