"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 5 de outubro de 2013

CARTA ABERTA AO POVO BRASILEIRO, ANALFABETOS E LETRADOS

 

“É difícil educar as pessoas mais velhas. É um desafio importante. O Brasil tem o ‘Brasil Alfabetizado’. Desde o tempo do Mobral, é uma coisa difícil. É mais difícil quando a população pobre, analfabeta, começa a viver mais. Os pobres estão tendo um salto de anos de vida, de expectativa de vida. Antigamente, o analfabeto pobre morria mais cedo. Agora, vive mais. Fica ali pesando na estatística da taxa de analfabetismo”, Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri

Falar o quê sobre essa descabida justificativa?
Eu sugiro aos (ir)responsáveis que se deleitam em criar novos Ministérios, que deem a esse senhor a pasta do Ministério da Falta de Escrúpulos.

É bem certo que candidatos ao cargo não faltarão, visto que, dentro dessa máquina política, a disputa por quem produz mais aberração é algo imensurável.

Se de um lado temos os magníficos pesquisadores trabalhando por uma melhor qualidade de vida e, consequentemente, propiciando uma longevidade ao ser humano, do outro temos seres como o autor das palavras que iniciaram esse artigo, abusando da ignorância do próprio povo que os sustenta.

É sabido que não há o menor interesse dos ilustres políticos em criar uma sociedade pensante. Já escrevi muito sobre isso: seres pensantes vão questionar e a possibilidade de corruptos se manterem impunes. Já pensaram o trabalho que teriam?

Para começar, talvez se preocupassem com o que falam. Provavelmente se ocupariam mais, utilizando o tempo para pensar em novas estratégias de manipulação. Respostas como essa que esse senhor, muito atrevido e abusado, ousou dar diante da estagnação do índice de analfabetismo no MEU PAÍS, provavelmente lhe custariam o cargo.

Vejamos sua justificativa: “É difícil educar as pessoas mais velhas”. Concordo em parte, apenas e tão somente no caso dele e no de seus colegas: não aprenderam, ao longo da vida, valores importantes para gerenciar uma nação. Agora é tarde! Mas o mesmo não vale para os que envelhecem com dignidade, com princípios éticos como transparência e verdade. Para esses, a idade é uma vitória.
Um triunfo para a honra. Quando dormirem o sono eterno, serão lembrados pela decência, enquanto outros tantos deixarão um mar de lama saindo da própria cova.

O idoso aprende sim. E justo no dia do idoso, esse senhor faz essa declaração! Ai, estou com vergonha alheia pelas suas palavras. O idoso aprende quando ensina, quando relata sua trajetória, quando enxerga o que o jovem ainda não tem maturidade para ver.

“Desde o tempo do Mobral é uma coisa difícil”. Ele não tem a menor ideia do quão difícil é encarar o governo que nos fazem engolir. Se é difícil alfabetizar desde então, por que não se empenharam em alfabetizar as crianças? Por que insistem em manter adultos analfabetos? Ser alfabetizada me permite pensar e, no momento, pensar me mantém indignada pela cara de pau daqueles que deveriam ter a cara de cristal, límpida e transparente.

“É mais difícil quando a população pobre, analfabeta, começa a viver mais. Os pobres estão tendo um salto de anos de vida, de expectativa de vida. Antigamente, o analfabeto pobre morria mais cedo. Agora, vive mais. Fica ali pesando na estatística da taxa de analfabetismo”. Essas palavras lhe renderiam a prisão, se eu tivesse o poder para tanto! Isso é crime, Sr Ministro. É matar a honra de pessoas que, como eu, lutam para fingir que os senhores não falam tantas aberrações. É matar e degustar cada célula dos decentes.

O rico pode viver mais e o pobre não? É isso? Suas palavras me dão o direito de pensar isso. Quer dizer que a culpa é do pobre? Mas que país é esse?
Esse pobre que esse senhor culpa pelo alto índice de analfabetismo é aquele que vota. É tão somente por ele que esse governo corrupto se sustenta; é o toma-lá-da-cá: fique quietinho que lhe damos as bolsas-tudo, mas vote em nós!

Mas culpar o pobre pelo plano desse governo incompetente é crime! É matar a dignidade do povo.
Ah! Se eu encontrasse a lâmpada de Aladim hoje, meus pedidos seriam:
- paz mundial
- planeta alfabetizado e informatizado
- prisão perpétua para palavras e atos contra a dignidade humana

Como veem, se dependesse de mim, esse senhor estaria atrás das grades, junto com todos os outros que se safaram pela pobreza e pelos erros das nossas leis.
Sabem o que pesa na estatística do analfabetismo? O pouco caso que os políticos inisitem em manter com a população, com a Educação.
Vou procurar saber em qual escola se formaram, apenas para me juntar aos seus mestres que, provavelmente, de onde estiverem, estão com a mesma vergonha alheia que eu. Coitados. Esses senhores nem sonham o trabalho que nós, educadores, temos para formar pessoas. E muito menos imaginam o quanto dói perceber que alguns se desviaram. Trabalho perdido?
Lamento muito que esses corruptos não façam parte dos pobres que, segundo as “brilhantes” palavras do Sr Ministro, prejudicam a estatística. Talvez ao menos fossem humildes!

Até quando teremos de conviver com absurdos batendo na nossa cara? Está tão claro o por quê do Brasil estar sempre nos últimos lugares em ranking sobre Educação.
Precisamos cuidar das nossas crianças, oferecer-lhes escola, ensino, socialização, para que tenham a perspectiva de um futuro, para que possam sonhar com a possibilidade de uma vida adulta digna, sem que seja necessário ganhar alimentação em troca de votos. Isso não é dignidade.

Perguntem a um analfabeto se é bom sê-lo, se perdeu oportunidades na vida pela falta de estudo.
Não é o pobre que pesa na estatística. É a incompetência e o desrespeito de políticos que não se importam com o povo, apenas consigo mesmo.

05 de outubro de 2013
Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog

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