"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

SOBRE PALAVRAS

‘Botar a mão no fogo’ nasceu de uma tortura medieval


“De onde veio a expressão ‘botar a mão no fogo por alguém’?
Acho estranha, considerando que quem bota a mão no fogo vai sempre se queimar.” (Antonia Marinho)
O grande pesquisador da cultura brasileira Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) liga a expressão “botar a mão no fogo” a uma tortura medieval – ou não propriamente uma tortura, em sua intenção declarada, mas uma prova a que se submetiam os réus, embora o resultado terminasse sendo o mesmo.
Passo a palavra a Câmara Cascudo, em seu livro “Locuções tradicionais do Brasil”:
Quem alegava inocência submetia-se a pegar numa barra de ferro aquecida ao rubro e caminhar com ela na mão por alguns metros. Envolvia-se a mão em estopa, selada com cera, e três dias depois abria-se a atadura. Se a mão estivesse ilesa, sem sinal de queimadura, era evidente e provada a inocência. Se tivesse queimadura, provada estava a culpabilidade e era imediata a punição pela forca.
O maior requinte de crueldade dessa prática medieval – uma entre tantas numa época especialmente imaginosa na indução de sofrimentos atrozes – era, claro, o fato de que todos os que a ela se submetiam saíam queimados. Como observa Antonia, o fogo (ou o ferro em brasa) não faz distinção entre inocentes e culpados.

De todo modo, o pesquisador cita o caso famoso de uma senhora portuguesa chamada Marina, “esposa de Estêvão Gontines”, que em 1324, acusada de adultério, teria conseguido agarrar o ferro em brasa sem nada sofrer. Ou assim corria a lenda, que no século XIX inspirou o romance “Balio de Leça”, do escritor português Arnaldo Gama.

Firmada desse modo a associação entre a inocência e a blindagem contra queimaduras, foi preciso apenas ampliar um pouco o sentido da expressão. A ausência de culpa própria se estendeu à ausência de culpa alheia, e “botar a mão no fogo” por alguém passou a ser uma forma de protestar confiança cega na inocência ou nas boas intenções de tal pessoa.

*
06 de setembro de 2013
Veja.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário